A minha Meredith não poderia chegar no momento mais oportuno. A cara de espanto que o Faisal fazia ao contemplá-la, era impagável!
— Q-querida…
— Wow! A Sherine! O que aconteceu com ela?! — Ela correu em direção à empregada desacordada e deu uns tapas nas faces dela para despertá-la. — Sherine! Acorde!
— Eu explico ou você explica, Faisal? —sorri maliciosamente e Meredith deixou a tal da Sherine, olhando para mim.
— Se não estou em engano, você é aquele mendigo…
— Eu mesmo! — sorri.
— Faisal… — Ela direcionou os seus olhos para ele. — O que está acontecendo aqui?
— Q-querida, é que…
“Agora quero ver o que você vai inventar.”
— Uma abelha!
— Uma abelha?
— É… Acontece que uma abelha invadiu a sala e…
“E lá vem o drama.”
Ele colocou a mão na testa, contorcendo os seus traços em uma expressão triste:
— Sherine acabou sendo atacada brutalmente por aquele inseto! Nós batalhamos e por fim… — Ele apontou para o pequeno lago de vinho que eu havia derramado. — Vencemos!
— Uma abelha fez isso tudo?
Os olhos da Meredith varriam toda sala, seu semblante era carregado de descrença.
— Minha querida, não subestime a força de um inseto.
“Sério, quem acredita nisso?!”
— Ok, mas e eles? — seus olhos azuis voltaram-se para nós. — O que eles fazem aqui?
— Ah, eles vêm formar uma parceria comigo.
“Essa cara tem resposta para tudo. Tudo está na ponta da língua.”
— Com um mendigo? — Ela ergueu uma de suas sobrancelhas, duvidosa.
— Querida, o homem que aqui vê quer abrir uma loja de roupas.
— O que!?
— Você quer abrir uma loja de roupas? — questionou Zernen, olhando para mim.
— Eu? Eu não!
— Ah, é mesmo… — Faisal estalou os dedos. — É uma loja de armadura! Isso! Armadura! — E começou a rir, colocando a mão sobre a testa. — Ah, a minha cabeça!
— Já chega — disse Meredith e Faisal arregalou os olhos. — Chega dessa palhaçada. Me diga a verdade!
— Mas essa é a verdade, não é, senhores? — questionou Faisal com o rosto todo tomado por suor enquanto tremia a sua mão.
“Bem, vou só entrar nesse teatrinho dele, afinal não sei o que vai acontecer caso ela descubra agora quem o seu noivo é de verdade. E além disso, a minha declaração sobre os três dias perderia toda credibilidade.”
— Ele está certo. — Balancei a cabeça positivamente. — Viemos a negócios!
— Você há pouco era um cara que pedia esmola e agora está fazendo negócio com nobres? Quem acredita nessa história?!
— Para falar a verdade, eu estava te testando para ver se você tinha carácter e aquelas palavras… — Pressionei a mão contra o peito. — Tocaram o meu coração…
— O que? Eu só disse para você trabalhar honestamente.
— Exatamente. — Estalei os dedos, sorrindo. — Esse seria o tipo de coisa que uma mulher da sua classe diria, Milady.
— Você é louco. — Ela fez uma cara de reprovação para mim e olhou para o seu noivo. — Mande chamar alguém para vir buscar a Sherine.
— C-claro. — Seu noivo caminhou até a porta e gritou pelo nome de um tal de Charles, que não tardou em aparecer para recolher a Sherine.
— E-E, você, querida… O que veio fazer aqui?
— Já se esqueceu que amanhã eu estarei viajando para a capital de Hengracia?
— Ah, sim. Você já tinha me informado sobre isso antes de ontem.
— Sim, por isso vim ver o meu maravilhoso noivo antes de viajar amanhã! — ela sorriu, batendo levemente no ombro do seu noivo.
— B-bem, você poderia esperar lá no meu quarto? É que agora estou no meio das negociações.
— Por que? — Ela se sentou no sofá. — Eu também quero participar das negociações.
“Isso mesmo, Meredith.”
— M-Mas, querida…
— Não se fala mais nisso.
Faisal veio sentar enquanto enxugava seu suor com um lencinho.
— Então, estávamos falando sobre o que mesmo?
— Armaduras. — Segui o teatrinho.
— E que você iria financiar 1000 moedas de ouro por mês, não é mesmo? — Zernen olhou para mim com um sorriso no rosto e eu balancei a cabeça afirmativamente:
— Hum, verdade.
Faisal franziu suas sobrancelhas, mas quando Meredith olhou-o, ele logo desfez aquela expressão furiosa, dando um sorriso forçado.
— Eu só quero ver de onde você vai tirar esse fundo mensal, Faisal — disse Meredith, pegando aquela garrafa de vinho e a taça dourada.
— Meredith, esse vinho não…
“Hum, parece que o feitiço se virou contra o feiticeiro. Caso a Meredith morra, você será lançado na forca, não é mesmo? E sua família sofrerá pena severa por parte do rei!”
— Por que não? — Meredith apenas entornava o vinho. — Você sabe que eu adoro vinho!
— Acontece que… que…
— Que?
— Este vinho está fora do prazo!
— Hum… — Ela rodeou a garrafa, contemplando o rótulo dela. — Mas aqui diz que vai acabar daqui a 2 anos.
— Ah, é mesmo? — Faisal deu um sorriso torto.
— Você é muito distraído, Faisal! — Ela elevou a taça de vinho a boca.
— Aí, essa mulher… — Zernen sussurrou, olhando para mim de relance.
— Você consegue usar sua força invisível para quebrar a garrafa?
— Claro. — Ele balançou a cabeça positivamente.
— O que vocês estão sussurrando aí?— questionou ela. — Querem também?
— Q-querida, veja bem… Da última vez que você bebeu foi uma zona. Então…
— Não se preocupe, eu sei me controlar. Serão dois goles apenas.
Quando a taça estava prestes a tocar o seu lábio, a garrafa de vinho quebrou em estilhaços de vidros e pelo susto, Meredith deixou cair a taça no chão.
— Ah, o meu vinho…
Um lago carmesim se formava naquele chão prateado.
— Não se preocupe, querida — Faisal sorriu. — Eu mando trazer um saudável para você!
“Esse cara…”
— Vai mandar trazer um sem álcool, né?
E a Meredith boba não percebeu o que aquele noivo dela estava dizendo.
— Você sabe que eu não gosto de vinhos desse tipo.
— Senhores. — Tossi, colocando o punho contra os lábios. — Devo lembrá-los que não tenho todo tempo do mundo.
— Hum, você tá agindo bem diferente daquela vez.
— Impressão sua. — sorri.
— Isso. Se não o meu avô vai me espancar se eu chegar tarde demais!
“Parece a minha mãe aí.”
— Certo, cavalheiros — disse Faisal. — Falemos de negócios!
E então, continuamos com aquele teatrinho barato de negociações para que Meredith não percebesse a nossa verdadeira intenção. No final, eu fiz o Faisal assinar um papel onde ele concebia uma renda mensal de 100 moedas de ouro para a suposta aquisição de materiais para armas. Quando na verdade, era para o meu uso próprio.
— Então, estamos encerrados — Faisal e eu demos as mãos. — Que possamos prosperar.
“Que eu possa, na verdade.”
— É… Sim… — Faisal deu um sorriso torto.
— Bem, vamos, Zernen. — Quando eu ia levantar, a voz de Meredith alcançou os meus ouvidos.
— Ei, posso ter um momento a sós consigo? — Ela centralizou os seus olhos severos em mim.
— Eu? — Apontei o dedo contra o meu peito.
— Sim, você.
“O que será que ela quer agora?”