— Não me faça rir!
Um sorriso largo surgiu nos lábios daquela mulher enquanto ela se levantava.
Ela literalmente estava duvidando da nossa capacidade de vencê-la.
— Vamos mostrar para ela a nossa incrível parceria, Zernen!
— Não sou de trabalhar em grupo, mas dessa vez abro mão do meu orgulho como guerreiro para trabalhar com o meu parceiro de negócios, então não me atrase, Jarves.
— Você é quem não deve me atrasar.
— Quanta tolice, morram!
Esticando uma das mãos, ela lançou bolhas de gosma que rasgavam o vento em um som sibilante. Movimentando nossos pés ali e para cá, como se fôssemos bailarinos, nos esquivamos e com um zás, punhos cerrados, iniciamos nosso contra-ataque.
“Nem acredito que Theresa guardou um pouco de poção para mim, então isso quer dizer… Se Theresa tomou a poção pela mesma boca, isso conta como beijo indireto.”
Olhei para Theresa por um instante com um sorriso.
— O que foi?
— Nada.
Toquei os meus lábios.
— Não querendo ser estraga prazer, mas eu tinha outra poção comigo guardada no jaleco, então não, não é isso que você pensa…
“Ah, Theresa, por que você tinha que estragar tudo?”
— Não pensei nada disso! Enfim, vou me concentrar na luta!
— Tá me atrasando, Jarves!
Zernen disse enquanto lançava seu soco invisível, que destruiu uma das gosmas que vinha até mim.
Formei uma esfera na mão e a levantei para cima, arremessando para aquela mulher que continuava mandando suas esferas de gosma.
— Pessoal, desculpem…
Olhei para trás, observando Meredith chorando enquanto segurava sua espada.
Seus irmãos também gritavam por ela lá, no fundo. A professora, emocionada, até limpava as lágrimas com um lencinho. O cara do gelo, que já estava cansado, agora estava sentado enquanto suspirava freneticamente.
— Meredith, não sei se eu já cheguei a dizer isso alguma vez, mas você é uma pessoa muito, mas muito especial para mim! Eu te admiro bastante!
Era o que eu costumava dizer quando a tela nos separava.
Meredith arregalou os olhos, corando ligeiramente.
— Para de bobeira, Jarves!
Zernen mais uma vez me defendeu de um ataque.
— Muito obrigada! Mas sabe quem também dizia essas palavras para mim….
— O seu pai!
Todos declararam em uníssono e depois começamos a rir. Nem parecia que estávamos em uma batalha de vida ou morte contra uma entidade muita mais forte que nós.
Mas uma das coisas que aprendi é que quando compartilhamos nosso fardo, tudo se torna tão leve, então mesmo em meio aos problemas podemos sorrir.
Parece que virei um cara motivacional, mas olha só…. Aquelas crianças que antes estavam apavoradas agora estavam com sorrisos nos rostos enquanto gritavam em torcida para que acabassemos com aquela monstra.
— Boa, Jarves!
Theresa elogiou, levantando uma esfera.
— Talvez deva considerar te tornar o meu aprendiz.
“Não, eu não quero virar médico não.”
— Ei, parem de papo furado!
— Vamos lá, pessoal!
Eu disse, batendo o punho enquanto Meredith se levantava para formarmos uma pose de batalha bem única enquanto encarávamos aquela mulher.
Theresa e eu carregamos uma esfera na mão enquanto Meredith centralizava a espada contra o rosto. Zernen estava com seus punhos cerrados.
“Aí, se eu tivesse uma câmera…”
— Malditos! Malditos! Como ousam acabar com o meu ambiente tenebroso?
— Você já não mete mais medo, Belia. Você será derrotada e fim de papo.
— Mexeu com o grupo errado — acrescentou Zernen.
— Eu sempre soube — Theresa reivindicou seus direitos.
— Para que a verdadeira gerente descanse em paz, você será eliminada!
Meredith avançou com a espada, mas com um sorriso malicioso, Belia estalou os dedos, ativando sua habilidade barriga gosmenta.
As paredes e o teto começaram a se aproximar de nós.
— Ajoelhem-se e peçam perdão, que eu quem sabe deixo ao menos um de vocês vivos!
Quando cansavam de fingir, essa era a personalidade arrogante que eles realmente mostravam.
— Que nada!
— Magia de cura!
— Magia básica!
— Esfera invisível!
— Magia de peso!
Levantamos nossos braços, formando esferas que se tornaram tão grande que destruíam e afastavam toda aquela gosma, tudo graças ao suporte que a esfera verde da Theresa dava.
Nossas esferas entraram em colisão e se fundiram, se tornando uma esfera esverdeada que agora era apoiada pela ponta da espada da Meredith.
“Então esse é o famoso poder da amizade…”
— Receba toda nossa força!
Meredith lançou aquela esfera gigantesca que rasgou o vento em sua rapidez e apagou toda gosma no seu caminho, iluminando o rosto apavorado que Belia fazia enquanto lançava gritos do tipo “Não, não! Não pode ser!
Aqueles gritos clássicos que qualquer vilão fazia quando estava prestes a ser destruído.
Só faltava uma musiquinha bem boa para acompanhar esse evento, cairia bem.
Um clarão tomou conta dos nossos olhos. Cobrimos o rosto, ouvindo uma explosão ressoar quando a esfera cintilante entrou em contato com Belia que estava bem perto da parede.
Quando abrimos nossos olhos, a luz do sol voltou a raiar sob o telhado que agora estava destruído devido à nossa junção de magia.
— Eu não aceito isso de jeito nenhum!
Lá estava ela com rosto e algumas partes do corpo dilacerados, mas que se regeneram com o passar do tempo.
— Dessa vez, eu irei acabar com todos vocês…
Ela ergueu as mãos para cima, gerando uma esfera violeta que brilhava intensamente. Era tão grande que lançava rajadas que destruíam algumas partes do cômodo.
“Se a gente tinha magia básica, por que eles não teriam, não é mesmo?”
— Adeus e até nunca!
Ela lançou aquela grande esfera. Contudo, ela pecou numa coisa… Em não conhecer bem os membros do nosso grupo.
— Vai que é tua, Zernen!
Zernen lambeu os lábios e se colocou contra a esfera enquanto juntava as mãos.
Belia arregalou os olhos, vendo aquela esfera sendo absorvida por Zernen.
— Impossível… O que você está fazendo? Pare!
— Parei!
Zernen disse isso depois de ter absorvido toda a esfera.
Belia suspirou de alívio, mas ela estava se adiantando cedo demais, porque o que vinha por aí era ainda pior.
— Primeiro o clarão.
Uma luz tomou conta dos nossos olhos.
— Não me diga que…
— Depois a explosãooooo!
— Não…
A cara da Belia foi a melhor, aquela de pavor enquanto o suor toma conta e o queixo caí.
Meredith, Theresa e eu recuamos, saltando rapidamente para cima de um dos edifícios que ficava a metros daquela onda de explosão que se propagou por aquilo tudo, destruindo de uma vez por toda aquela pousada.
As crianças já haviam sido evacuadas muito antes. Elas estavam em segurança lá, mais para trás de nós.
Depois daquele booom, vimos cinzas misturada com fumaça sobrevoando o vento enquanto um monte de coisas estava pegando fogo.
E, no meio disso tudo, nenhum rastro da Belia…
O que significou vitória completa, apesar de que…
“Ah, não, espera… ”
Acabei de me lembrar de que sem um corpo ela conseguiria sobreviver por alguns segundos em meio à luz, mesmo em sua forma espiritual.
Mas, pelo visto, eu estava me preocupando à toa.
A prova definitiva do nosso sucesso apareceu diante dos nossos olhos. No chão, havia uma escrita a cinza que surgiu perto do Zernen. Elas diziam “muito obrigada” e então voaram, levadas pelo vento.
— Conseguimos, pessoal!
Levantei o punho.
Zernen caiu no chão exausto. Theresa, Meredith e eu descemos contra o chão empoeirado e repleto de destroços.
Meredith correu até onde estavam os seus irmãos.
— Já agora, Theresa…
Nossos olhos se encontraram.
— E o Gaia?
Só lembrei agora que o Gaia existia. Sou um péssimo dono.
— A verdade é que o Gaia entrou naquele estado novamente. A quantidade de pedras de mana que dei é muito ínfima ao que um Golem normalmente consome.
Nem havia pensado nisso. Agora me senti culpado.
— Não me diga que você pensou que só algumas pedras de mana são o suficiente para um Golem? Isso é o equivalente a eu te dar uma semente para comer e te mandar trabalhar.
— Sinto muito.
Encurvei a cabeça.
— Comecemos por arranjar mil pedras de mana primeiro.
— Certo!
Levantei um dos punhos e Theresa deu um leve sorriso enquanto cobria os lábios com o punho.
Porém, nossa felicidade foi estragada quando certas pessoas apareceram por cima do telhado de uma das casas. Parece que eles nos alcançaram.
— Francamente, vocês são tão bagunceiros — disse a menininha de cabelo rosa.
— Fugiram, mas não por muito tempo. Preparem-se.
O cara das unhas batia o punho.
— Parece que estiveram envolvidos em uma batalha ou é impressão minha?
— Como vê… — respondi, olhando para Oceano. — Se eram reforços, então chegaram tarde. — Dei uma risada sarcástica.
— Bem, dessa vez, viemos em paz. O mestre chegou a um concesso com o Sr. Zestas e decidiu abrir um espaço para um diálogo com vocês. Então, se não for pedir muito, peço que nos acompanhe.
Ele deu um sorriso simpático.
“Ufa”, suspirei.
“Pelo menos não vamos batalhar mais.”
— Ainda bem, eu já não tinha mais força para vos enfrentar mesmo.
Zernen levantou o polegar, concordando comigo.
— E se não for pedir muito, peço que me carreguem.
— Não se preocupe, iremos até lá de teletransporte, embora vá demorar um pouquinho.
— Como assim? Teletransporte não é zás e pronto?
Ele riu e concedeu a honra ao dono da magia para que se explicasse.
— Minha magia de teletransporte é limitada em distância. Eu consigo marcar os lugares, mas em determinada distância, então eu tenho que teletransportar de forma faseada até chegar ao lugar que desejo. Serão no máximo 3 teletransporte e já estaremos lá.
— Oh, entendi.
— E outra, só posso teletransportar no máximo duas pessoas comigo, então alguns terão que esperar.
— Tá.
Quando eu disse isso, vi Meredith sair voando para o canto de uma parede e o punho do irmão dela estava erguido.
— Gael…
— O miúdo já se foi, quem fala agora é Belia. Pensaram que haviam se livrado de mim, pois sinto estragar vossa felicidade, mas estou de volta!
Quando e como ela havia feito a troca?
Não importa, essa mulher… Ela tinha que mexer logo com o irmão da protagonista?
— Hahahahah! Venham e me eliminem! Own, não podem, não é? Afinal, eu sou uma criancinha inocente que não tem culpa de nada, não é, maninha?
Meredith se levantou com os olhos arregalados.
— Maldita, saia do corpo do meu irmão! Se quiser, eu te dou o meu, mas deixa o meu irmão em paz!
— Para quê? Se posso ver você sofrendo, o que me deixa bastante feliz. E sabe o que me deixaria mais feliz…
— Crianças, afastem! — disse a professora, movimentando as crianças apavoradas para trás dela.
— Podem me explicar o que está acontecendo aqui?
— Não há tempo, pegue a criança! Ainda dá tempo de separá-la do corpo dele antes que ela o tome! Depressa, Oceano!
— Certo.
Oceano fracassou. Uma luz violeta refletida pelo corpo do irmão da Meredith tomou conta de todos, especialmente das crianças e da professora bem próximas.
— Adeus!
Um grande clarão cegou nossos olhos. Depois que aquilo cessou, todas as crianças haviam desaparecido com a professora e o seu marido.
— Escapou. — Oceano cerrou o punho ligeiramente, com um olhar calmo.
Meredith suspirou freneticamente com olhos arregalados, como se estivesse sendo afixada. Ela correu para onde estavam àquelas crianças e caiu de joelhos, gritando aos céus com os braços levantados enquanto lágrimas preenchiam seus olhos.
— Aaaaaaaaah! Devolve o meu irmãoooooo!
“Que droga!”
A situação havia se complicado.
“E agora?” Olhei para o céu, enquanto lágrimas desciam dos meus olhos. ” O que eu faço?”