— Poderiam me explicar o que está acontecendo aqui?
Oceano e sua analista pediam por explicação, mas ninguém naquele momento tinha forças para explicar nada… Meredith estava com os joelhos no chão, chorando, enquanto pressionava seu peito como se o quisesse rasgar.
Theresa havia desaparecido da nossa vista.
Zernen estava deitado no chão, com olhos nas nuvens do céu.
— Se não responderem, não tem como receberem ajuda.
— Ei, ei, ouviu?
Algo puxava a minha calça. Quando olhei para baixo, identifiquei uma baixinha de cabelo rosa.
— O Oceano está falando com você.
— O que você está fazendo aqui?
— Como assim, o que estou fazendo aqui? Te acordando para a realidade. Você é o único aqui em condições de explicar tudo o que está se passando!
— Ah, eu não sei de onde começar.
Minha cabeça estava doendo e eu estava sentindo xixi. Se isso continuar, acho que vou me mijar nas calças.
— Eu explico.
Ouvi a voz da Theresa vinda de trás ressoar pelos nossos ouvidos.
— A mulher que saiu correndo?
— Jarves, é melhor você ir fazer o que tem de fazer — Theresa afirmou.
E eu não sabia do que ela estava falando.
— Do que está falando?
— Deixa para lá. Enfim, acontece que…
Para que ficasse claro e não houvesse espaços para mais questões, Theresa deu uma explicação cronológica dos eventos, passo a passo, excluindo, é claro, alguns fatos desnecessários.
Depois de minutos explicando sobre tudo que sabia a respeito da profecia dada por mim sobre a destruição de Hengrancia, finalizou com o assunto da demonia que se disfarçava de gerente na pousada.
— Se aquela mulher está aqui e o selo ainda não foi liberado, então por que ela está aqui?
Oceano tinha razão.
Era a pergunta que todos nós não tínhamos a resposta.
— Volto já!
Saí correndo dali, não aguentava mais.
(…)
Quando voltei, minutos depois, pude ver Meredith tentando correr enquanto gritava: “Preciso salvar os meus irmãos” e, do outro lado, Oceano lançava palavras de apelo para que Meredith se acalmasse, mas ela não queria ouvir, tentava vencer a paralisia projetada pelo Oceano.
— Acalme-se, princesa — O cara das unhas disse. — Sempre achei que princesas fossem mais calmas.
— Sinto muito, mas vou ter que deixá-la inconsciente…
Oceano se aproximou da Meredith a passos lentos.
— Ei…
Coincidentemente, minha voz e a do Zernen ressoaram ao mesmo tempo. Ele se levantava, fazendo um olhar severo igual ao meu.
— Deixe ela avançar! Você não sabe a dor que ela está sentindo!
Concordei com o Zernen.
— Sem falar que não temos tempo a perder!
— Vocês são idiotas por acaso?
“Theresa, você não deveria estar do nosso lado?”
— Nem sabemos para onde as crianças foram levadas!
— É…
— Verdade.
Zernen e eu dissemos.
— Oceano, pode deixá-la, eu falo com ela.
Theresa aproximou-se da Meredith e pegou no seu ombro. No mesmo instante, a magia se desfez e Meredith caiu nos braços da Theresa, chorando desesperadamente.
— Calma, calma.
Ela afagava seus cabelos ruivos.
— E agora, o que faremos? — perguntei, viajando meus olhos por eles.
— Está quase anoitecendo, é melhor descansarmos e amanhã pensaremos em algo.
— Desculpa, Oceano, mas não há tempo para isso.
— Será que você não cansa de ser cabeça dura? — A baixinha me repreendeu. — Nunca vi ninguém tão idiota como você.
Dei um suspiro, ignorando aquelas palavras.
— Há um detalhe que vocês precisam saber. A verdade é que a criança que foi possuída não durará muito tempo até desaparecer e, mais, aquela mulher deve estar no nível de emergência S e conseguirá eliminar todo mundo facilmente. Eu sei que tempo é necessário, mas entendam a dor de uma irmã.
Eu falei de um jeito tão sério que todo mundo ficou sem palavras. Zernen começou a bater palmas silenciosas enquanto sorria levemente.
— Tá bom, hoje mesmo começamos a busca.
— Mas, Oceano…
— Frida, você tem um irmão, não tem?
O cara das unhas emitiu, trocando olhares com ela.
Frida apenas mordeu seus lábios.
Oceano olhou para o loiro de olhos castanhos, cujas vestes negras possuíam emblemas de raio.
— Rein, como você é um usuário de magia de teletransporte, consegue identificar para onde aquela mulher pode ter se transportado com as crianças?
— Claro, já até ia dizer. Aquela mulher está algures dentro daquela favela, talvez até no lugar onde jamais conseguimos encontrar.
— Aquele lugar, certo?
— Com licença, do que estão falando?
Me intrometi um pouco.
— Ah, sim. O lugar onde se esconde o bandido mais procurado de Hengrancia, não, eu diria do mundo!
— Bandido mais procurado do mundo… — Coloquei a mão no queixo e estalei os dedos quando veio à minha mente a pessoa de quem se tratava. — Por acaso, você está falando do rei dos bandidos?
— Sim, isso mesmo.
Oceano concordou comigo.
“Então quer dizer que ele está em Hengrancia atualmente? Interessante e apavorante ao mesmo tempo, já que esse cara possivelmente seja o mais forte de Hengrancia.”
— Talvez ele tenha alguma conexão com aquela mulher.
Oceano tirou as exatas palavras da minha boca.
Não seria surpresa se esse homem tivesse de algum jeito retirado aquela mulher do abismo e a trazido para superfície antes do tempo.
— Então, do que estamos a espera?
Zernen parecia mais animado.
— Rei bandido, seja lá o que for, eu irei acabar com quem tocar nos meus irmãos!
Por outro lado, Meredith estava em fúria.
— Rein, se teletransporte agora mesmo até o mestre da guilda e avise sobre essa situação.
— Espera um pouco!
Zernen esticou um de seus braços enquanto se levantava.
— Por favor, leve o meu baú consigo.
— Hã? Onde ele está?!
— Bem ali!
Com algumas lágrimas nos olhos, Zernen apontou para um baú em meio aos destroços, com algumas partes despedaçadas que deixavam escapar algumas moedas com rastros de queimadura.
— O meu dinheiro… — murmurou.
Rein foi até aqueles destroços, levantando poeira no processo. Quando pegou no baú, se teletransportou, deixando algumas moedas de ouro.
Zernen não perdeu tempo e foi recolher elas.
Não entendia essa fixação que ele tinha por dinheiro.
— Se esses dois estiverem trabalhando juntos, então podemos pegar dois numa só cajadada.
Voltei os meus olhos ao cara das unhas, que dava um sorriso largo.
— … Isso vai ser interessante.
— Não deveríamos esperar um pouco, a magia do mestre poderá facilitar e muito a nossa busca — Frida sugeriu, mas recebeu uma resposta curta e objetiva da parte do Oceano.
— Não há tempo a perder.
O céu agora estava estrelado, um azul noturno havia tomado conta.
— Vamos! — Com essas palavras ditas pelo Oceano, começamos a caminhar em direção à grande favela.
