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A noite abraçava a taverna escondida sob as ruas movimentadas da cidade, onde Natalya e Maria se encontravam longe dos olhares curiosos. O ar estava impregnado com o odor de tabaco e madeira velha, e o som suave de conversas murmuradas enchia o ambiente.

— Então, você conseguiu o que queria? — Maria perguntou, brincando com um copo de bebida.

— Sim, mas não foi um passeio no parque — respondeu Natalya, mostrando o pedaço vazio de seu braço em que sua mão deveria estar — Além de que você não é lá a mais barata das informantes. Bem, não tenho ninguém melhor nessa cidade isolada, então aqui está o prometido.

Um saco de dinheiro caiu em frente a Maria, fazendo-a soltar um pequeno grito de alegria. Recostando-se relaxadamente na cadeira, ela acenou para o garçom próximo, pedindo que trouxesse mais duas bebidas.

— Sabe, Maria, eu não gosto de você. A linha entre certo e errado é bem tênue no nosso meio, mas não saber onde você se posiciona sempre me incomodou.

A conversa entre elas oscilava entre o profissional e o perigosamente pessoal, revelando a teia de intrigas que se estendia além das paredes da caverna onde a batalha havia sido travada.

— Também não é como se eu gostasse de você — a mercadora suspirou, tomando um gole de sua bebida. — Mas você paga.

As mulheres observavam o fluxo do bar por um momento, a atmosfera carregada de expectativa.

— Eu contei para a Ana que foi você quem vendeu as informações da missão — Natalya falou casualmente, observando de relance a reação de Maria.

O rosto de Maria endureceu imediatamente, e seus olhos brilharam com uma mistura de raiva e medo.

— Você fez o quê? — ela cuspiu as palavras, sua voz trêmula de indignação.

— A missão de hoje vai trazer uma reputação ambígua para ela, vão ter muitos outros tubarões interessados na nova rainha de bronze que sobreviveu a uma sombra. Eu não posso deixar que você venda informações para eles, mas sei que fará isso.

Sem esperar outra palavra, Maria agarrou seu copo e o lançou contra Natalya, a bebida espirrando sobre o tecido luxuoso do casaco que a mulher de pele escura usava. Ela se levantou bruscamente, a cadeira rangendo ao ser empurrada para trás.

— Desgraçada louca! — gritou ela, antes de virar rapidamente e sair do bar, deixando um silêncio tenso em seu rastro.

Natalya, ainda sentada, enxugou calmamente o líquido de seu rosto com um lenço, um sorriso satisfeito desenhando-se lentamente em seus lábios. 


O amanhecer começava a tingir o céu de cinza e ouro fora da caverna. Após descansar por alguns minutos, Ana foi de encontro aos seus companheiros. Os raios de sol bateram em seu rosto, ofuscando sua visão por um instante antes de encontrar a mórbida cena que a esperava do lado de fora.

O grupo estava reunido em um círculo sombrio ao redor do corpo de Marina, coberto por um manto simples, mas com as marcas da batalha ainda visíveis em sua pele pálida. A fogueira estalava suavemente, lançando sombras dançantes sobre seus rostos sérios.

— Como ela está? — Ana perguntou, desviando o olhar da maga e aproximando-se de onde sua mãe jazia, ainda respirando mas perdida em um sono sem sonhos.

— Estável, por enquanto. Fizemos o que pudemos com os primeiros socorros, mas ela precisa de ajuda real que não podemos dar aqui — Alex levantou os olhos, sua expressão era sombria.

Ana assentiu, a gratidão misturada com frustração. Ela se ajoelhou ao lado de sua mãe, segurando sua mão fria, sentindo cada respiração fraca como uma contagem regressiva.

“Primeiro vamos resolver a situação por aqui. Aguente um pouco, mãe.”, ela caminhou de volta ao círculo, recebendo olhares sem esperança.

— Eu não entendo como ela pôde mentir para nós — lágrimas escorriam dos olhos de Júlia enquanto ela murmurava, mais para si mesma do que para o resto do grupo.

— Ela sabia que não havia como sobreviver a um ferimento assim, não aqui. — disse Ana, sua voz era firme, mas seus olhos revelavam a tristeza que sentia.

— Deixaremos a Marina aqui? — A voz de Alex tremia com a pergunta.

— Não temos como levá-la em nosso estado atual, o cheiro de sangue vai atrair ainda mais monstros. Mas vamos fazer direito, ela merece isso — respondeu Ana.

Um a um, eles ajudaram a construir um monte modesto de pedras e galhos secos para o funeral improvisado, colocando o corpo de Marina cuidadosamente no topo. Cada membro do grupo colocou uma mão sobre o monte, um momento de silêncio compartilhado.

— Marina foi mais do que uma companheira de equipe para nós — Ana começou, a tocha tremendo em sua mão. — Ela lutou ao nosso lado, riu conosco, e nos entreteu todas as noites com sua animada voz. Vamos lembrar dela como ela viveu, não como ela morreu.

Os outros acenaram, alguns com lágrimas nos olhos, outros com determinação estampada no rosto.

— Não vamos deixar que a morte dela seja em vão.

— Cada luta que enfrentarmos será um tributo a ela — Felipe adicionou, com uma voz firme

— Ela sempre será parte de nós, em cada passo que dermos. — Júlia concluiu.

Eles se sentaram ao redor da fogueira não acesa, dando lugar a um silêncio pensativo. Aos poucos, começaram a compartilhar histórias de Marina — momentos de bravura, de tolices, de bondade, sorriam com as lembranças das noites em que cantava canções do seu lar distante e a coragem com que enfrentava cada novo desafio. A noite passou com risadas e lágrimas, uma celebração da vida em meio ao luto.

À medida que o sol nascia, lançando um brilho alaranjado sobre o grupo, eles se prepararam para acender a pira. Com um aceno solene, Ana inclinou a tocha, as chamas rapidamente consumindo o monte, como se levassem as memórias de Marina para algum lugar além do alcance da dor e do sofrimento.

O ar frio da montanha carregava o aroma de terra fresca, misturado ao cheiro de fumaça que começava a se elevar. Sons suaves da natureza — o farfalhar das folhas, o chamado distante dos pássaros, o murmúrio constante de um riacho próximo — criaram um fundo orquestral para receber o tributo final à companheira caída.

— Nós vamos nos lembrar, sempre. — ela disse. Sua voz era baixa, mas carregada de uma promessa firme que atingiu o coração de todos.


Quando finalmente chegou a hora de partir, o sol estava alto, banhando o mundo em luz. Ana sentiu cada olhar sobre ela, esperando que ela desse o próximo passo e mostrasse o caminho a seguir.

— Vamos voltar para casa — ela disse, sua voz baixa mas resoluta.

O grupo acenou em silêncio.

O que era pra ser uma animada caçada na volta pra casa, transformou-se em uma jornada sombria, carregada de um silêncio reflexivo. A floresta por onde caminhavam parecia prestar homenagem à maga caída, com o vento sussurrando através das folhas e o rio murmurando suavemente ao lado do caminho.

Ana caminhava à frente, cada passo pesado ressoando no chão como um eco das decisões difíceis que tomara, seu coração pesado de incertezas e os olhos nublados pela dor não totalmente expressa. Ela sabia que o mundo não parava para seu luto e que o futuro exigiria ainda mais dela.


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