A primeira parte da aula passou rápido e, antes que percebesse, Óscar estava se dirigindo para o refeitório.
E claro, sendo seguido por Goda, que desenvolveu um afeto pelo rapaz.
Depois de pegar uma comida qualquer na cantina, Óscar buscou um lugar vazio e isolado, como de costume. Mas antes que desse conta, se viu indo até a mesa onde estava sentada Aka.
— hmm posso me sentar aqui? — perguntou, querendo criar intimidade com a garota
— Claro — respondeu a garota sempre cordial.
Tudo estava indo relativamente bem na percepção de Óscar. Mas como se fosse acertado na cabeça, se viu sendo empurrado por Goda, que havia feito um estranho alerta sobre a moça de cabelos avermelhados.
E de forma conturbada, uma mesa de 3 pessoas totalmente distintas se formou.
— Vocês entraram nessa escola esse ano também? — Aka puxou assunto.
— Sim, eu cheguei na cidade faz uns 2 meses, então me mudei de escola também — respondeu imediatamente o rapaz que havia sido capturado pelos encantos da garota.
Um silêncio apareceu. O sempre falante rapaz de sotaque diferente não abriu a boca para se gabar. Isso estranhou um pouco Óscar, mas não durou muito.
— Sim sim, eu também me mudei esse ano… — disse, de maneira seca
— Você não parece muito interessado em estar aqui, então por que se sentou? — disparou Aka, enquanto fitava profundamente Goda
— E deixar meu amigão aqui sozinho? Bah, acho que não.
Um clima tenso se mostrou entre os dois, e na cabeça de Óscar, ele só queria passar um tempo sozinho com a garota que havia o conquistado apenas com um olhar.
O resto do dia se passou dessa forma. Tirando o meio da aula, Goda e Aka mostravam claramente que não se deram muito bem.
Na saída restaram apenas os dois novos amigos, embora Óscar não tenha aceitado muito bem essa ideia.
— Até amanhã guri, e não esqueça meu conselho. A é — exclamou ele, se virando para Óscar — toma, é meu número. Me manda uma mensagem se quiser jogar ou se precisar de dicas pra chegar em garotas, hehe.
Enquanto tentava esquecer essa cena e pensando como alcançaria o coração de Aka, Óscar viu ao longe, encostada no muro, a jovem de cabelos escarlate.
— Ei, finalmente apareceu — chamou-o logo que avistou o rapaz.
— Estava me esperando? — Qualquer um se perguntaria a mesma coisa na situação do jovem.
— Bom, eu já estava cansada de ficar perto daquele cara, então se eu quisesse me despedir, esse seria o jeito, né?
Óscar não havia conversado com muitas pessoas, especialmente garotas, mas sabia que essa não era uma situação habitual. E mesmo que estivesse errado, decidiu se arriscar nessa situação.
— Umm desculpe se isso parecer invasivo ou estranho, mas o que acha de a gente sair qualquer… dia? — Óscar se embolou e até engasgou, mas conseguiu passar sua mensagem.
— Ah… Hmmn sair?? — A garota que sempre mantinha uma postura desafiante, corou. Se encolhendo e torcendo as coxas, não conseguia formular muito bem uma frase.
Achando que cometeu um erro, Óscar já tentou se redimir — Não se sinta pressionada! Na verdade, eu que sou um idiota. Foi mal pela ideia… — E logo quando estava se virando pra ir embora, sentiu a recém passada gola de sua camisa levemente enforcar seu pescoço. Era a garota o segurando.
— Eu… eu adoraria sair com você!! — respondeu em alto e bom som para a proposta do rapaz envergonhado, enquanto dava um longo sorriso.
Olhando aquela situação, Óscar só conseguia pensar em como ela era de fato linda, desde sua forma de falar, até seu jeito de agir. O rapaz estava terrivelmente apaixonado.
Ele havia sido fisgado em menos de um dia de interação.
Antes que ele respondesse, a garota lhe mostrou seu número para que ele a adicionasse aos contatos.
A cena durou menos de 2 minutos. Desde Óscar adicionando Aka ao seu celular, até a despedida desajeitada. Qualquer um que visse aquela cena de longe, gostaria de estar em outro lugar naquela hora. O ambiente exalava constrangimento.
Mas não para Óscar, para ele a cena foi mágica. Enquanto via a garota de costas ir embora, se sentiu bem como nunca havia sentido, e nem imaginava que tais sentimentos eram cabíveis de existência. E de forma semelhante à seu cabelo, as orelhas de Aka estavam visivelmente avermelhadas. Esse jeito conquistaria até mesmo um homem já amadurecido, então é claro que foi muito efetivo contra o jovem na puberdade e com suas emoções a flor da pele.
— tch… — Um estalar de língua foi ouvido ao longe, mas ambos os jovens já haviam partido para casa.
Uma figura que parecia um véu negro estava perto o bastante para ouvir toda a conversa, mas longe o suficiente para não ser percebido.
Em contraste com a escuridão do beco onde estava, seus cabelos desgrenhados eram ressaltados graças à cor marrom de suas pontas.
Da mesma forma que não foi percebido por Óscar, sumiu no escuro beco sem ser notado nem mesmo pelos gatos de rua. Era um profissional.
*****
Enquanto dobrava a esquina de casa, o jovem apaixonado se perguntava por que ficou tanto tempo sem se relacionar com as pessoas.
Seus pensamentos já estavam turvos pela noite de sono prejudicada. Graças ao sonho que teve, perdeu boas horas de descanso e por mais que seja um acontecimento recorrente, a carga horária da escola o deixou pesado. Ainda assim, se sentia energético pela forma como os acontecimentos se deram. Até esqueceu do aborrecimento causado por Goda.
Mas tudo isso passou no momento em que pisou em casa. Todas as luzes apagadas, exceto pelo abajur da cozinha, ele sabia o que significava. Andando trêmulo até o ambiente levemente claro, havia se esquecido de todo o sono que sentia alguns minutos atrás. Igualmente, havia se esquecido da felicidade.
A única coisa à sua frente era uma figura masculina que ele conhecera bem.
— Pai, estou em casa. — O homem era alto, cabelos uniformemente penteados para trás, barba feita. Estava usando um terno branco levemente amarrotado, indicando um dia cansativo de trabalho, ele tinha um olhar cerrado e rígido que mostrava sua vasta experiência de vida. Esse era o homem que Óscar chamou de pai.
Os pais do garoto nem sempre foram muito presentes, tanto pela profissão exercida, quanto pela própria escolha. A mãe de Óscar, Kana, é uma mulher aparentemente gentil, também alta, que seria tranquilamente confundida com uma atriz ou modelo. Mas tal qual sua gentileza, sempre negligenciou a criação de seus filhos em nome do trabalho.
Já Kaito, pai de Óscar, tanto quanto era gentil, era atencioso com seus filhos, isso até o sumiço de seu pai. Quando o avô de Óscar, John, sumiu, Kaito se perdeu. A gentileza e afeto se tornaram frieza, ele não perdeu seu carinho pela família, apenas perdeu a forma de demonstrar.
Em meio ao ambiente gelado, o homem começou a falar.
— As aulas começaram hoje então? Havia me esquecido — disse, enquanto servia uma xícara de chá jasmine a si e ao seu filho.
— Sim… — O garoto não é o mais falante entre as pessoas, mas quando na presença de seus pais, falava ainda menos.
— Isso é bom, se foque nisso, deixe a diversão de lado e estude, já que não vai ser um médico, faça algo no mesmo nível.
As palavras penetraram fundo no jovem, era como se facas estivessem sendo cuidadosamente sendo posicionadas ao redor de seu coração e a cada palavra de seu pai, uma das facas penetrasse o órgão vital. — Sim pai, farei isso…
Assim que respondeu o homem, bebeu seu chá e se dirigiu ao quarto.
Logo após fechar a porta, afundou no colchão, que naquele momento, parecia uma nuvem feita para massagear seus ossos compostos por metal. Seu corpo inteiro doía.
Já com os olhos entreabertos, olhou seu celular, especificamente seus contatos. Em meio a uma noite pesada, sorriu ao ver os dois contatos gravados, “Goda” e “Aka” eram os nomes escritos. Sem nem ao menos colocar músicas, adormeceu.
Naquela noite, Óscar não sonhou.