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Capítulo 1: A Teoria da Evolução

“Você… como coloco em palavras?… Já pensou sobre a evolução de um monstro?”

O homem perguntou para a figura distante envolta nas sombras, apenas uma questão retórica, ele não aguardava uma resposta. O responsável por essa indagação andava freneticamente de um lado ao outro animado com a ação de expor seus pensamentos há muito tempo guardados apenas para si mesmo. O manto branco ornado em detalhes de ouro balançava de um lado ao outro com seus passos, enquanto sua capa com um brasão de seis lanças cruzando um escudo esvoaçava com o seu andar.

“Todos sabem que monstros evoluem, é claro, as variações de aranhas mutadas podem se adaptar para novos tipos, um pequeno polvo dos mares de Queamno é capaz de se fortalecer até virar um kraken, serpes podem virar verdadeiros dragões e temos casos catalogados de ratos demoníacos se tornando reis da peste.” O homem fez uma pausa no seu longo discurso, passou sua mão sobre a longa barba branca que possuía notando que alguns detalhes precisavam de mais atenção “Eu aqui, é claro, excluí as espécies mais especiais, aquelas únicas que nem uma raça podem ser consideradas por haverem apenas um de cada, como aquele titã que desapareceu no exílio.”

Acentuados os pequenos detalhes, o homem percebeu estar cansado. Não importava o quão animado estava devido à chance de expor suas ideias, ainda era um idoso. Ele olhou ao redor, seus olhos vagando pelo laboratório que há décadas era o seu local mais precioso.

Uma câmara oval, feita de pedra marrom nos interiores de um castelo. Haviam mesas onde papéis com escritas e desenhos podiam ser vistos, lousas espalhadas com as mais diversas receitas e também prateleiras onde jarros de vidro com líquidos multicoloridos chamavam atenção. O ambiente tinha uma fraca iluminação, oriunda apenas de três tochas posicionadas em três cantos distantes um dos outros. 

O idoso foi até uma das mesas e sentou um pouco afastado do indivíduo que repousava nas sombras onde a luz não alcançava.

“Tudo isso leva ao tema de minha pesquisa, o que é claro, suponho ser a única razão para que continue me ouvindo.” Os lábios do homem em uma pronúncia lenta que denotava o quão divertida achava aquela fala, pronunciaram em alto som: “Quero falar de goblins.”

Um bufo profundo pode ser ouvido, um tom tão baixo e indiferente que não era possível dizer se foi feito por tédio ou desgosto com a frase saída do idoso.

“Eu esperava essa reação, no entanto você vai entender a grandeza do que quero apresentar aqui. Algum dia se questionou sobre por que goblins conseguem engravidar qualquer espécie? Não me olhe assim! Estou falando sério aqui.” O idoso sempre ouvia reações de deboche e sarcasmo referente aquilo que era a pesquisa pela qual gastou anos de sua vida, era irritante. “Estou falando sério e não vou deixar que nem mesmo você zombe de mim!… Hunf, esses monstrinhos repulsivos tem a maior capacidade de adaptação que existe, se goblins da floresta se mudam para a montanha, seus descendentes nascem com capacidades apropriadas para esse território. O mesmo aconteceria com desertos, áreas glaciais, ou terras secas.”

O homem hesitou por alguns segundos tentando encontrar uma forma de pronunciar a próxima frase sem parecer muito mais esquisito do que já era ou então pior, acabar parecendo alguém nojento e com gostos questionáveis.

“Em meus estudos… aham, acabei descobrindo que o esperma dessa raça é perfeito.”

E apenas silêncio se seguiu após aquela sentença curiosa. O idoso esperou de forma envergonhada que seu companheiro oculto em trevas fizesse um comentário de qualquer tipo em relação a aquela afirmação, todavia nada foi dito por parte dele.

“Bom, voltando ao que eu dizia, essa perfeição se deve ao fato de sua incomparável compatibilidade. Se um goblin engravidar um vampiro, o que nasce é ghoul. Se o fizer com um humano, o que nasce é um hobgoblin. Se o mesmo acontecer com um elfo, nasce um hobgoblin superior. Já parou pra pensar sobre isso? Realmente pensar sobre isso?” O homem teve a euforia anterior retomada e novamente levantou num ímpeto de ansiedade assim outra vez andando de um lado ao outro sem conter suas pernas inquietas “Não existe nenhuma outra espécie, seja monstro, demônio ou demi-humano capaz de engravidar uma raça diferente da sua, apenas os goblins.”

“Voltas e voltas, mas sem ir a lugar algum, é apenas isso que você está fazendo, doutor”, o homem nas sombras falou algo, abandonando o seu silêncio. Sua voz era profunda como o interior de uma caverna, seu tom era autoritário tal qual o de um monarca “O ponto doutor, direto a ele, ou mostrar-lhe-ei o que acontece quando esgotam minha paciência.”

“Claro, claro.” O idoso pareceu receoso com as ameaças, mas sem realmente teme-las, não quando tinha noção de como era importante naquela terra “A questão principal é a evolução, o potencial de evolução deles.”

“Goblins não evoluem”

“Nunca vimos um evoluir, seria difícil mesmo, são fracos, burros, o mais baixo monstro que existe na cadeia de predadores, até um slime se posiciona melhor. Se não fosse a capacidade de se tornarem milhares com o passar de poucos anos, não seriam ameaça.” O doutor foi até uma das várias lousas presentes no ambiente e com um giz retirado de seu bolso passou a desenhar sobre ela. “Eu pensei nisso um dia há algumas décadas, quando vi aquela condessa vampira pela primeira vez e ela transformou um assistente meu em um ghoul. Uma vampira nobre como ela pode transformar outros em ghouls ou vampiros menores e foi isso que me fez questionar se todos estes não seriam parte da mesma linha de evolução.”

“Um vampiro pode virar um vampiro nobre com o aumento de seu poder, por isso são tratados como escravos.”

“De fato, mas você acha que um ghoul pode se tornar um?” O velho perguntou com estranho sorriso na sua face.

“Nunca ouvi falar sobre isso, mas considerando que isso seja possível… ” As expressões do ser nas sombras  não podiam ser vistas, mas era notável que ele acabaria de passar por uma grande compreensão “Isso significa que a descendência de um goblin pode vir a se tornar um vampiro e talvez, algo ainda maior que isso.”

“Então, como isso não se relacionaria com a linha evolutiva do principal progenitor? Aquele com a maior adaptabilidade já vista na natureza?”

“Goblins não evoluem.” Aquele nas sombras repetiu para afirmar suas convicções “E mesmo se o fizessem, por qual razão um ghoul e não um hobgoblin por exemplo?”

“Ora, huahaha, ora, ora, mas por que não os dois?!? E por que não muito mais que os dois?! Vamos veja!” 

O idoso que não havia parado de desenhar desde que pegou no giz, se afastou da lousa permitindo a seu companheiro ver a imagem formada em sua totalidade. Haviam ícones de dezenas de criaturas diferentes, do mais baixo de kobolds a lizardmans, zumbis a dullahans, dos mais simples vampiros até os mais altos lordes. Espécies fracas e espécies fortes, raças dignas de piada e povos que inspiravam medo. Todas essas figuras tinham linhas que o ligavam a um único ponto no topo da lousa.

Um goblin.

“Isso não faz sentido, por que a maioria dos monstros estariam ligados a algo tão medíocre? E supondo que realmente estejam, o que seriam todas essas raças espalhadas pelo mundo então? Restos? Ramificações de uma única linha evolutiva? Pelos deuses! Não há razão alguma em tudo isso que está me dizendo.” Um movimento era visto nas trevas, o monarca estava incrédulo e negava aquelas hipóteses.

“Razão, também não encontro, só vejo caos gerado por essa seleção natural bizarra.” O doutor falou quase sem fôlego “Mas eu encontrarei, estou perto, com os testes em andamento veremos a história acontecendo.”

“Testes? Não fui informado de nada! O que você fez?!” O homem nas sombras elevou sua voz e somente foi o suficiente para o outro cair ajoelhado e sem forças.

Mas não o suficiente para apagar a chama de sua animação, um fogo quente surgido da sua vontade de obter respostas.

“Apenas dei o pontapé, o empurrão para vermos… A entropia gerada pela evolução. “

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