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Capítulo 102: Uma favor a ser devido.

Dentro da mesma tenda onde esteve dias antes, se juntaram Lauany e o principal dos Homens Lobos para aquela reunião improvisada. A presença contínua da Pseudo-centaura foi inesperada, todavia não completamente indesejada pelo Monstro Verde. Os Orcs e lupinos restantes permaneceram do lado de fora, cada lado suspeitando do outro e pronto para reações rápidas e violentas.

“Ele” aproveitou da nova calma em sua mente para escrutinar o Chefe sentado no mesmo lugar em que o fez da última vez. Cada vez mais ficava certo de seus pensamentos sobre a criatura em seu encontro anterior, ele era muito estranho para um integrante daquela tribo. Ver aqueles peludos laranjas tão preocupados com seus filhotes não causava tanto estranhamento, pois não conhecia os seus costumes.

Agora, os Orcs?

Tal qual os Goblins, eles seriam capazes de devorar suas crias em caso de necessidade, embora diferentemente dos últimos, tinham pouca inclinação para o canibalismo. O líder contrariando o que seria esperado dele, mostrava preocupação genuína, do tipo que não era facilmente emulada. Os outros esperando lá fora queriam recuperar suas crias por uma questão de orgulho, aquele em sua frente o desejava movido por uma questão de afeto.

Meus rapazes de pêlo alaranjado aqui acabaram por ter suas crias abduzidas no meio da madrugada também, estávamos todos indo em direção a morada dos sequestradores.

— Iremos com você. — o chefe declarou sem abrir uma margem para recusas.

Mas aquilo era uma negociação, não era? Ou pelo menos algo próximo a isso. O que poderia retirar das mãos dos Orcs? Ou de que forma poderia usá-los? Toda aquela força, agressividade, coragem poderia ser útil a algo? Sim, se recordou em com um estalo.

Eu vou precisar de um favor seu após isso. — houve uma tentativa de entregar um sorriso amigável, mas era difícil não parecer predatório em uma situação tão vantajosa.

— Tsc, e o que eles estão dando a tu? —  indagou fazendo um gesto de sua mão direita em direção ao lobo sentado junto a eles.

Nada, eu cuido deles, simplesmente. — cruzou as pernas, colocou as mãos pelo joelho e sorriu pacificamente, uma imagem da gentileza.

— O que você quer Goblin? — cansaço, não desconfiança, acompanhou a questão.

Nada muito difícil, vou guiar e auxiliar vocês junto de meus garotos a lidar com seus aparentes novos desafetos. — disse sem mencionar como essa nova inimizade era de sua autoria. — Em retribuição, acredito ser legítimo que você me auxilie com alguns antigos desafetos meus.

— Hurr, quais tipos de desafetos? 

Do tipo que não seria desafio a um Orc, apenas alguns macacos.

— Os macacos? — a sombra de um sorriso nasceu e morreu antes de ser visível no rosto do monstro. — Você tem problemas com macacos?

Acredite ou não, guardo antigos rancores e eles fazem o mesmo, me perseguem há meses destruindo minhas coisas, invadindo meus lares. — resmungou antes completar com o que pareceria favorável para os outros. — Matando meus filhos.

Silêncio.

— Aceito seu acordo. — e então o som da confirmação.

Nada mais perfeito então! — exclamou com um bater de palmas. — É melhor seus homens se prepararem, precisamos partir enquanto o sol está alto, pois é quando os Cupendiepes dormem.

— Partiremos em cinco minutos. — avisou se erguendo para se juntar aos seus.

Leve só os melhores, nosso alvo vive em alguma gruta em um morro, não há espaço para muitos monstros. — avisou ao Chefe enquanto este saia, cuja resposta foi só um gesto.

— Oh, Hob, sei que não se importa muito com os outros, mas é maravilhoso o que está fazendo. — Um elogio de Lauany não era esperado, mas foi bem aceito. 

Apenas fazendo o que é certo.

— Hohoho, desculpa — ela não conseguiu conter seu riso, pois apesar de não achar o monstro de todo mal, era claro que ele também não era o mais altruísta. — Então não tem relação com uma ajuda com os seus desafetos?

Eu não recusaria uma recompensa. — respondeu fazendo com que a mulher risse uma segunda vez e então percebendo como gostava daquele som.

Embora , por algum motivo, conversar com Lauany estivesse sendo estranhamente satisfatório, uma tarefa mais importante estava à vista. “Ele” levantou e sem sequer se despedir, caminhou até a saída daquela tenda. Do lado de fora, o cenário parecia animado, os Orcs felizes por terem uma desculpa para matar e sem qualquer preocupação, apenas mais uma mostra de como seu Chefe era desgarrado.

O Hobgoblin caminhou pela aldeia sem que os outros mantivessem muita vigilância, talvez houvesse algo ali que lhe agradasse o suficiente para o subtrair, talvez uma nova arma fosse útil. Foi assim que viu uma espécie de oca de barro que servia ao mesmo propósito que uma ferraria.

Do lado de fora, espadas, lanças e clavas estavam jogadas a esmo pela grama, em seu interior largo haviam mesas cheias de armas destruídas e outras em melhor estado penduradas nas paredes. Uma chamou sua atenção em específico, era um arco feito do corno de um animal, montado em uma haste que terminava em uma coronha de madeira lixada. 

Cada extremidade do arco era unida por uma corda segurada por uma trava. Na extremidade da haste existia uma argola em sua parte inferior, uma que pelas suas memórias deveria servir para pisar ao armar-se.

Era uma besta, ou balestra se quisesse chamar dessa forma.

Não era tão grande quanto imaginava, sendo pouco menor que o seu antebraço. Parecia caber perfeitamente em sua mão e por isso o Monstro Verde retirou o objeto da parede em busca de uma análise minuciosa. Mais pesado que um arco, porém não a ponto dele ser incapaz de usar com apenas uma mão.

Se o que tinha ouvido fosse verdade, a corda poderia ser estirada e mantida dessa forma sem necessidade de que o próprio segurasse. O Hobgoblin tentou entendê-lá com seus dedos e foi incapaz mesmo que usasse toda sua força. Quando desistiu, fechou e abriu seus dedos em uma tentativa de se livrar da ardência em sua pele.

Foi quando notou um estribo na ponta da coronha, um em que ambos os lados se estendiam em pequenas barras de metal presas nos lados da haste e terminavam presas à corda. Foi quando compreendeu que aquilo serviria para puxar a corda seria mais eficiente cômodo do que usar os dedos.

De confiança renovada com essa nova peça de entendimento, tentou puxar o estribo e de novo falhou em armar a besta. Aquela corda estava realmente tensionada em seu máximo, sorriu sabendo que qualquer tiro saído daquela arma causaria um estrago sangrento. Como deveria fazer com que funcion… oh, a argola da frente onde poderia colocar seu pé.

Após isso tudo ocorreu facilmente, mas em vez de se abaixar, “ele” ergueu sua perna direita até a altura de sua cabeça e prendeu seu pé a argola. Dessa forma foi simples puxar o estribo com um uso moderado de sua força e prender ao gatilho. Tudo que lhe faltava era munição.

Seus olhos amarelos perscrutaram as paredes e chão à procura de uma aljava ou até mesmo uma flecha caída. Flecha não, se recordou, até onde ia seu conhecimento, balestras como aquela usam setas mais curtas chamadas virotes.

— O que Goblin faz aqui? 

O Monstro Verde se virou para a entrada e encontrou um Orc grande velho de barba longa e grisalha, sua barriga redonda denunciava uma vida abastada, porém seus braços musculosos avisavam que seus privilégios eram por mérito.

“Ele” ergueu a balestra com sua mão direita e deu dois pequenos toques na haste com sua esquerda.

Onde estão os projéteis?

— Rurgh, saia da minha armearia. — o dono falou em um tom confuso que mais soou como um resmungo.

Uma sobrancelha foi erguida como questão, armearia? Aquela maldita palavra não existia de verdade.

Os projéteis, seu velho, é o que me falta antes de eu guiar seu líder até o morro morcego. — ordenou como se não fosse o invasor naquela situação.

— ooin rgrast aauamo orns. — o sentido do que quer que tenha dito, se perdeu com a forma como resmungou.

O armeiro a contragosto passou pelo Hobgoblin até alcançar um pequeno caixote que o visitante indesejado não notou. Abrindo o objeto, retirou dele um cinto de couro que tinha preso uma aljava completamente recheada menor do que as normais, o que fazia sentido ao se pensar no tamanho de um virote.

Tomando sem respeito da mão do monstro maior, “ele” vestiu o cinto deixando a aljava à esquerda em sua cintura. Enquanto saia sem deixar um cumprimento para aquele que tão gentilmente e de plena boa vontade o presenteou com uma nova ferramenta, carregou sua nova arma de longo alcance com um virote e sorriu maliciosamente pensando em encontrar um alvo.

Uma criatura viva seria a melhor opção, observar os efeitos da carne sendo rasgada e do sangue jorrando, ossos quebrando também se fosse possível. De todos os lados Orcs passavam, era uma infelicidade que não poderia usá-los como objeto teste, mas prometeu que um dia mataria um deles com uma arma de longo alcance pela diversão.

Ainda a procura, achou um alvo que apesar de sem vida, atendeu aos critérios que estabeleceu. No que parecia ser uma área alimentar com cestas de frutas e vegetais, existia carne e animais pendurados. Seus olhos focaram em um javali enorme, muitos metros de distância separavam os dois.

Sem tomar tempo para mirar ou se posicionar, o Monstro Verde atirou e atingiu perfeitamente onde desejou. Após todo seu treinamento de lutas, sua mira jamais falhou outra vez e o buraco visível no crânio daquele porco selvagem era uma prova. Depois de vários passos, chegou ao cadáver e se ajoelhou na grama para ter uma visão acurada do estrago.

O furo estampou sua face com um sorriso, o virote passou direto pelo osso e o cérebro. Daquela greta deixada na carne, se desenhou uma fissura de sangue como um rio saído da nascente. Tocou as bordas da abertura com seu dedo indicador esquerdo, ela era grossa, com esse pensamento enfiou o dedo e sentiu a carne úmida e macia abraçar sua carne.

Se levantou tirando o dedo do animal e colocando em sua boca para apreciar o sabor. O virote sumido de sua visão considerando quão longe havia voado. “Ele” estava feliz, aquela arma realme…

Aquela cesta no chão tinha pimenta?

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