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Capítulo 104: Onde há fumaça.

O Hobgoblin deu suas ordens da melhor forma possível e aproveitou o prazer que acompanhava esse ato, adorava dizer aos outros o que deviam fazer e como devia ser feito. Ignorou junto disso os lupinos silenciosos cercados pelo próprio luto ao ponto de não perceberem mais os seus arredores. Os Orcs por sua vez, mostraram a indiferença que já esperava daqueles monstros, com exceção notável e no entanto esperada sendo o seu líder, guerreiro que tomou seu tempo para processar o fato antes de retornar a eles.

A atenção deles não era importante naquela fase do seu plano, os outros cumpriram sua parte sem problemas além de uma ou duas reclamações em voz baixa sobre a humilhação que era ouvir as ordens de um monstro fraco. 

Seguindo as instruções do Hobgoblin, a lenha seca foi amontoada dentro da abertura da gruta e entre os vários galhos, dezenas das pimentas trazidas pelos Orcs foram guardadas. Uma tática simples e uma cópia simplificada do que era uma estratégia mais complexa, serviria em meio aquela situação específica.

“Ele” perscrutou o ambiente em busca do necessário para iniciar a próxima fase de sua estratégia, mas se viu decepcionado. Não havia pedras de sílex por perto e descer em busca de mais pela montanha causaria questões de impaciência nos lobos enlutados. Existia uma maneira de fazer fogo como ensinado nos livros acerca de sobrevivência, porém nunca havia a realizado em prática. Aquele era um péssimo momento para experimentações, entretanto é o que faria.

Me dêem uma faca. — sua ordem foi dada enquanto se agachou para pegar uma madeira grossa e pequena em formato de prancha.

Serviria ao propósito que em teoria era simples, de fato a lógica era pouco complicada. Fricção gera calor, o calor cria a brasa e a brasa se transforma em fogo. Infelizmente, tudo que tentava realizar sempre era mais difícil na prática do que a teoria indicava ser. Felizmente era um monstro de paciência e perseverança, sabia que o fogo não surgiria  por mágica (às vezes surge, mas não o faria naquele caso).

Um Orc com o qual não se preocupou em recordar a aparência lhe entregou um pequeno punhal que apesar de velho, tinha sua afiação bem amolada. Com a lâmina, moldou o pedaço de madeira até ter seus dois lados planos, se livrando das lascas caídas, colocou o objeto no chão. Usando uma de duas garras, abriu uma fenda longa na madeira e a lixou, deixando seu interior pouco mais profundo que a ponta de seu dedo indicador.

Deixando aquilo de lado, pegou da pilha de lenha um graveto grande e quebrou um pedaço que jogou de volta ao restante. Utilizando o punhal, fez da ponta do galho afiado como uma flecha e apesar da falta de ferramentas apropriadas para medição, imaginou que sua broca improvisada estava próxima dos dois centímetros e meio de diâmetro exigidos.

Encaixou a ponta do galho no topo da fenda e a arrastou até sua região mais baixa, então repetiu a ação no sentido contrário. Acima e abaixo, abaixo e acima, de novo e outra vez aumentando sua velocidade a cada segundo. 

O som de madeira sendo raspada alcançou os ouvidos de todos, lascas minúsculas de madeiras foram lançadas pela fricção e um cheiro incômodo surgiu da prancha. O Hobgoblin sorriu, o odor foi apenas uma prova de que estava conseguindo o que queria. Tendo sua confiança renovada, aumentou sua intensidade e precisou posicionar um pé sobre a prancha para que ela não se movesse. Foi necessário algo entre quarenta a um minuto até que um sinal claro de sua conquista surgisse na forma de fumaça.

Os cantos de seus lábios cresceram de forma alegre e predatória, seus olhos acompanhando o brilho de seu sorriso. “Ele” era muito bom, não era?

De forma cuidadosa retirou sua broca improvisada da prancha e colocou seus dedos na fenda. Sem dar importância a dor, pegou as brasas formadas com seus dedos e as guardou entre as palmas de suas mãos. Sem pressa, caminhou até a lenha soprando as brasas, mantendo-as acesas mesmo que queimando sua pele durante o processo.

Ao alcançar a lenha, guardou as brasas em seu interior junto com algumas folhas secas e observou ansiosamente para ver o que aconteceria. E da forma que esperava, as brasas se espalharam até tornar as folhas em chamas, pequenas e comedidas, é claro, mas ainda lá. Em pouco tempo tomariam conta de toda a pilha e se tornariam labaredas, após isso teriam uma fogueira, quente e confortável, mortal e cruel.

As brasas já não eram mais brasas e consumiram as folhas se espalhando para os galhos. As chamas dançando diante de seus olhos como se o seduzissem. Talvez “Ele” fosse estranho, mas achava o fogo bonito como poucas coisas naquele mundo. É claro que amava a terra, o solo era seu lar e poucas coisas o confortavam como o subterrâneo. Entretanto, se o fogo não fosse matá-lo como definitivamente faria, teria gostado de se banhar nas labaredas tal qual apreciava rastejar no subsolo.

Afastando-se do calor cada vez mais intenso, esperou pacientemente até a fumaça começar a se acumular. 

Realizem suas funções como ordenado.

Dois dos Orcs caminharam até a fenda, cada um deles carregando em mãos um grande escudo largo de madeira. Eles levantaram os objetos e usaram como se fossem dois grandes leques, a potência de seus braços fortes lançando fumaça para o interior. Silêncio tomou conta do ambiente e sem que nada fosse dito, os monstros reunidos encararam o trabalho dos dois Orcs com atenção.

A tensão tomou espaço em seus corpos da forma que ocorria ao momento ocorrido antes de cada caçada, antes de cada batalha, antes do sangue de alguma criatura ser derramado. Os lupinos arreganharam os lábios deixando seus caninos afiados visíveis ao mundo, os Orcs ergueram suas armas com semblantes sérios, o Hobgoblin sorriu. Cada um deles fosse por instinto ou inteligência, perceberam ao mesmo tempo que chegara a hora.

E como se o mundo desejasse confirmar a conclusão do grupo, gritos inumanos ecoaram do interior da caverna vindo das gargantas de criaturas sufocando em agonia com ar cada vez mais escasso e fumaça cada vez mais mortal.

Chegara o momento da luta.

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