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Capítulo 107: Vergonha.

O Hobgoblin se levantou com a dignidade e a bravura de um guerreiro sem ter sido afetado por sua queda, ou é o que diria a qualquer um que questionasse os acontecimentos que se seguiram à sua viagem em direção ao chão. Em verdade se levantou com fortes dores nas costas, uma sensação perpétua de desconforto gravada em sua carne.

Esperançosamente, não houve acometimento de sua coluna, no entanto muito de seu sofrimento vinha de perto das articulações para manter qualquer expectativa em terminar aquele dia sem problemas duradouros.

Ao tentar se levantar, sentiu os músculos da região de sua omoplata se puxarem cada um para um lado diferente como se seus ligamentos tivessem entrado em um nó. “Ele” não era curandeiro e seu conhecimento da biologia era, no máximo, raso, principalmente ao considerar a falta de estudos adequados da constituição dos corpos Goblins (ou Hobgoblins nesse caso). Todavia, mesmo um leigo entendia a importância e complexidade da estrutura da coluna vertebral.

O Monstro Verde iria devorar as entranhas daquele maldito Cupendiepe como se degustasse de uma colmeia inteira de mel, e embora nunca tivesse provado mel, essa parecia uma metáfora adequada.

Se moveu para pegar a balestra caída sobre a grama e percebeu que não conseguia. Mesmo havendo uma sensação aguda em seu braço, o membro não obedeceu sua vontade, nenhum dos dois fizera e cada um permaneceu flácido ao lado do corpo.

O Cupendiepe, apesar de aparentar um pior estado, reagiu de forma melhor a toda sua situação. A criatura se ergueu rapidamente, sua única asa funcional se abrindo a fim de adicionar alguma envergadura ameaçadora. O homem alado rosnou aquele rosnado estranho do seu povo que mais se assemelha a um chiado e o Hobgoblin se perguntou se o monstro não sentia a dor da queda ou se era por já sentir tanto sofrimento que um a mais não seria perceptível.

Como o animal acuado que era, correu na direção do Monstro Verde sem realmente pensar. Com seus braços erguidos saltou sobre o corpo do inimigo e em qualquer outra situação, teria sido facilmente derrotado, mas quando “ele” girou seu corpo para dar um de seus chutes, foi incapaz de suportar a dor em sua coluna.

O Hobgoblin tombou piorando ainda mais a sua situação. O Cupendiepe se jogando sobre seu corpo, suas mãos descendo sobre o pescoço de sua vítima. Improvisou da forma que pode, sua perna se ergueu até atingir as partes íntimas do seu atacante e mesmo a nuvem constante de sofrimento que afligia o homem alado não o impediu de ser atordoado por aquele golpe baixo.

Com os braços tão úteis para o Monstro Verde quanto os pulmões do Cupendiepe estavam sendo para o próprio, “ele” recorreu aos seus instintos mais bestiais. Tirando forças do mesmo desespero que alimentava seu carrasco, conseguiu levantar sua coluna até prender sua mandíbula sobre o ombro do outro.

Seus dentes cravaram no músculo e o sangue escorreu por seu queixo como se mordesse uma fruta suculenta. O homem alado socou o corpo do inimigo em suas laterais fazendo a mordida em sua carne ser desfeita.

Provavelmente alguma costela estava quebrada, ou pelo menos é o que o Hobgoblin supôs quando caiu de costas outra vez. O habitante do morro do morcego desceu sua cabeça para devolver o mesmo golpe quando recebeu um cuspe de sangue em seus olhos, com raiva trocou a mordida por um soco na face do outro.

“Ele” rosnou tentando ser ameaçador, o mais ameaçador possível depois de três de seus dentes voarem da sua boca. A morte parecia inevitável, mas pela primeira vez o mundo demonstrou alguma gentileza ao verme verde que tanto desprezava.

O Cupendiepe caiu sobre o corpo caído do inimigo, finalmente chegara ao seu limite. Após ter o pulmão intoxicado, corpo desidratado, asa perfurada, danos por queda e músculo arrancado, o monstro viveu mais do que qualquer um esperaria em sua situação e o Hobgoblin teria reconhecido tal feito com respeito em uma situação de mais lucidez.

Derrotado no chão, sem alguns de seus dentes com sangue escorrendo pelo queixo, falta de movimento nos braços e um dor enlouquecedora nas costas, tudo que sua mente foi capaz de sentir era o gosto azedo da humilhação. Tão patético quanto qualquer outro Goblin teria sido na mesma situação e analisar outros cenários ao que aconteceu no Morro do Morcego só o fazia parecer pior. Sentia vergonha.

E falta de ar. “Ele” não conseguia respirar, maldito fosse aquele Cupendiepe, o Hobgoblin não conseguia respirar. Seus pulmões pareciam congestionados como quando gripado e aquele cadáver estúpido em cima do seu peito não estava o ajudando em sua situação.

Tentou erguer seu braço direito outra vez e encontrou outras dificuldades. O sentia banhado em uma sensação aguda de fraqueza, a dor estava lá, o tato continuava funcionando e ainda assim o membro não seguia sua vontade.

Respirou pela boca, foi mais efetivo do que o fazer pelas narinas. Sangue voou de sua garganta quando tossiu devido a aspereza do ar, seus cabelos grudados no queixo como se aquelas manchas vermelhas fossem cola.

Patético.

Quase riu, sentiu vontade de rir e não da mesma forma que fizera momentos antes se divertindo com a dor e agonia dos outros. Não existia um ditado humano sobre pimenta nos outros parecer refresco? Parecia apropriado no momento.

Os sons de luta no topo do Morro do Morcego pareciam abafados, cada vez menos audíveis e conforme mais baixo ficavam, mas escura era sua visão. Com alguma sorte, não estava morrendo e apesar de o pensamento ter potencial para o aterrorizar em outros momentos, suas forças eram baixas demais para se importar.

Suas pálpebras se fecharam e não desperdiçou o menor esforço para mantê-las abertas. Alguma soneca poderia ser boa, restauradora possivelmente. Quando acordasse, se sentiria menos humilhado, esperançosamente.

Tanto esforço para ganhar algum respeito, criar alguma reputação para aqueles monstros patéticos. Quem era patético agora? Tudo por nada.

“Ele” ainda era fraco demais e o mundo tinha seu dever em o punir por seu pecado.

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