Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 108: Reconhecimento.

— Goblin, Goblin! — uma voz autoritária gritou interrompendo seu descanso.

Se aquela escuridão cercada por dor pudesse ser considerada um descanso de qualquer tipo. O Monstro Verde teria preferido ignorar o chamado, um sono cruel era melhor do que uma realidade tão dolorosa quanto, porém das muitas coisas que era, desistente não se encaixava.

Seus olhos amarelos se abriram para o mundo e foram saudados pela visão do Líder dos Orcs o encarando no chão, seu corpo coberto por sangue e várias feridas superficiais sobre seus braços. Então a luta tinha acabado, “ele” perdera cada parte dela.

Existia alguma preocupação nos olhos do monstro maior, razão pela qual ele perguntou:

— Você está bem?

— Estou… estou ótimo. — sua voz já costumeiramente baixa saiu mais fraca do que nunca.

O Hobgoblin respirou fundo, ainda era difícil, mas a ação não foi tão restrita quanto antes, principalmente com o cadáver que o cobria antes tendo desaparecido. Com cuidado colocou algum esforço em verificar se seus movimentos retornaram ao pleno funcionamento. Seus dedos se moveram, o que sentiu como uma vitória e o braço se ergueu alguns centímetros do chão, felizmente não ficou aleijado.

— Esperávamos que você pudesse recuperar os corpos dos filhotes, mas… — o Orc observou o outro com pena — Não será necessário.

O Hobgoblin sentiu seu estômago revirar com aquela cena, aquilo era humilhante. Lutou por tanto tempo para criar reputação, para ganhar o respeito não só dos lobos como também dos Orcs e tudo fora jogado fora de uma única vez. O que pensavam dele naquele momento? Riam internamente? Se divertiam com sua dor? Ou sequer era digno de seus pensamentos?

— Eu posso fazer isso. — informou com sua voz rouca.

“Ele” ergueu um braço e ficou positivamente surpreso quando este respondeu corretamente a sua vontade. Infelizmente , qualquer positividade desapareceu quando usou o braço para se erguer e sua coluna gritou sobre o peso do corpo. Com dentes cerrados, o Hobgoblin gemeu de dor enquanto se recusou a deixar as lágrimas em seus olhos caírem.

O Chefe Orc se agachou para oferecer auxílio ao Monstro Verde, mas recuou como se tivesse queimando as mãos quando viu aquele olhar cheio de raiva na face do caído. O derrotado se recusou a passar por mais aquela afronta, aquela injúria, tamanho desrespeito. Se ergueria sozinho ou morreria naquele chão para ser devorado pelos animais da Floresta de Dante.

Suas pernas funcionaram perfeitamente e sem dores, apesar da intensa queimação na virilha. Seus braços a despeito de uma baixa sensibilidade, realizavam o necessário com esforço adequado colocado sobre eles. O único obstáculo em seu corpo eram suas costas, mas toda aquela agonia era um bom sinal, não? Serviu como indicativo de que não estava ficando paralisado como poderia ter sido em um cenário pior.

Persistência, teimosia, essas duas o recompensaram quando se colocou sobre as duas pernas em pé. Mesmo que seu corpo implorasse pela posição anterior que se não era indolor, era pelo menos mais suportável.

O Chefe dos Orcs o encarava com um olhar estranho, incomum nas faces dos habitantes daquela selva, ele sentia pena e talvez mesmo empatia, era humilhante. Os seus iguais eram mais claros em seus sentimentos, pareciam divertidos, riam do fracasso em interno. Não poderia julgá-los, o Hobgoblin teria sido o primeiro a encontrar gozo no sofrimento de outro ser vivo.

Os lupinos carregavam as expressões mais indecifráveis entre todos, com suas faces contemplativas e olhos focados no monstro claramente debilitado. Que pensamentos se escondiam por trás de toda aquela pelagem alaranjada?

Percebendo que seu orgulho e teimosia seria maior do que qualquer necessidade, o Chefe dos Orcs se deu por vencido e convocou os seus para irem embora. No final, aquele dia ainda havia sido ganho por eles e não havia mais o que ser feito no Morro do Morcego.

O Hobgoblin observou os seus aliados temporários o deixando para trás, bom, menos testemunhas de um dos seus momentos mais baixos em toda sua vida. Infelizmente, os Homens Lobos permaneceram em sua vigília muda. Fez o possível para os ignorar e deu o primeiro passo que lhe rendeu um turbilhão de agonia.

Novamente no chão, “ele” caiu de joelhos apoiando seus braços na terra. Sua garganta seca se fechou subitamente e o monstro percebeu que pela segunda vez no dia, não conseguia respirar. Apertou o peito com a mão como se aquilo fosse capaz de o ajudar. Seus olhos percorreram a grama com respingos secos de seu sangue como se fosse encontrar lá a ajuda que necessitava.

Foi quando uma mão calejada segurou em seu braço direito, um dos Homens Lobos parado ao seu lado o ofereceu apoio e o Monstro Verde não percebeu quando que assumiram forma humana. Da mesma forma, um segundo apareceu em um lado esquerdo oferecendo o mesmo auxílio ao Hobgoblin.

— Cuidado chefe, deixe nos ajudar. — um dos dois o falou quando começaram a erguê-lo.

Quando de pé, outros dois do caninos, esses ainda em sua forma natural, ergueram suas pernas com delicadeza. Logo se viu suspenso por quatro dos membros da alcatéia que o carregaram através do caminho aberto pelos lupinos restantes. “Ele” não tinha forças para negar aquela misericórdia, não depois de já ter revelado sua fraqueza e mediocridade a todos.

— Com cuidado, vamos. — pensou ter ouvido um dele dizer, mas estava perto demais da inconsciência para saber.

— Para onde chefe?

Seus olhos quase fechados, abriram completamente, aquela era uma boa questão, não?

Quem ou o que manteria capacidades para revitalizar seu corpo lesionado perfeitamente? Naquela floresta, não teria ninguém com essas habilidades e desconhecia quaisquer remédios que a selva oferecia. Felizmente, aquela criatura patética conhecia uma mulher que teria alguma ideia do que ser feito, desde que a desgraçada tivesse voltado para casa.

— Para o pântano. — tudo que disse antes de deixar outra vez o mundo dos despertos.

Um único momento impensado conseguiu arruinar um tempo incontável gasto em seus planos e estragaria quanto mais viesse pela frente em sua recuperação. O sofrimento físico era enlouquecedor, mas o emocional chegou o mais perto de fazer chorar pela primeira vez em sua vida.

Ser tão fraco era doloroso.

Picture of Olá, eu sou MK Hungria!

Olá, eu sou MK Hungria!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥