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Capítulo 111: Boi de carga.

Poções feitas, dezenas delas esfriando sobre a mesa. Um plano sólido, alguns detalhes faltando, mas nada crucial e claro, muita vontade. A Bruxa do Pântano possuía muitas coisas, mas uma delas faltava.Meio de transporte.

Não se andava quilômetros de terra batida com caixas de poções em seus braços e um monstro ferido em sua cauda. Era impraticável e ligeiramente humilhante. Todos os fatores combinados que a levaram até aquele lugar durante aquela manhã.

Pessoalmente? Nenhum sentimento negativo era nutrido contra o que seu amigo verde achava por certo chamar de pseudo-centauros, embora ela mesma não visse grande problema em chama-los apenas de centauros. A questão é que também não guardava em seu peito sentimentos positivos.

Os quadrúpedes apenas estavam lá, vivendo suas vidas e o melhor de tudo, longe dela.Por isso era estranho estar sozinha na planície junto a eles, uma sensação de erro. Uma que se não percebida pelos outros, era sentida em algum grau e só não questionada pelo conteúdo da conversa que eclipsou toda a atenção.

— Ele quer que eu o que?!O irmão de Lauany nunca pareceu tão ofendido em sua vida e considerando que todas as poucas vezes que se sentiu ofendido foram culpa do Hobgoblin, aquela poderia não ser a última vez.

— Ele disse e aqui eu cito — a réptil fez uma cacarejo sem água para preparar sua garganta e começou a melhor imitação de sua vida — “O quadrúpede bovino de tronco superior humanóide servirá bem ao propósito, avise-o que necessito de seus serviços. Não é possível que ele recuse, o irmão de Lauany não tem exatamente grandes deveres que se sobrepõem a minha carência de sua servitude”.

— Oh, por Yebá Bëló, isso foi bom! — a Pseudo-centauro poderia ter sido enganada apenas pela voz.

— Como você fez isso? — questionou o bovino.

— É na verdade muito fácil, você faz aquela cara azeda de mal humor que ele não percebe que faz. Diminui a excitação na voz, mas não como se você tivesse calma e sim como se fosse indiferente a tudo ao seu redor. Pra completar, tu precisa usar um tom de superioridade, mas ainda parecer gentil e pronto. — após sua aula, a réptil respirou fundo por um segundo e falou — Embora, de certo que as muitas espécies habitantes dessa extensão de selva virgem, encontrariam um grande desafio em mimetizar o comportamento nobre de um monstro Hobgoblin impressionante tal qual eu.

— Que importa é que eu não vou.

— Olha, você só precisa puxar uma carroça até uma vila próxima, talvez até Tapêre. Não é longe. — encarando os irmãos, uma outra abordagem pareceu interessante — Olha, estamos falando de salvar uma vida! Ele vai morrer.

— Não pode ser tão grave. — o irmão afirmou com face teimosa.

— Pode? — Lauany perguntou com um rosto preocupado.

— Não vou soltar lágrimas de crocodilo — o pensamento a fez rir por algum motivo que os outros não entenderam. — Isso teria combinado mais com ele, a curto prazo? O bastardo vai sobreviver, a longo prazo? Não vai viver muito tempo.

— Oh, ele foi para aquele morro com tanta confiança.

— O que o verme não faz com confiança?

Lauany se virou para seu irmão, ela não falou nada, mas seu olhar encontrou mais valor que mil palavras. O bovino desviou o seu olhar, encarou o céu, a grama e seu povo como se a respostas fosse vir se algum lugar fora de si.

O Hobgoblin era mesquinho, orgulhoso, malicioso e um risco vivo para a maior parte dos seres vivos que caminhavam pela terra como um todo, exagerado? Não. Aquele monstro era uma calamidade em escala colossal à espera de ocorrer.E apesar de tudo, quando o monstro verde dava aquele sorriso ferino, seu peito se enchia de calor. Como podia um ser tão encantador ser tão… tão… tudo aquilo que ele era.

— Tudo bem. — o irmão mais velho suspirou cansado — Eu vou ajudá-lo.

O monstro quadrúpede já começou a se arrepender quando nas planícies externas à floresta. Ele aguardou ao lado do que a bruxa do pântano chamou de carroça. Um veículo de madeira que deveria ser puxado por cavalos ou outras criaturas como ele. Sobre ela havia alguns caixotes abarrotados de garrafas com cores divertidas.

Foram várias as viagens que a mulher fez sozinha indo e voltando pela selva com os objetos que levaria. O irmão de Lauany sendo incapaz de prestar qualquer auxílio por causa do físico de sua raça.

O fim da última viagem provocou sentimentos dolorosos e apagou qualquer hesitação que tivesse antes. A réptil atravessou o mato alto e passou pelas árvores com um corpo apoiado em seus ombros.Um corpo miserável, doente e que morreria se deixado só, principalmente naquelas terras.

O tronco curvado só encontrava sustentação apoiado pela loira que o ajudava. Os cabelos sempre lisos e bem amarrados estavam todos arrepiados e espalhados e mesmo visto de frente, manchas roxas eram visíveis nas beiras de seu corpo vindas das suas costas.

Os passos dados pelos dois eram vagarosos e contidos, cuidadosos. O quadrúpede tinha um comentário de simpatia deslizando em sua língua, um que morreu quando o Hobgoblin ergueu sua cabeça abaixada, seus olhos amarelos o encarando.

A carne podia estar fraca e dolorida, mas a alma ainda queimava tanto quanto sempre e a mensagem que seus olhos passavam. Se o bovino dissesse qualquer coisa, o Hobgoblin acharia um jeito de o matar. Mesmo que fosse o encarando durante horas sem piscar para que sua pura força de vontade desse fim a sua vida.

Dessa forma o irmão de Lauany engoliu seu comentário junto com a saliva e apenas esperou que os dois alcançassem a carroça.

— Bom, espero que vocês não se entendiem fácil. — a loira falou se sentando a frente da carroça.

— Vamos sobreviver. — o bovino obviamente falou se referindo ao tédio, mas o grunhido de raiva que ouviu o fez perceber a má escolha de palavras.

Com um clima já estranho entre eles, pegou as duas hastes de madeira na frente da carroça e iniciou a viagem dos três. Uma longa e infeliz viagem.

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