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Capítulo 112: Sonho ou visão

Como esperado, nenhum cavalo foi encontrado na aldeia desolada, nem qualquer outra criatura viva além de insetos, ratos e urubus. Algumas das aves pestilentas viram no trio uma nova oportunidade para outra refeição e três delas circulavam o céu ao redor da carroça na esperança de ver aquela saborosa refeição verde e roxa ser deixada para trás.

Ao cair da noite quando o descanso se fez necessário, o pseudo-centauro chegou a se preocupar com as chances dos urubus atacarem o monstro injuriado mesmo ainda vivo enquanto todos dormiam. Foi surpreendente que ao acordar, seu interminável discurso de revolta com pausas entre seus gemidos de dor foi o bastante para manter os pássaros sujos distantes.

Ainda mais inesperado foi os outros dois dormirem apesar da chuva sem fim de palavras. Claro, a Bruxa não realmente dormiu, ela nunca dormia, apenas fechava os olhos e ignorava a todos por perto. Ninguém nunca percebeu a diferença.

O bovino foi quem conseguiu encontrar descanso, não apesar do falatório e sim graças a ele. Existia algo na voz do Hobgoblin ranzinza, uma qualidade naquele sussurro, um feitiço naquela garganta que afetava o irmão de Lauany com efetividade assombrosa e junto do cansaço, não demorou a deixá-lo tão inconsciente quanto a carga viva horas antes.

Apenas a mente inquieta do monstro verde permaneceu ativa durante a hora vespertina. Seus olhos amarelos correndo pelo céu estrelado, enquanto o cérebro se ocupava criando cenários para o manter distraído.

Foi quando o pássaro pousou, provocando uma sobrancelha erguida no Hobgoblin ao notar que não era qualquer um dos urubus que o perseguiam atentamente como um eterno mal presságio. Não, essa nova ave era ainda maior, embora suspeitosamente silenciosa. Seus grandes e esféricos olhos negros procurando algo nos sóis amarelos do outro.

A coruja branca inclinou sua cabeça para o lado, deitando sua face com uma curiosidade ingênua. Essa expressão de interesse teria sido natural em outras oportunidades, até mesmo adorável, entretanto não naquela. A criatura alada abalou o peito do monstro apenas por sua presença, uma atmosfera sobrenatural preenchendo o ar como uma neblina se espalhando nas planícies.

“Ele” apenas desviou os olhos dela quando a revoada atravessou os céus, dezenas de aves com diferentes espécies, desde pequenas como simples papagaios até os grandes urubus que o acompanharam. Foi quando a coruja decidiu que o monstro não mais lhe tinha importância e alçou voo junto à passarada.

Seus olhos foram incapazes de cortar contato com a ave enquanto ela desaparecia no horizonte noturno. De forma que sua mente sequer percebeu a passagem do tempo, sendo tirado de seu estupor apenas quando a pergunta ressoou em seu ouvido.

“Você acredita no destino?”

O Hobgoblin virou seu rosto na direção do som por puro instinto, uma vez que não havia como existir uma direção quando a pergunta ecoou apenas em sua cabeça. Os seus olhos injetados e secos pelo tempo que passaram aberto, os lábios separados com sua respiração fraca.A figura avistada ao longe se fez estranhamente familiar, algo corroendo seu cérebro como um verme escavando a terra dizendo que “ele” a conhecia. O veado branco se portava com uma dignidade apenas almejada pelo monstro paralítico.

Seu pelo branco carregava uma pureza tão sobrenatural que iluminou a noite escura quando o brilho da lua refletiu em sua pele. O animal se aproximou com calma e paciência, seus cascos não produzindo sons e cessou há alguns metros de distância do pequeno trio. Um calor confortável emanou de seu corpo embalando-os como uma aura de carinho, defendendo-os do frio que a ausência do sol trazia.

“Eu dei a ti uma questão, Suruku’ku. Acredita no destino?”

Foi quando a imagem se desfez e o mundo tomou uma nova forma. Abaixo de um (insira depois), sentado à mesa de chá junto a uma melhor desconhecida com a qual tinha familiaridade. A paisagem obscurecida por uma camada espessa de um nada intimidador.

Poucas coisas eram distinguíveis na mulher que era menos uma mulher e mais o conceito e forma de um, os dois discutiam por algo e o Hobgoblin não sabia a razão, no entanto era ciente de que foi que dissera.

— E você me tratará com respeito, não sou uma dessas garotas que tolera sua altivez!— Minha altivez? Eu não sou arrogante, sou tão humilde que me assusto com minha própria modéstia! — “ele” disse com uma voz que lhe pertencia, mas não era sua, muito pouco sussurrada e quase grasnada.

E tão fugaz quanto veio, o cenário se foi com seu estado frágil se partindo em estilhaços como um vidro destruído pelo som. Os fragmentos dispersos se juntando outra vez, porém formando uma pintura inédita.

Uma terra fria coberta pelo gelo, um silhueta prateada o encarando de cima, o seu corpo caído abaixo. Os raios do sol incidindo sobre os dois, os sons das explosões e gritos de desespero vindo de algum lugar ao norte das duas figuras.

— Tolos, vocês dois, t-tolos. — sua voz saiu em um tom artificial, inumano.

— E você é doente K. — mesmo sua voz artificial não soou tão insensível quanto a do guerreiro de pé. — Sempre foi.

O sol atingindo as costas da silhueta ereta serviram para dar a ela uma espécie de aura divina, mas também obrigaram “ele” a ser obscurecido pelas sombras que eram lançadas sobre seu corpo caído. Corpo? Era interessante como ele não sentia nenhum.

E tal qual o primeiro, essa visão escorreu como areia diante os seus olhos, embora dessa vez deixasse para trás os contornos esboçados e figuras de aparência indizível para dar lugar a planícies esverdeadas cobertas por orvalho e nuvens brancas em um céu de azul claro.

Em sua frente uma réptil loira o olhando com uma sobrancelha erguida. A bruxa abriu a boca, mas então a fechou, guardando para si mesma qualquer tipo de questionamento. Apenas deu de ombros e foi acordar o animal de carga deles.

Vendo o amanhecer luminoso, o Hobgoblin não conseguia acreditar que passou a madrugada inteira encarando o nada.

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Olá, eu sou MK Hungria!

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