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Capítulo 113: Discussão religiosa

Eu tive um sonho estranho. — falou sem pensar quando a viagem se iniciou.

— Sobre? — a Bruxas questionou de seu lugar no assento do cocheiro.

É estranho, eu não consigo mais me lembrar e tenho certeza, tenho certeza de que não dormi de verdade.

— Sonhos são confusos, mas importam, são visões dos céus. — afirmou o bovino.

Uma besteira conceitual que só poderia ter saído da boca de alguém que convivia com Lauany.

Tenha suas crenças irreais, é de seu direito.

— Não, ele está completamente certo.

E é claro que a religiosa concordava com aquela bobagem supersticiosa.

Ora, tenham senso, sonhos são nossa mente lidando com pensamentos mesmo quando dormindo. — uma teoria sua que nunca viu ser respaldada em qualquer livro, mas que trataria como verdade até segunda ordem.

— Por Anhangá! Por que você é sempre assim? — a Bruxa se virou para o olhar nos olhos. — Você aceita tudo que os livros dizem sem questionar muitas vezes, mas eu ou mais alguém fala sobre questões de natureza superior, você traça o limite?

Linguagem corporal tensa e fechada, mãos com um aperto forte em volta das cordas, olhos semicerrados e as presas amostra. Sinais óbvios de raiva para qualquer um com capacidade básica de sentir empatia de modo funcional. Uma pessoa desse tipo teria encerrado a discussão antes que ela escalasse.

Confio no palpável e racional, não suas besteiras pseudo-divinas.

“Ele” não era bom em sua capacidade básica de sentir empatia de modo funcional.

— Pare essa maldita carroça agora!! — ordenou saindo de sua posição e ficando de pé em frente para o enfermo deitado — Eu já aguentei seu desrespeito, seu sacrilégio por muito tempo, bastardo!

Você me chamou de que?!

— Racional é o toim de sua vó, seu gárrulo infeliz e cafajeste!!

O monstro sequer tinha uma avó, e lhe escapava qualquer que fosse o significado da palavra gárrulo. Voltou sua atenção para o pseudo-centauro na espera de que este interviesse, mas o irmão de Lauany estava muito ocupado encarando o chão desejando desaparecer e fingindo não ouvir.

— Ocê aceita religião e os deuses sempre que ie convém, má quando não, sai por ai falando mais que a cobra negando as crenças aleias, óia aqui seu troncho! Eu não sou e não vou se muié de ficar aceitando o desrespeito de um vermezinho sem consideração talequá tu.

Mas o que… Bruxa você tem sotaque? — perguntou sorrindo.

E de fato a mulher tinha, um sotaque caipira muito bem escondido que vinha à superfície quando a réptil se via sob fortes emoções como naquele momento. Emoções ainda mais intensas com o fato dele ignorar todas as suas palavras em prol de um detalhe estúpido como aquele.

— Eu não tenho sotaque nenhum. — ela falou pausadamente — E você seu paiér…, PALERMA! Eu disse palerma e não mude de assunto!

Assunto? Minha doce, não há assunto. Você está perdendo sua paciência por pouco, por coisas bobas.

— Coisas bobas?! Sua insolência não é uma coisa boba! — era impressionante como uma mulher com tantas escamas ainda podia ficar vermelha.

Insolência?! — fora a vez do monstro se sentir ofendido.

Insolência!! — a pocionista confirmou em uma voz que se assemelhou ao rosnado de um jacaré — Você aceita todo tipo de conhecimento ensinado, desde que físico, sabe o porquê? É porque seu egosinho frágil pode até reconhecer que há coisas maiores e m-e-l-h-o-r-e-s — havia necessidade de soletrar? — que você lá fora, mas você fica nessa sua ilusão de que pode alcançar qualquer uma delas — ela se agachou até ter seus olhos azuis separados dos amarelos dele por centímetros — Mas o que é divino muda tudo, não? Esse é um reino que você não vai alcançar e sabe disso, então você o nega.

Por um momento, nada saiu dos lábios do Monstro Verde, um silêncio cuja intensidade transmitia mais do que seria possível com mil palavras. Sua falta de reação confirmou a verdade das palavras vindas da bruxa. Uma verdade que o próprio não percebera até então e que voltaria a ignorar logo que possível.

Não sem antes retrucar, sem entregar a mulher sua réplica, pois como bem sabido o seu pecado era o orgulho. Também a luxúria, obviamente, e a ira, inveja, avareza, gula e outras dezenas de pecados variados. No entanto, naquele momento específico, o seu pecado era o orgulho.

Tanta bravata devido aos comportamentos de um humilde monstro da Floresta de Dante. — o Hobgoblin parou, apenas por alguns segundos para saborear suas palavras venenosas — Eu não teria conseguido imaginar que sua fé é tão fraca, talvez seja por isso que seu deus nunca a responda?

O pseudo-centauro se encolheu ao ouvir aquelas palavras, o vento cessou seu movimento e o próprio mundo pareceu parar em desejo de observar o desenrolar da discussão. Todos sabiam o que esperar, a fúria explosiva em erupção, os rosnados selvagens e possivelmente alguma reação violenta de forma física.

E todos erraram, o monstro, o bovino e o mundo. A Bruxa do Pântano não gritou, ela não rosnou ou o agrediu, ela era superior a isso, superior a “ele”. A mulher passou suas garras por seu cabelo loiro, arrumando o acabou bagunçado pelos seus movimentos excitados.

Ela respirou fundo, uma vez, duas vezes, inspira e expira. O ar descendo por sua garganta gerou um som de rosnado assustador, mas nada perto do que ela poderia fazer. O seu rosto vermelho foi rapidamente perdendo cor e seus olhos reptilianos e afiados dilataram para se tornarem uma visão menos ameaçadora, até mais agradável.

— A carroça irá parar aqui. — a calma com a qual falou era assombrosamente enganosa. Um sorriso gentil adornando o rosto dela — Passem as horas, faça chuva ou sol, tenhamos fome ou sede. Não nos moveremos, até você implorar o meu perdão.

E murmurando uma canção alegre, ela desceu da carroça com a elegância de uma dama e se afastou para um merecido banho de sol.Então era isso? O Hobgoblin sentiu vontade zombar, sua fé infundada não era a única coisa tola naquela mulher.

Se ela achava que um pequeno jogo de paciência traria alguma raiva a “ele”, o monstro ficaria feliz em deixar ela tentar.

“Ele” teria prazer em mostrar como ela estava errada.

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Olá, eu sou MK Hungria!

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