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Capítulo 12: Grande Floresta de Dante

“Está melhor Sra Anabiela?” Floriana perguntou dando um copo de água a mulher antes tão chorosa.

“Estou, perdoe essa cena lamentável.” Ana disse passando as mangas de sua camisa em seu rosto e borrando os dois com maquiagem.

“Tudo bem, o importante é que fez você se sentir melhor.” A gata disse com um sorriso sincero antes de perguntar. “Quer falar sobre isso?”

“Existe muita coisa que eu gostaria de dizer, mas é melhor não.” A loira desviou seu olhar para o chão encarando seus pés como se fossem mais importantes do que a aventureira ao seu lado.

A felina não insistiu mais no assunto, seria insensível de sua parte. Nunca havia perdido um membro da família importante, ou se quer um amigo que a amasse muito. Não poderia nem imaginar o que sua chefe sentia naquele momento.

Naná não havia perdido qualquer um, estava de luto pelo próprio herói, o salvador dos povos livres. Flor só podia imaginar sobre o quão incrível deve ter sido para a outra lutar ao lado daquele homem.

Infelizmente, independente do quão animada ficasse para falar sobre o falecido, só causaria mais mágoa se assim fizesse e por isso escolheu mudar de assunto. O trabalho poderia mesmo ser uma boa distração para a Mestra da Guilda.

Haviam muitos problemas a serem resolvidos por aquela instituição, principalmente levando em consideração o fato de que eram a guilda de Alighieri, a cidade mais importante do Ducado de Sugran. Problemas surgiam de todos os lados a todo momento para que Anabiela resolvesse, então não faltava com o que se distrair.

Pensando nisso, a felina olhou algumas das folhas na mesa buscando um assunto que despertasse interesse. Haviam reclamações sobre a falta de segurança de vilas nas fronteiras, pedidos para extermínio de monstros, cartas do Gran Duque (o que ela definitivamente não tinha permissão para ler) e denúncias sobre contrabando através da Floresta de Dante.

O problema do contrabando!!

“Então, já que vamos trabalhar hoje.” 

“Não precisa ficar aqui, pode ir pra casa.” 

“Não não, eu tô preocupada com o contrabando de drogas.” Floriana mentiu enquanto vestia uma máscara de preocupação. “A gente já sabe algo?”

A loira primeiro resmungou algum palavrão, pensar naquele problema incitou ódio em seu peito. Noites foram perdidas tentando solucionar aquele problema e muitas vidas foram jogadas fora em uma tentativa de o resolver.

Ela tamborilou seus dedos sobre a mesa mostrando sua impaciência ao mesmo tempo em que encarava seus papéis sem realmente os ler.

“Aparentemente usam a floresta para colocar essas drogas dentro do país.”

“A floresta?!” A gata disse incrédula e devido a esse sentimento voltou a perguntar. “A Grande Floresta de Dante?”

“Sim.” Foi tudo que a outra disse antes de passar a remexer em algumas folhas sobre a madeira. Encontrou aquela que buscava e voltou a falar “Arriscado é claro, estamos falando do lugar mais perigoso da região sul de todo o Continente Vermelho.”

“Mas?”

“Mas é uma área de terra tão grande que cinco países fazem fronteira com ela. Usando a floresta que não tem vigilância de nação alguma, é fácil transportar por ela coisas que não devem ser vistas.” Anabiela falou em um só fôlego, seus enormes peitos fizeram pressão em sua camisa assim que voltou a respirar e Flor teve certeza de que viu um botão afrouxar sozinho.

“Mas de qual vêm?” A felina indagou se curvando e apoiando seus cotovelos na mesa.

“Não sei, não é como se nós pudéssemos enviar aventureiros de forma desmedida pra lá e todos os que chegamos à mandar… Nunca voltaram.”

“Se nossos aventureiros não são capazes, como os contrabandistas conseguem?” A aventureira por experiência própria sabia como o extremo sul do continente era mortal.

A floresta de Dante, território nunca completamente explorado ou mapeado por homem algum. Recebeu esse título por ser o nome do responsável pelo mais antigo registro encontrado sobre aquela terra.

Um geógrafo e escritor que desapareceu junto a um grupo de expedição alguns séculos antes. Tempos depois, um conjunto de aventureiros encontrou materiais de escrita na mão de trasgos da montanha e entre eles um pedaço rasgado do que se supôs ser uma carta escrita pelo geógrafo com apenas uma frase legível.

“Ó, vós que aqui entrais, abandonai toda a esperança”

Tentativas de ir mais a fundo nunca foram bem sucedidas. Quanto mais ao centro daquele inferno, mais mortal ele se tornava.

Sabiam que nas bordas viviam goblins, slimes, kobolds entre outras espécies mais fracas. Mesmo que não explorassem mata adentro, era de conhecimento comum que orcs, trasgos e trolls viviam mais ao centro.

Isso era sabido, uma vez que essas espécies maiores se aventuravam com uma infeliz constância fora de suas terras invadindo vilarejos humanos que fossem alvos fáceis.

E o que habitava ainda mais ao centro? Ninguém sabia, talvez nunca viessem a saber.

“Pode ser uma rota segura recém descoberta, pode ser que tenham algum aventureiro de rank prata forte o suficiente para proteger as mercadorias. Eu simplesmente não sei.” A Mestra da Guilda admitiu com pesar em um suspiro exausto. “Descarto a possibilidade do envolvimento de algum aventureiro de classe ouro, só existem algumas centenas no mundo e duvido que estariam arriscando a vida em uma floresta ao invés de fazer fama.”

“Quem sabe? Tempos de paz estão deixando os classe prata pra cima meio inúteis.” E Floriana agradecia por não ser nenhum deles.

Era difícil se destacar no ramo que escolheu para sua vida. A maioria dos membros de guildas nunca ultrapassariam a classe bronze, o que já era algo especial. Os participantes desse grupo podiam lidar com monstros de rank médio e eram conhecidos por ter a força e habilidade de dezenas de pessoas comuns.

Para eles, a classe prata seria apenas um sonho distante. Os aventureiros prateados como também eram conhecidos, podiam lutar sem dificuldade contra monstros de rank médio e obter bons desempenhos contra monstros de rank alto. De acordo com o ditado popular, “Cem moedas de bronze, não brilham mais que uma de prata.”

Aqueles na classe ouro, por sua vez, eram conhecidos por terem a força de cem homens e serem capazes de fazer a principal diferença em uma batalha. Apenas os mais fortes monstros representavam uma ameaça a eles. A raridade de seus membros era tão grande que fama e glória seriam garantidos a quem alcançasse aquela classe.

Por último existiam as classes não oficiais, diamante e mithril. A classe diamante não era oficial uma vez que aqueles fortes o bastante para estarem nelas, não costumavam ser aventureiros. Eram tão fortes que faziam suas carreiras liderando exércitos em batalha, enfrentando calamidades mortais e monstros tão poderosos que poderiam ser ameaça aos seus países. Os boatos difundidos entre o povo contavam que um diamante poderia enfrentar mil homens sozinho.

Flor só viu um dessa suposta classe em toda a sua vida, a mulher à sua frente. 

E a classe mithril, bem, ela não existia.

“Tanto poder é meio inútil sem guerras, claro que sempre tem um missão de extermínio, monstros surgem feito pragas, pelo menos transam com a capacidade de uma.” A gata falou com nojo ao lembrar daqueles que já enfrentou.

O continente ainda era em sua maioria inexplorado, cavernas e florestas espalhados pelos países escondiam terrores inimagináveis.

“O Gran Duque não vai gostar disso quando ele voltar, meeeeoow.” A felina comentou com um grande bocejo no final.

“Ele já não está gostando.” Respondeu a loira pegando o que Flor sabia serem cartas dele e guardando em uma gaveta.

“Soube que o filho do herói está com ele, ah!” A gata quase gritou no final quando percebeu o que foi dito e inconscientemente tapou a própria boca.

“Ha, tudo bem Floriana.” A chefe disse enquanto ria da cena cômica. “Eu não vou começar a chorar só por você falar o nome dele, mas aprecio sua preocupação.”

“Desculpa falar dele o tempo todo, é que eu sinto muita admiração!!” A aventureira contou quase saltando na mesa de tanta empolgação.

“É, você e muita gente.” Anabiela disse com um sorriso pequeno e estranhamento triste, expressão logo trocada por um grande sorriso animado. “Já falei sobre quando enfrentamos a feiticeira do pantano, a Cuca?”

“Não!” E a mulher quase saltou no colo da outra ansiosa por ouvir uma boa história.

Floriana não chegou a ver a tristeza nos olhos azuis da loira, uma dor que fazia contraste com o sorriso falso usado como máscara. A mulher gato só pensava na grande aventura que iria ouvir. 

Todo o assunto envolvendo a Grande Floresta de Dante foi lentamente sendo esquecido durante aquele dia, podiam cuidar dele depois é claro. Assim prosseguiram sua tarde, sem imaginar que o maior horror de suas vidas sairia daquela mata em um futuro não muito distante.

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