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Capítulo 13: Fraco

O graveto de ponta afiada acertou a fruta madura assim fazendo com que ela caísse no chão. “Ele” havia melhorado e essa era uma razão para que ficasse feliz.

Próximo as raízes daquela árvore grande de copas cheias, estavam várias frutas e cada uma delas tinha um daqueles gravetos pontudos as atravessando. O goblin respirava com cansaço, pelo seu couro verde escorria água salgada provocada pelo calor bruto daquela tarde de sol.

Desde que pudesse se concentrar, poderia acertar seus alvos próximos. Manusear a arma humana parecia fácil como nunca foi antes, as dores no braço foram aliviadas com o tempo e seus dedos não mais ardiam.

Suas costas estavam mais retas e isso é algo que havia passado despercebido pelo monstro. Ao se acostumar com a posição necessária para utilizar a estranha arma humana, passou a caminhar com uma postura que embora não fizesse diferença, diminuía as dores que sentia no grande osso em suas costas.

O monstro agora buscava se aprimorar ainda mais no uso dos objetos que roubou. Precisaria aprender a atirar em alvos ainda mais distantes e também naqueles que se moviam. Muitos objetivos para ocupar alguém com pouco a se fazer.

Suas capacidades de se mover em água também melhoraram, treinar em locais onde ela não corresse foi uma decisão acertada. Trocou a agonia de bater a cabeça em pedras pela de não conseguir respirar após afundar e preferia que fosse dessa forma.

Chegava cada vez mais perto (ou assim imaginava) do que desejava alcançar. Vencer o grande cipó que faz sssss parecia cada vez mais possível.

Havia apenas mais uma coisa que o monstro desejava se tornar capaz de fazer, “ele” queria caminhar pelos galhos. Seu encontro com os humanos peludos o fez pensar em muitas coisas e uma delas foi sobre o que os fazia tão perigosos.

Não era força, pois eram mais fracos que muitos dos monstros com os quais brigavam e não era inteligência, uma vez que conseguiam ser distraídos pelo rolar de uma pedra. A característica que os diferenciava de qualquer outro habitante daquela selva era o modo como se locomoviam.

Esses animais eram uma ameaça tão grande porque não podiam ser pegos, não do alto das árvores. Monstro algum poderia os alcançar, pois ninguém naquela floresta conseguia escalar os galhos como eles.

Até aquele momento pelo menos.

Escolheu uma de tronco longo e sem muitos galhos no início. Mesmo podendo enxergar no escuro, aproveitou a luz do sol que costumava afastar predadores. Colocou a palma de suas mãos contra a madeira dura cheia de lascas e tentou usar suas garras para se prender.

Então posicionou os pés contra a árvore e tentou subir com os membros daquela forma. Não se elevou mais alto do que um ramo de grama e caiu no chão.

Agora que pensava melhor, sua nova tarefa de alguma forma lhe dava a sensação de ser mais difícil que as anteriores. Muitos seres se moviam na água, muitos usavam armas. Entretanto, além dos humanos peludos e do cipó que faz sssss, o goblin nunca havia visto criaturas que caminhassem pelos galhos. 

Os pensamentos do quão impossível era aquilo ocuparam sua cabeça por muito pouco tempo. Havia conseguido usar a arma humana que lança galhos e conseguia se mover razoavelmente bem na água. Se não desistiu até aquele momento mesmo em frente às grandes dificuldades, não poderia ser derrotado por um grande pedaço de madeira que nem se movia.

Seu novo método era agora colocar braços e pernas ao redor do tronco. Então usaria a força de sua cintura para se mover em direção ao céu. Começou muito bem, sua pele resistente já acostumada com a dureza das paredes dos túneis pelos quais passava, o protegeu de qualquer ferida que as lascas da árvore pudessem provocar.

O que iniciou sem problemas, terminou de forma dolorosa. Os membros cansaram quando o goblin não havia chegado sequer a metade do caminho. Ele fechou os olhos sabendo o que viria a acontecer e da forma que previu, seu corpo caiu ao chão.

Já havia se recuperado do encontro com os humanos peludos, no entanto cair daquela forma fazia com que lembrasse da sensação de ser jogado contra as paredes sem ter como se defender. 

Sua mente tinha ciência do fato de que agora ele estava afastado daqueles animais, eles não poderiam o machucar naquele momento. Ainda assim sentia em suas costas um arrepio dizendo que a qualquer momento a grande fêmea apareceria para o matar.

Caso se concentrasse conseguiria ouvir os sons dos urros dela e de seus rosnados. Olhando com atenção identificaria os movimentos das folhas das árvores denunciando a presença de seres vivos no alto. Cheirando com força até sentiria o fedor da caverna deles. Ouvidos, olhos, olfato, todos eles encontrando sinais.

Sinais que não existiam fora de sua cabeça, sem sons ao redor, sem galhos balançando acima de sua cabeça, sem o cheiro de pêlo sujo.

Estava com medo, conseguiu se distrair com as muitas coisas que queria fazer, porém uma simples queda foi o bastante para lembrar de como estava assustado.

“Ele” era fraco, era tão pequeno e frágil. Qualquer coisa poderia o matar e isso o fazia ter vontade de correr para sua caverna e não sair mais, como muitos dos seus iguais costumavam fazer para se manterem vivos.

Por qual razão, “ele” entre tantos goblins tinha que ser diferente? 

Não sentia falta dos seus iguais, mesmo mas noites geladas onde a proximidade de outros corpos poderia fornecer calor não desejava estar com eles, a pequena criatura verde não sentia frio.

Entretanto começava a questionar, se não seria melhor ser como um deles e aceitar que nunca seria mais que um monstro fraco destinado a um fim doloroso?

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