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Capítulo 16: Luta sob as águas.

Estar no escuro e não enxergar era estranho, sentir desconforto quando luz nenhuma era visível. As outras espécies viviam assim? Temendo a escuridão que sempre foi tão gentil com “ele”?

O goblin não sabia como qualquer criatura poderia viver daquela forma. Não desejava passar por muito mais tempo daquele jeito, assim tentou alcançar o alto.

Bateu seus braços e balançou suas pernas, já não era tão incapaz como quando desafiou a água que corre e mostrou isso subindo para mais próximo da superfície. Cessou seu movimento apenas quando notou algo próximo de si.

Algum ser que não podia identificar, se abrisse seus olhos, apenas iria os machucar. Estava no escuro e não se sentia bem. Poucas vezes se encontrou em uma situação que fazia seu estômago se contorcer como aquela.

Somente soube o que se aproximava quando foi pego por tal criatura. A boca do cipó que faz sssss se fechou ao redor do pescoço dele, ali imaginou que estava acabado.

Não foi tão desesperador como imaginou que a chegada do sono eterno seria. Até sentiu vontade de rir, afinal “ele”, um goblin tentou enfrentar um animal naturalmente mais forte. Tamanha idiotice só poderia terminar com fracasso e mesmo assim tentou.

Não era engraçado?

Pensou que sim, no entanto ainda considerava de alguma forma necessário. Aquilo o fazia diferente dos seus, quase único. Jamais sentiu ser especial antes, se fosse morrer assim, morreria melhor do que qualquer outro goblin.

E de forma mais lenta também, aquilo estava demorando. Não estava ansioso pelo seu fim, porém sempre imaginou que seria mais breve do que como estava acontecendo. 

A mordida do cipó que faz ssssss não estava lhe matando ou o ferindo. Cumpria apenas o propósito de lhe manter imóvel, incapaz de se defender enquanto o corpo da criatura se enrolava no seu. O aperto cada vez mais tenso, não o bastante para impedir seu peito de bater, não o suficiente para que esmagasse seus pulmões. Se o animal desejava alcançar algo com aquela ação, não estava chegando perto de o fazer. A morte parecia lenta demais para o pegar e o goblin aproveitaria essa chance.

Já que a mordida do cipó não lhe causava dor, então a dele iria causar.

Fechou sua boca ao redor da pele lisa do inimigo, afundou seus dentes na carne macia, porém densa. Sentiu o sangue escorrer pela superfície de seus lábios e se perder na água.

Ainda sem efeito, continuou com sua mordida e enfiou suas garras no animal. Rasgou a pele da criatura com movimentos repetidos deixando muitas feridas abertas das quais vazava o líquido vermelho.

A mordida do inimigo não colocava fim ao conflito, a mordida que “ele” deu tampouco o fez.

Talvez a terceira mordida fizesse algo.

A mordida daquele que repousava no fundo do lago de águas escura. Seu sono tranquilo foi interrompido quando sentiu a suavidade do sangue, abriu seus olhos e foi atrás do rastro doce que denunciava a presença de uma presa.

O goblin não notou que esse terceiro elemento subiu das profundezas na direção deles, no entanto o cipó que faz ssssss sim. O animal mesmo objetivando matar o monstro, notou a ondulação na água e sentiu o calor que se aproximava.

Porte grande, quatro patas, uma pele de couro duro que possuía a cor verde escura. Mandíbula longa com uma fileira imensa de dentes afiados. Essa criatura era aterrorizante e teria paralisado o coração do goblin caso este conseguisse enxergar alguma coisa ali.

O seu captor escolheu uma prioridade, soltou aquele que lhe causou tantos problemas e usou seu corpo esguio para desviar do ataque que vinha. O animal para um lado e o monstro para a direção contrária, assim a mordida daquele vindo do fundo abocanhou o vazio.

Não precisava enxergar ou ter sentidos superiores para entender que mais algo havia se juntado ao conflito. “Ele” aproveitou essa oportunidade inesperada e nadou até a superfície. Quando metade de seu corpo saiu da água, puxou o ar com desespero e de forma tão ansiosa enquanto iniciou sua jornada até terra firme.

O goblin alcançou a terra molhada e tentou se levantar sobre ela. Algumas vezes caiu por escorregar, mas foi capaz de se afastar da água. “Ele” deitou suas costas na terra e respirou aliviado, estava vivo, mas não tinha ganhado.

Sentia que o conflito não havia nem mesmo acabado. Uma das duas criaturas sairia do fundo do lago, fosse o cipó que faz ssssss ou aquele que surgiu inesperadamente. Qualquer um que viesse à superfície, teria como objetivo devorar o monstro.

A estranha arma humana a essa altura já devia ter afundado, os gravetos pontudos provavelmente tinham as profundezas da água como lugar de descanso. Se fosse lutar, teria que arranjar uma nova forma de matar seu inimigo independente de qual dos dois fosse. Não se sentia confiante.

Descobriria qual em breve, pois os dois alcançaram a superfície. O seu primeiro inimigo se enrolava no corpo do segundo, impedindo que movesse seus membros curtos ou sua cauda longa. Restringindo os ataques mortais de sua boca aterrorizante.

Tão imóvel que alguém despercebido poderia acreditar que estava morto, porém o goblin sabia que ainda não. O que lhe indicava isso não eram os sons saídos da garganta sufocada, ou a forma como a boca do animal tremia tentando se abrir. O que “ele” via eram os olhos verdes correndo de um lado ao outro, desesperadamente buscando algo, qualquer coisa que o salvasse.

Isso era algo que o monstro podia entender, animais também temiam pelo fim de sua vida. Talvez todos os seres assim fizessem. Qual o nome desse sentimento? De entender o que o outro passava e se colocar em seu lugar?

Não importava de qualquer forma, foi por apenas meros segundos que conseguiu sentir o que o outro sentia. Tinha alguém mais importante para com quem se preocupar, o cipó que faz sssss e a si mesmo.

Uma vez que os olhos desesperados se tornaram tão imóveis quanto o corpo que os possuía, o goblin em silêncio desejou que o animal tivesse um bom sono e se ergueu.

O cipó que faz sssss se desenrolou com suavidade e se encaminhou até a terra firme. Não avançou rápido, não saltou com desespero. Apenas seguiu calmamente com seus movimentos ondulantes quase hipnotizantes. Encarou o goblin durante o percurso e se ergueu quando fora da água.

“Ele” ergueu as garras amostra e rosnou enquanto respirava fundo. Resolveria aquilo de uma vez por todas com as próprias mãos.

Ou morreria tentando.

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