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Capítulo 20: Órgãos e o que eles trazem.

Ela parecia despreocupada, não dava atenção à presença do goblin enquanto focava no que quer que estivesse fazendo com a serpente (esse era o nome da raça do cipó que faz ssss, um nome divertido de falar). A mulher não usando mais que suas garras retirou a pele do animal morto e jogou no chão. O corpo estava em cima de uma grande madeira plana, mesa é como tinha chamado antes.

“Belos furos.” Comentou abrindo o corpo do antigo inimigo do goblin. “Verme, você até é impressionante.”

O monstro nada disse, não havia nada para falar. A estranha continuou com seu trabalho calmo e silencioso até que parou. Seus olhos vagaram pelo corpo e após isso pelo seu visitante. A Bruxa pensou por algum tempo até se decidir.

Com cuidado ela abriu um ponto mais abaixo com suas garras e enfiou sua mão no buraco recém feito. De lá retirou um pedaço de carne com formato curioso, pequeno e cheio com quatro lados dos quais saiam ramos de carne. A estranha sorriu com seus dentes afiados.

“O órgão limitador, quatro veias grossas. Duas fechadas, duas abertas, como esperado de um animal.” O sorriso que tinha sumiu ao olhar novamente para o que chamava de verme, imaginou se devia explicar detalhadamente o que era aquele pedaço de carne, não valia a pena se aprofundar, não para aquela criatura tola. “Todos os seres vivos com órgãos tem, ele ainda faz par com outro.”

Com cuidado colocou o tal órgão em um canto da mesa e saiu do lugar em passos rápidos adentrando mais em seu lar. Quando voltou, tinha em suas mãos um instrumento incomum, um metal grosso que ela enfiou na cabeça da serpente com cuidado. Quando retirou o objeto, enfiou suas próprias garras e abriu a cabeça da criatura.

Delicadamente usou duas de suas garras para retirar outro órgão (parece que era esse o nome dos pedaços de carne que ficam dentro do corpo), dessa vez parecia uma tira dando voltas em si mesmo, como um caracol. A Bruxa ignorou o outro grande órgão enquanto erguia o primeiro de forma bem visível.

“O Transformador, sempre alojado entre camadas do cérebro, embora não faça parte deste último.”

A mulher pegou também o Limitador de seu canto na mesa e levou os dois até onde o goblin esperava em silêncio. Suas mãos abertas ofereceram os dois para o monstro com um sorriso conhecedor na face.

A criatura verde aceitou os dois de forma hesitante. Os segurou em suas mãos sem entender bem o que deveria ser feito deles.

“São melhores quando comidos crus.” Dando as costas para ele, retornou ao corpo morto da serpente. “Comer isso é o que permite aos monstros evoluírem.”

Evoluir.

Evoluir, deveria saber o que essa palavra significa. O goblin sentia em sua cabeça, uma dor crua o fazendo imaginar que devia saber o que aquela palavra significava. Era essencial para “ele”, para o que era.

“Após comer uma grande quantidade de Transformadores e Limitadores, monstros e animais evoluem se tornando algo novo e mais poderoso.” Quando terminou de falar, já tinha todo o corpo da serpente dividido em vários pedaços pequenos e seus órgãos espalhados pela mesa.

Se tornar algo novo, tal qual a árvore viva que viu há algum tempo? Tal qual os grandes animais verdes que conseguiam asas e sumiam nos céus. Era possível para “ele” evoluir?

Nunca antes viu um goblin se tornar algo novo. Mesmo que não fosse muito velho e os seus iguais não contassem histórias, as paredes das cavernas não tinham nem um desenho de algo dessa forma ocorrendo e as figuras na parede sempre preservaram o que era digno de ser lembrado por todos os goblins que nasciam.

Ignorante sobre os pensamentos de seu visitante, a Bruxa do Pantano caminhou com alguns pedaços de carne em seus braços e lançou dentro do grande objeto negro e largo sobre a flor vermelha que queima. A água colorida que antes tinha ali dentro foi trocada por água normal.

Se afastando do grande objeto foi até uma parede de formato estranho próxima ao goblin, abriu a madeira e “ele” pode ver ali uma grande quantidade de ramos, flores, cogumelos e gramas. A Bruxa pegou algumas das gramas e se dirigiu de volta ao grande objeto negro onde jogou as plantas depois de esmaga-las com as mãos.

O monstro a contragosto lambeu os dois órgãos em suas mãos. Lambeu os lábios tentando identificar se a carne iria fazer mal após comer, isso caso comesse. Dor alguma foi causada, pelo menos não era forte o suficiente pra fazer mal apenas com aquilo.

O monstro respirou fundo e de uma vez mastigou todo o órgão limitador. Nunca havia provado nada como aquilo, um gosto salgado na carne macia que se espalhava em sua boca e grudava nela. Não havia gostado, que pelo menos o transformador fosse melhor.

E foi.

A carne não tinha resistência e se espalhou em sua boca, engoliu com prazer e pensou que talvez fosse a melhor coisa que já comeu vindo de um animal.

“Ele” não sentiu nada de diferente em seu corpo, nenhuma mudança dentro ou fora de si que indicasse o tal evoluir. Quantos mais teria que comer? Fazia diferença de qual animal ou monstro vinham aqueles órgãos? A Bruxa saberia responder aquelas perguntas?

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz da mulher. Chamava o goblin para a mesa onde não estava mais o corpo da serpente e sim dois objetos fundos de madeira. Neles tinham a água e a carne misturados com uma cor diferente.

“Espero que goste de ensopado, embora você provavelmente nunca tenha comido ensopado em sua vida de verme.” Comentou enquanto enchia o próprio prato. 

O goblin foi até a mesa e pegou a comida que aparentemente era dele. Quase pegou a carne na mão e nesse momento sentiu um golpe fraco na sua cabeça. Ao olhar de onde veio aquilo, viu a estranha com um item que “ele” nunca viu antes.

“Use pelo menos uma colher.”

“Ele” pegou o objeto que ela oferecia e aguardou até a própria usar para saber como devia comer. Realmente, passar mais tempo com ela havia mudado seu modo de pensar. Se envolver com os trolls era pedir pelo próprio fim, entretanto estava disposto a isso.

Agora tinha um objetivo.

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