“Ele” acordou.
A floresta parecia diferente do que sempre foi e o monstro não era capaz de explicar como. O som das folhas estava mais alto e o vento que as movia era ruidoso demais.
“Ele” se ergueu com dificuldade e quando de pé sentiu uma falta de equilíbrio. Logo caiu de costas no chão e gemeu com dor. A força que precisava usar em suas pernas para ficar de pé agora era diferente, como se a parte superior do corpo exigisse mais do antes.
O monstro passou as mãos no quadril dolorido e notou algo interessante, a roupa estava colada em seu corpo, muito diferente de antes quando ficava folgada. De qualquer forma, estar vestido ainda o incomodava.
Sua segunda tentativa de ficar em pé foi muito mais bem sucedida. Entendeu a nova força que devia usar para se manter erguido e então olhou para baixo se surpreendendo com o que viu.
Suas pernas sempre haviam sido tão fracas, finas e patéticas (uma palavra que aprendeu com a bruxa e significava algo digno de pena). Membros medíocres para um monstro ainda menos do que isso.
No entanto, ali estavam elas, fortes, grossas e duras, até mesmo bonitas. “Ele” colocou uma mão em cada lado do quadril com as palmas abertas, então as levou até a frente de seu rosto seu aumentar ou diminuir a distância entre elas.
Até mesmo seu quadril havia ficado mais largo?
Com um semblante incrédulo levou uma não a sua cabeça. Assim que a tocou, afastou seus dedos rapidamente com medo. Respirando fundo, de forma hesitante tocou no topo de sua cabeça novamente e sentiu uma coisa estranha. A segurou entre seus dedos e puxou até estar a frente dos seus olhos.
Era preto e liso, era cabelo.
Sua boca se abriu no formato de O enquanto seus olhos ficaram arregalados. Cabelo! “Ele” agora tinha cabelo!! Levou as duas mãos até a cabeça e balançou os fios negros jogando-os todos para frente.
Era cabelo! Era muito cabelo!!
Ele sorriu e riu, quase mordendo a própria língua ao gargalhar e só nesse momento notou algo importante. Seus dentes tinham voltado, os tocou com seus dedos e os sentiu todos pontudos e afiados, como nunca foram antes.
Esperançoso encarou as próprias mãos achando que novas garras haviam passado despercebidas, porém não viu nenhuma ali. Estranho, pois o monstro as sentia como se ainda as tivesse e no então não era assim. Tudo ali eram seus dedos terminando em pontas cobertas por unhas normais. Dedos estes que estavam mais longos do que antes.
Assim, como seu corpo parecia estar mais longo do que quando dormiu. Olhou ao redor notando seu arco e aljava caídos e não demorou para os pegar, com o segundo nas costas e o primeiro em mãos, correu.
Estava próximo de um lago e era lá que queria chegar, precisava ver a si mesmo. “Ele” havia mudado, havia se tornado algo novo como a Bruxa disse que faria.
Tinha evoluído.
Tinha evoluído!!!
Tropeçou em um galho e caiu rolando pelo chão da selva, isso não o incomodou. Se levantou enquanto ria e seu riso ficou ainda mais alto. O que era uma queda agora? Não importava.
Continuou correndo, “ele” pulou e girou sem entender a razão de o fazer, apenas fez porque sentiu vontade. Sua felicidade mandava que o fizesse.
Tinha evoluído!!
O que haviam sido todos os seus problemas até aquele momento? Os seus desafios? Suas lutas e derrotas? Havia valido a pena, toda sua história valeu a pena. Tudo por causa daquele momento.
Ao chegar ao lago, caiu de joelhos em sua beira e respirou fundo. Tomando coragem colocou seu corpo sobre a água e lá se enxergou.
Aquele era seu rosto?
Tocou nas próprias bochechas para provar e se assustou ao notar que sim, aquela era sua face. Uma pele lisa e gostosa de tocar. Os olhos amarelos continuavam cheios de malícia, no entanto agora pareciam tão agradáveis. O cabelo era mesmo muito grande, muitos pedaços caiam sobre sua testa e um grande descia em cada lado de sua cara. Atrás de si, os longos fios eram ainda mais volumosos.
Bonito, foi seu primeiro pensamento.
Isso o fez abrir a boca surpreso, jamais havia pensado em si daquela forma, ou em qualquer outro de seus iguais (ou antigos iguais).
Com os lábios abertos, notou sua nova dentição, afiada e mortal. Caso mordesse o próprio braço com aquilo, sem dúvida sangraria muito. Talvez não tanto caso mordesse a própria perna, uma vez que parecia muito mais forte.
E pensando nos outros membros, percebeu que era o momento de se ver inteiro. Todo o seu corpo em toda a sua extensão.
Hesitou com isso, “ele” agora seria diferente, algo completamente novo e distante do que um dia foi.
Mas o monstro sempre havia sido um goblin, nasceu como um e antes de sua mente mudar estava bem em ser um, morrer sendo aquilo que era quando veio ao mundo.
Estava pronto para mudar? Não, não estava.
E mesmo assim o fez, faria qualquer coisa e venceria qualquer luta para melhorar e a próxima era se ver. Soltando o ar que nem percebeu ter prendido, o monstro se levantou e mais uma vez estava de boca aberta.
De baixo pra cima se olhou. As pernas com já havia notado, eram carnudas e só nesse momento notou como eram atrativas. Um coxa grossa que termina num quadril afinado e ainda assim largo. A roupa de baixo parecia pequena naquela cintura e o monstro era capaz de notar um volume crescendo atrás do couro conforme se excitava vendo os próprios membros.
Passou sua visão para a barriga antes que ficasse completamente duro. “Ele” enxergava linhas bem traçadas onde antes havia apenas uma barriga volumosa. Seu abdômen (era esse o nome daquela parte do corpo, ouviu da Bruxa quando ela explicou sobre como retirar órgãos) tinha uma aparência que “ele” só havia visto antes nos monstros mais fortes. Levantou um pouco a roupa de cima para ver seus peitos tão definidos quando a parte de baixo e logo a vestiu de novo.
Um rápido olhar sobre seus braços era o suficiente para notar que agora poderiam usar novos níveis de força.
Estava satisfeito com o que era agora, suas preocupações anteriores sobre se tornar algo completamente diferente sumiram. Seu corpo agora era claramente muito mais forte, melhor em todos os aspectos, até bonito!
Isso o assustou, estava até mais bonito que a Bruxa do Pantano, lembrava até uma fêmea bonita. Mesmo sentindo seu membro, achou bom conferi dentro das roupas e sorriu ao o ver lá, estava até ainda maior que antes. Felizmente ainda era um macho.
E um muito bonito, nunca havia lhe parecido importante antes, porém agora notava como era bom a sensação de ter uma aparência gostosa de se ver.
Sequer notou a pequena vermelhidão que apareceu em suas bochechas quando passou a pensar nas coisas que gostaria de fazer consigo mesmo. O que não lhe passou despercebido foi a excitação e correu até seu lar para encontrar a goblin que lhe resolveria esse problema.
Apenas um tempo não muito depois que “ele” iria até a Bruxa do Pantano, curioso em saber o que era agora. Somente nesse momento entenderia o que era aquilo que havia se tornado.
Um hobgoblin.
