O hobgoblin mordeu a maçã verde que tinha em mãos e suspirou cansado. “Ele” estava sentado no topo de uma grande árvore, o sol quase se pondo na minha do horizonte.
Em suas mãos, além da fruta que comia, possuía um pedaço de papel com letras escritas. Seu arco confiável, repousando ao seu lado enquanto a criatura se dedicava ao estudo. Já havia memorizado todo o alfabeto e suas vinte sete letras, em relação a números já conseguia cobrar até oitenta e nove. Tinha feito um grande progresso de acordo com sua professora.
Estava um pouco entediado, desde sua evolução não havia passado por grandes emoções. Já conseguia enfrentar os animais perigosos de sua região e não era mais um desafio conseguir comida.
Por outro lado, não era louco (uma palavra legal que caracteriza aquele que perdeu a razão e sentido de sua mente) o bastante para sair desafiando os trolls, orcs e principalmente o povo macaco.
Povo Macaco, de acordo com a Bruxa do Pantano era este o nome daqueles que o perseguiam. Uma variação dos primatas, classificação ligada diretamente a um grupo específico de hominídeos, porém não a todos ou seria um ramo familiar? Precisaria rever isso em breve, já não lembrava direito.
Teria que arranjar logo uma solução para a raiva que os caminhantes dos galhos nutriam por “ele”, guiados por sua líder vingativa, entretanto ainda não havia chegado o momento para isso. O hobgoblin devia melhorar a si mesmo antes de entrar em conflitos.
É por isso que estava observando o acampamento dos orcs agora, tentando entender como lutavam. Terminado sua releitura das letras e suas combinações, passou a admirar os corpos em movimentos daquela raça e não estava impressionado.
Deu uma segunda mordida em sua maçã verde, uma forma que achava satisfatória. Era bobo, todavia gostava do som que a fruta fazia quando seus dentes separavam um pedaço dela a força de uma só vez.
Recentemente havia percebido isso e só há pouco tempo que perceberá muita coisa. Seus pensamentos pareciam mais claros conforme mais palavras aprendiam. Era óbvio, sabem bem como nomear cada coisa, emoção e ser, ficava muito mais cômodo organizar as suas idéias.
Agora, o que fazer?
Os orcs estavam longe de ter algo a ensinar sobre lutas da forma que o monstro via. Aqueles no acampamento confiavam apenas em sua força e brigavam entre si apenas para permanecerem fortes, (como era mesmo o nome? O próprio hobgoblin percebeu que é o que fez com o antigo arco, seria traçamento? Trituramento? Era algo parecido, ah!!) treinamento é o que faziam uns com os outros.
Pura força bruta sendo usada entre eles, não bloqueavam ou desviavam de ataques e dessa forma vencia aquele com mais resistência ou maior ataque. “Ele” não possuía nenhum dos dois em grande quantidade, apesar de agora possuir em média razoável.
Uma última mordida no que comia antes de finalmente terminar e jogar fora.
Insatisfeito, se levantou e saltou para outro galho, se afastando cada vez mais do acampamento. Parou quando agarrado em uma árvore gigantesca, cujos galhos eram grandes o suficiente para manter até mesmo um troll grande em pé.
Escalando até uma dessas extensões do tronco (nossa, como estava gostando de usar tantas palavras pra pensar) se posicionou para tentar testar o pouco que aprendeu. Os orcs eram muito diretos em seus golpes, sempre socos e apenas isso. Quando armados, usavam os itens para bater independente do que fossem e por isso preferiam tudo que fosse pesado e maciço.
O hobgoblin já estava certo de que gostava de lutar a distância, cada dia ficava melhor no arco e em breve gostaria de encontrar coisas que a Bruxa do Pantano chamou de bestas e armas de fogo.
Para sua infelicidade, no entanto, também teria que aprender a lutar com o corpo quando atirar de longe não fosse opcional (opcional, que palavra engraçada, fazia ele rir).
A primeira coisa a testar seriam os socos que aqueles grandes monstros davam. Fechou sua mão e movimentou seu braço com tudo para frente. Dependendo de com quem lutasse aquilo era bom, rápido, vários poderiam ser dados em pouco tempo. Entretanto não seria útil contra oponentes muito maiores e com corpos muito mais musculosos.
Talvez em ângulos (ah como a Bruxa reclamou a noite inteira de como foi difícil que ele entendesse o que é um ângulo) diferentes o soco fosse melhor. Tendo isso em mente testou outro movimento que havia visto, dar um soco que ia de baixo para cima visando acertar o queixo do inimigo.
O hobgoblin sabia como um golpe no queixo era desorientador desde que feito da maneira correta. Entretanto não achou bom quando o executou, foi da exata forma que os orcs faziam e parecia tão ruim quanto eles. O ataque deixava muito do corpo amostra para ser atacado, o que não fazia diferença para os orcs que pouco ligavam para este fato, porém importava para “ele”.
Ele poderia executar aquele ataque enquanto desviava?
Foi isso que tentou, o mesmo tipo de soco, todavia inclinando o corpo ao fazer. Só percebeu o movimento involuntário que seu quadril fez acompanhando o ataque quando o terminou. Não só havia deixado menos espaço para ser atacado, tinha sido mais rápido.
O que fez de diferente para ser veloz? A inclinação? Isso não fazia sentido. Foi o quadril?
Tentou uma segunda vez e deu certo, usar o quadril ao socar era bom. Pensou consigo que devia fazer melhor aproveitamento de suas pernas, afinal eram a parte mais musculosa do seu corpo e as que mais poderia usar.
Talvez encontrasse uma forma de usar elas como meio principal de luta corpo a corpo?
De qualquer forma isso ficaria para o futuro, no momento iria apenas continuar testando os diferentes golpes que havia aprendido observando o acampamento dos orcs.
Talvez devesse ir até onde viviam os trolls também, quem sabe o que poderia ver com eles?
Riu um pouco, se continuasse assim, logo acabaria achando uma boa ideia viajar por toda a floresta de Dante para adquirir mais força.
O que…
Na verdade, não parecia uma ideia tão ruim.
