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Capítulo 31: Pouco tempo passou, mas passou

Os trolls não haviam mostrado nada de útil e assim o monstro voltou até seu lar onde continuou treinando os movimentos de seu corpo. Dias se passaram dessa forma, lendo letras, repetindo diferentes socos, atirando com o arco.

Ficou melhor em cada uma das três atividades, todo o alfabeto havia sido memorizado e conseguia entender algumas combinações de letras. Sua precisão estava superior ao que sempre tinha sido e o uso do arco já era tão familiar que poderia o utilizar com olhos fechados.

Já seus golpes? Havia percebido que para dar os melhores socos o que mais importava não eram as mãos ou os braços e sim como usava as pernas. Impulso podia ser formado com a forma que suas pernas e quadril se moviam no ataque o geraria ainda mais força em seus punhos. 

Somente depois de achar que estava socando razoavelmente bem, se dispôs a treinar o que seria mais importante e no entanto mais difícil. 

Precisaria usar suas pernas.

Aquelas duas coisas lindas eram as partes mais fortes de seu corpo. O principal problema é que nunca viu algo ou alguém que usasse os membros inferiores para lutar. Os orcs e trolls só usavam punhos, humanos apesar de lutar de muitas maneiras também não chutavam em batalha, o povo macaco focava em mordidas e no uso de objetos.

Se pretendesse brigar com as pernas, teria que criar seu próprio estilo de luta e ter confiança em sua própria velocidade. Já tinha ideias do que faria, porém para conseguir isso teria que ficar mais rápido.

É por isso que estava correndo, na borda da Floresta de Dante. Havia um ponto onde a selva acabava e se estendia aquilo que a Bruxa do Pantano havia chamado de planície. Um campo extenso onde só havia grama, pedra e alguns poucos animais pastando. Além dessas terras vazias, se afastando da floresta estavam os terrenos dos humanos.

De acordo com sua professora, a vila mais próxima ficava há apenas algumas horas de caminhada. Um lugar pequeno com não muitos habitantes, próximo a ela teriam outras vilas mais numerosas distantes por ainda menos horas de viagem. Se “ele” passasse por todas elas e seguisse reto então chegaria no que era conhecido como cidade, essa em específico tinha o nome de Alighieri.

Talvez saber essas coisas fosse útil no futuro, não seria custoso as lembra. Cada vez mais sua memória ficava melhor, quanto mais aprendia mais difícil se tornava esquecer das coisas. Sentia que seu cérebro se adaptava conforme recebia mais informações, trabalhando para guardá-las de forma segura.

Devido a isso, deixou os estudos de lado por um tempo para focar em seu corpo. Todo dia estava correndo na borda da floresta onde não havia obstáculos para o atrapalhar. Os resultados era pequenos até aquele momento, quase imperceptíveis.

Ainda assim notou que conseguia ser mais rápido, gastar menos fôlego, até suas pernas cansavam menos. Permaneceria com aquela repetição todos os dias, até que finalmente sentisse que estava pronto para criar sua própria forma de lutar.

Pela tarde voltaria para seu lar que agora ficava cada vez mais cheio. Procriar com a goblin que salvou mostrou suas consequências e logo ela ficou grávida, a criança levou duas semanas para nascer e isso foi estranho. Goblins eram gestados (e gestação é outra palavra que lhe fazia rir) em menos de três dias, o que de acordo com a Bruxa era porque espécies fracas se reproduzem em grandes quantidades num curto período de tempo. Quanto mais fraco é o monstro ou animal, maior sua capacidade de reprodução. 

Entendeu a demora do acontecimento apenas quando nasceu e viu que não era um goblin, mas sim um hobgoblin tal qual “ele”. Claramente mais fraco e menos inteligente que o pai, mesmo que superior a goblins comuns nos dois aspectos. 

Ao decorrer do tempo gerou mais desses seus novos iguais, seis deles que já haviam começado a procriar entre si e logo dobrariam o número. Nessa velocidade se tornariam uma tribo numerosa e por essa razão trabalharam para expandir a caverna criando assim novos salões.

Foi muito feliz o momento que descobriu não ter perdido suas garras, apenas que ganhou a capacidade de as retrair para quando não houvesse necessidade de as utilizar.

Outra coisa que o deixava alegre era esse crescimento do que seria uma tribo. Não por apego a seus iguais, desejo de companhia ou afeição a sua prole. O que gostava era aquela nova sensação que só pode provar quando levou a goblin para seu lar, o sentimento de mandar em algo, de controlar.

Era bom.

E vivendo calmamente nessa rotina de treinar com arco, correr, aprender com a bruxa, aumentar sua tribo e repetir tudo outra vez, se passaram:

“Seis meses, uau.” A Bruxa do Pantano falou enquanto remexia alguma coisa em seu caldeirão negro. “Imaginar que nós nos conhecemos há meio ano, eu nunca conseguiria imaginar isso.”

Ela olhou para o hobgoblin no outro lado da casa, sentado no chão com um pergaminho em suas mãos. A mulher revirou os olhos, nunca entenderia o interesse dele em seus velhos livros de táticas militares. Relíquias velhas que havia recebido (talvez roubado) do antigo emprego.

“Você poderia pelo menos prestar atenção em mim quando estou falando.” Reclamou, embora soubesse que “ele” a ouvia.

Aprenderam muito um sobre o outro nesses meses que passaram juntos. Ela viu como aquele monstro era perspicaz, como não deixava detalhe algum despercebido, era astucioso e perigoso.

Gostava dele, quando passou a o considerar um amigo? Não fazia muito tempo, provavelmente havia sido no início do quinto mês. A Bruxa nunca teve muitos amigos, tampouco fez questão ou procurou os ter. Entretanto era difícil não gostar da companhia do hobgoblin, ele era quieto, não era invasivo, não incomodava com ações bobas e depois de aprender sobre boas maneiras foi mais educado do que a maioria das pessoas que ela conheceu.

Naturalmente “ele” veio se tornado um dos quatro amigos que ela havia feito nos últimos trinta e quatro anos de vida. O monstro por outro lado, mesmo que não houvesse ouvido ainda sobre as relações entre indivíduos e não compreendesse o que é amizade, via nela o único alguém que gostaria de não perder.

ouço.” A resposta dele veio mais baixa que um sussurro.

A mulher só havia ouvido por já esperar que o monstro diria alguma coisa. Era raro que falasse e quando falava era assim tão baixo que ela nem sabia descrever a voz dele ainda.

Um dia ainda teriam uma boa conversa!

O que infelizmente não era em breve, até onde ela sabia, seu amigo planejava naquela mesma semana começar a explorar as terras nunca antes mapeadas da Grande Floresta de Dante.

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