O hobgoblin voltou ao que chamava de seu lar, buscando se preparar para a viagem que iria fazer. Consigo levava apenas sua aljava com poucas flechas, quinze delas, seu arco e quatro coelhos mortos que segurava com uma mão pelas orelhas.
A pequena caverna em que vivia já não tinha nada do qual um dia foi cheia, sem restos animais ou armas roubadas. A única coisa notável era o grande buraco ao fundo, distante da entrada.
Entrou nele e seguiu por um longo e estreito túnel que descia cada vez mais nas entranhas da terra. A sensação da terra dura sob seus pés e do pouco ar pra respirar o acalmava e tornava aquela pequena caminhada mais confortável.
Depois de andar por alguns minutos chegou a uma grande câmara, nela haviam outras oito entradas que levavam para outros salões no subsolo, alguns guardavam coisas e outros estavam vazios. Neste principal em que estava não havia nada de notável, apenas uma grande cadeira feita de madeira e couro. Distante dela, sentados no chão enquanto prestavam sua atenção em algo que faziam, haviam quatro hobgoblins, três fêmeas e um macho. Um deles notou a nova presença no salão e cutucou os outros para que também notassem.
“CHEFE!” Gritaram as vozes altas e escandalosas.
Aquela prole falava muito mais do que “ele”, embora tivessem muito menos em suas cabeças para dizer. Nunca conseguiu os ensinar a falar frases complexas ou a ler, sequer a contar. Ainda assim conseguiam fazer tarefas simples que dependiam pouco da inteligência baixa deles.
“Flecha! Flecha!!” Gritou uma delas pegando várias flechas caídas do cão e levando a “ele”.
É por isso que tinha voltado, deixou com sua prole a tarefa de criar mais munição para seu arco. Algumas ficaram com tamanhos disformes e a ponta de pedra não era particularmente boa, entretanto ficava feliz de as ter.
Jogou os coelhos para os hobgoblins e guardou suas flechas na aljava. Caminhou calmamente até sua cadeira e sentou nela para refletir.
Enquanto estivesse fora, aqueles que ficavam para trás iriam sem dúvida dobrar os seus números e então repetir o ato. “Ele” não planejava grandes períodos fora, apenas alguns dias explorando e então retornar, descansar e voltar a explorar.
Ainda sim, pouco tempo era o suficiente para a alta libido dos hobgoblins. Estava contando com isso, aumentando muito mais os membros daquela tribo. Gostava bastante de estar no topo de uma hierarquia, de ordenar e ser obedecido, era bom.
Além do prazer, também era útil. Teve relativo sucesso em ensinar sua prole a lutar e para sua felicidade notou que os próprios seriam capazes de ensinar a outros iguais. O líder planejava ter mais, muito mais deles e treinados.
Então partiria para lutar com os homens macacos. Seis meses não foi o suficiente para que a raiva da grande fêmea sumisse. “Ele” não poderia evitar aquela luta para sempre e mais do que isso, desejava possuir as pirâmides em ruínas que eram dominadas pelos que caminham nos galhos.
Se aqueles animais não fossem tão estúpidos, talvez conseguisse fazê-los obedecer. Infelizmente jamais conseguiria os controlar, não da forma que pretendia fazer com outros povos daquela floresta.
Tinha um objetivo bem claro.
Seis meses disse a Bruxa, um longo tempo desde sua evolução, o bastante para que entendesse a si mesmo. Notou seu gosto por muitas coisas, maçãs verdes e azedas, o frio das manhãs de garoa, o sexo, ler e até uma simples conversa.
No entanto, o que mais gostava era dominar, possuir e controlar.
Só sentiu esse prazer quando passou a ter os hobgoblins lhe servindo. Futuramente teria muito mais, era ambição, essa palavra define bem os seus pensamentos.
“Ele” se levantou e partiu rumo à saída da floresta. Seus servos o observando partir sem questionamentos, o mais forte iria embora. Enquanto fora os que ficaram lutariam para decidir quem iria mandar, mas um dia o mais forte voltaria e então todos iriam se ajoelhar.
Do lado de fora, o hobgoblin respirou fundo. Talvez passasse na cabana do pantano, sua professora provavelmente teria algo a pedir, algum ingrediente presente nos recantos mais obscuros da Grande Floresta de Dante.
Era grato a ela, muito havia sido ensinado a “ele” pela reptiliana. Evolução, o modo como as sociedades se organizavam, magia e outras coisas. Havia muito que ela guardava para si e o hobgoblin tinha noção disso, entretanto deixaria que ela o escondesse por um tempo.
Inevitavelmente teria tudo o que quisesse.
É para isso que partia naquele dia, de norte a sul, leste a oeste, pisaria nos principais pontos daquela gigantesca selva. Conheceria as principais raças e povos, se tornaria muito mais forte do que já era. E depois disso?
“Ele” os dominaria, os possuiria, os controlaria.
O Rei da Grande Floresta de Dante, ou qualquer coisa parecida com isso. Não se importava com o título, apenas com o poder.
E desejava ter muito poder.