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Capítulo 34: Dia chato e trabalhoso

As planícies eram monótonas e essa era uma palavra chata igual ao significado. Nada podia ser visto no horizonte, sem animais ou construções, corpos d’ água ou outras formações naturais. Apenas um mar (adoraria ver o mar um dia) verde pelo qual agora caminhava.

O sol poderia ser castigante para qualquer outro, porém depois de suas corridas, o hobgoblin notou que o calor do astro nas alturas não o afetava tanto como antes de evoluir. Característica estranha para uma criatura subterrânea, mas não dava importância a isso.

Não sentia sede, podia passar longos períodos  sem beber água ou comer, algo que a Bruxa disse ser característica dos fracos para sobreviver longos períodos. Provavelmente ela queria ofender quando disse aquilo, não deu certo.

Agradecia a essas características dos fracos no momento, tinha passado o que imaginava ser quase uma hora caminhando e iria gastar mais provavelmente. Tarde tediosa estava sendo aquela e “ele” pensava se alguém no mundo estava tendo um dia melhor. 

Com certeza alguém estava tendo um dia divertido, mas não era o caso de Caxias da cidade de Alighieri. O que é estranho considerando como aquela terra estava animada.

A cidade estava polvorosa em alegria, o Gran Duque ainda nas terras do sudoeste havia derrotado mais grupos mercenários que se formaram na última guerra. O acontecimento não iria fazer diferença na vida de nenhum habitante em Alighieri, mas ainda assim o povo preferia ficar feliz com aquele ocorrido.

Quando não se há muitas razões para sorrir, você procura qualquer motivo que justifique o fazer. O que não estava funcionando para o jovem caxias de qualquer forma.

Ele andava pelas ruas movimentadas de forma vagarosa, repleta de preguiça e sem nenhuma vontade. Quem poderia o julgar? Com certeza não era o único no mundo que detestava o trabalho.

Pior ainda, ele só tinha dez anos!

Infelizmente o pai adoeceu naquela semana e aparentemente os jardins da mansão do Gran Duque não se importavam com o estado infeliz do jardineiro. Para alegria do garoto, só ia precisar fazer o trabalho do pai no jardim pessoal do nobre e não em todos os jardins da mansão. Somente alguém que aprendeu com o jardineiro chefe poderia fazer aquele serviço e esse alguém era Caxias, o filho único.

Ele bufou e chutou uma pedra desanimado, a mansão ficava longe demais e o garoto já tava cansado de caminhar. Tá que seria estranho a casa de um nobre importante ficar perto dos bairros médios e não no centro, mas lógica não é importante para uma criança cansada.

O jovem teve sua atenção chamada quando passou em frente a guilda dos aventureiros. Ah como ansiava por estar dentro daquele edifício e viver suas próprias aventuras. Na mente infantil dele, lutar com monstros não podia ser outra coisa que não a mais pura diversão. Quem poderia o julgar?

Até onde sabia, naquela guilda tinha uma pessoa que lutou junto do grande herói que matou o Rei Demônio. Isso era simplesmente incrível. 

Ele olhou para as janelas do quinto andar com uma esperança infantil, poderia talvez ver a pessoa que tanto admirava? Era uma ideia tola, mas qual a criança que não tem a cabeça recheada por pensamentos desse cunho?

Sua distração foi desfeita quando ouviu as portas de carvalho se abrirem. De dentro do prédio saiu uma pessoa que já conhecia e isso o fez gemer de desgosto.

Naquele dia, Floriana estava usando calças de couro negro e camisa branca de mangas longas. Sua franja estava presa ao topo da cabeça e ela tinha muitos papéis nas mãos.

“Você de novo?” A mulher tinha desgosto no tom de voz.

As crianças não eram permitidas dentro da instituição, isso era política bem conhecida da guilda e ainda assim aquele garoto tentava entrar uma ou duas vezes por mês. Flor como uma funcionária, vez ou outra era encarregada de o botar pra fora.

“Cê não tem, sei lá, amigos da sua idade pra brincar não, moleque?”

O garoto não respondeu, não queria falar com aquela mulher chata, boba, idiota e nada legal que sempre dava bronca nele. Tudo que deu a ela foi sua língua pra fora e então correu antes que pudesse ouvir um sermão.

Floriana suspirou cansada, exausta pelo trabalho e também por ver aquele pirralho mais vezes do que gostaria. As pessoas tinham o costume de achar que por ela ser alegre e divertida (modéstia a parte) tinha que gostar de crianças. Grande engano, a felina detestava aqueles remelentos.

De qualquer forma deixou isso de lado naquele momento, ela tinha que parar de perder tempo, já estava no horário de almoço e ainda tinha uma última tarefa a cumprir antes de ir descansar.

Uma breve olhada aos papéis em suas mãos forçou outro suspiro cansada a se formar na sua garganta. Muitas cartas para enviar ao Gran Duque sobre os contínuos casos de contrabando. Apenas o nobre era poderoso o bastante para investigar algumas das possíveis rotas seguras da Grande Floresta de Dante e não havia previsão alguma para a volta do homem.

A mulher começou a andar, todavia logo foi parada por uma voz que questionava:

“Perdoe-me por atrapalhar a senhorita, mas por obséquio, poderia se não for incomodo me informar se por acaso aqui é onde trabalha a Rainha do Chicote Branco, Anabiela?”

Floriana se virou para dar uma boa olhada no homem que a parou. Não era estranho que fãs da Mestra da Guilda aparecessem aos montes, o que era simplesmente irritante. No entanto, aquele desconhecido não parecia se encaixar no padrão dos inconvenientes.

O estranho vestia um terno preto antiquado que parecia ter um estilo antigo demais para alguém que não parecia ser tão velho. Por baixo do paletó havia um colete vermelho onde um lenço branco podia ser visto em um bolso lateral. A pele do desconhecido era pálida e ele tinha um sorriso agradável que combinava com aquele bigode fino acima dos lábios. 

Os cabelos dourados caiam como cascata nas laterais do rosto e não pareciam bagunçados. Os olhos vermelhos, espera, azuis (por que havia se confundido?) a encaravam ansiosos por uma resposta, embora ele não a pressionasse. 

Em uma mão, o senhor que não parecia ter mais de trinta anos tinha um guarda chuva com o qual se protegia do sol, enquanto que a outra levava uma maleta preta.

“É, cê tem negócios com ela?” A aventureira perguntou desconfiada, muitos usavam desculpas esfarrapadas para falar com a famosa companheira do herói.

“Oh não não, sou apenas um antigo conhecido que pensou em dar um amigável olá.” Razão que fez Flor sorrir, muitos idiotas fingiam conhecer a Mestra da Guilda pra falar com ela, nunca dava certo. “Mas agora que penso melhor, é provável que ela esteja ocupada, prefiro não atrapalhar essa grande guerreira.”

E foi embora.

“O que? Cara esquisito.”

O estranho abordou ela, a interrompeu, fez perguntas toscas e caiu fora. Provavelmente por saber que nunca teria uma chance de falar com a Sra Anabiela. O que mais irritou a aventureira, no entanto, foi o sorrisinho irônico que o homem deu ao falar “grande guerreira”. Não sabia o que ele queria insinuar e que enfiasse suas insinuações no cu dele.

Saiu pisando forte antes que ficasse ainda mais irritada, já tinha perdido tempo demais, seu almoço estava atrasado e ainda tinha muitas tarefas. O dia estava terrível, mas não tinha o que fazer. Precisava cumprir suas tarefas, tinha um lugar para ir, todos tinham um lugar para ir.

O hobgoblin iria mais a fundo nas planícies.

Caxias iria para a mansão do Gran Duque.

Floriana iria para o correio.

E o desconhecido partia para a Grande Floresta.

Todos tinham um papel a desempenhar nessa grande história do mundo.

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