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Capítulo 35: A filha do Gran Duque

“Bote um sorriso no rosto Caxias, minha nana sempre dizia que cara feia é fome.” Riu um dos guardas no portão.

Aqueles dois folgados adoravam rir da cara do garoto quando este aparecia pelas dependências do Gran Duque. Não sabia os seus nomes então apenas os chamava de tio 1 e tio 2, mesmo que não tivessem relação alguma com sua família.

Os tios vestiam alguma armadura de prata que parecia muito desconfortável, apenas os capacetes estavam fora do conjunto e largados na calçada. O mesmo chão é claro no qual aqueles dois sentavam, em vez de guardar o posto seriamente sempre estavam vadiando e é por isso é claro que o garoto os chamava de Tios Folgados.

As únicas vezes que Caxias os viu de pé foram naquelas em que o dono da mansão ou outro funcionário estava presente. Aqueles porteiros pareciam ter um sentido sobrenatural que os alertava sempre que um superior estava por perto, nunca foram pegos descansando ou ignorando o serviço mesmo que sempre estivessem fazendo isso.

Era um sexto sentido da vagabundagem!!

Quantos anos de preguiça deviam ser necessários para chegar em tamanha proficiência na arte de não fazer nada? O garoto quase os admirava, quase, por que depois lembrava de que os dois eram uns idiotas chatos.

“Seu pai tá como?” O tio 2 perguntou com genuína preocupação.

“Bem.” Quando é que iam deixar a conversa de lado e permitir que ele entrasse?

“Hum, de minhas lembranças a ele, pelo menos o homem tem senso de humor” 

“Ia ajudar a aliviar esse clima pesado na mansão.” O tio 1 suspirou de gesgisto ao dizer isso.

“O que houve?” E a impaciência anterior de Caxias sumiu dando lugar a curiosidade infantil inerente a toda criança.

“A filha do Gran Duque caiu da escada e bateu a cabeça, já tem uns quatro dias que ela não acorda.” O tio 1 agradecia em seu interior por não trabalhar dentro da mansão e não ter nada haver com aquela história. “O Gran Duque respondeu a carta que enviamos dizendo que volta esse mês se ela não acordar.”

“Rezo a Freya que ela acorde, só os deus sabem o que o chefe fará com todos nós se ela não acordar.” O tio 2 levou a mão ao pescoço, pensando como era boa essa sensação de estar vivo e que pretendia permanecer assim.

“É, mas chega de papo, cê tem que parar de vadiar e ir trabalhar Caxias, seu preguiçoso.” Disse o tio 1 abrindo o portão dourado para que o garoto passasse.

“O que?!” Ele havia sido chamado de preguiçoso por aqueles dois? Aqueles dois?!

O menino fez sons fofos de criança irritada e andou com passos fortes ignorando os risos daqueles dois chatos bobocões. Só se acalmou quando não mais podia ver eles passando a andar calmamente.

O garoto estava naquele momento no grande jardim principal e era realmente, estupidamente grande. A casa dele cabia lá uma trinta vezes e isso é um número bem grandão. Cheio de flores e arbustos moldados na formas de animais, nada do que ele deveria cuidar felizmente.

Ignorando a decoração, caminhou pelo caminho gigante de paralelepípedos perfeitos e polidos até chegar na mansão principal. Caxias nunca viu um castelo, mas se perguntava se a mansão não podia ser considerada um. Era grandona, seis andares largos e cheios de cômodos pra tudo quanto é coisa. Seu pai dizia que levaram vinte anos para construir aquela residência e que a construção havia sido iniciada pelo bisavô do atual Gran Duque.

Subindo as escadas que levavam a porta principal, ele ficou nas pontas dos pés pra pegar a coisa de ferro presa na madeira que devia bater pra que alguma empregada aparecesse.

Não demorou até alguma surgir de dentro do edifício e com um tom de nojo falar:

“O filho do pobretão.”

Os olhos da mulher o analisaram dos pés à cabeça e não gostaram nada do que viram. A criança descalça (céus como podia ser tão porco) vestia um macacão velho que servia como única peça de roupa. A pele marrom do jovem estava coberta de suor e em alguns pontos até de terra suja. Os cabelos pretos curtos não estavam penteados e os olhos castanhos a encaravam com impaciência.

“Tsc, me siga.” Jamais deixaria que aquele pequeno porco entrasse na nobre residência e por isso dariam a volta na casa a pé.

Foi uma andança demorada, uma vez que aquele terreno era como pensava o garoto, estupidamente grande. Havia um campo para jogar, uma segunda residência menor para convidados, um prédio para empregados, um estábulo, armazém e por último a casa azul.

Este último lugar era a mais bonita de todas as construções, feita especialmente para que a falecida esposa do Gran Duque descansasse. Era pequeno se comparado aos outros prédios, mas transmitia um ar de respeito. Caxias sequer conseguia imaginar como era por dentro, ninguém além da empregada principal, do governante e do próprio Gran Duque podia entrar ali.

A razão de estarem ali era obviamente o jardim que circundava a casa. Uma profusão de flores azuis em diferentes tons, o que dava o nome popular daquele local. Haviam algumas ferramentas posicionadas na parede externa da frente do edifício e é com essas que caxias devia trabalhar.

“Você sabe o que fazer, tire as ervas daninhas e poderá ir embora e jamais, jamais entre na casa azul, estamos entendidos?” Somente quando recebeu o aceno positivo dele que ela continuou.”A senhorita Tundria está descansando lá dentro, se ouvir qualquer som corra imediatamente para a mansão principal e avise algum funcionário, estamos entendidos?”

E com a confirmação, ela foi embora deixando a criança sozinha com o trabalho infernal.

Oh como entendia aqueles dois tios no portão, mas ele não era um preguiçoso! Ia trabalhar mesmo que odiasse e como odiava. Ninguém merecia trabalhar embaixo de um sol quente arrancando ervas daninhas como ele estava fazendo e continuou a fazer pelas próximas duas horas. 

Ele só poderia beber água e comer algo quando terminasse seu serviço e ainda tinha metade do jardim para cuidar, queria nunca ter ido para a mansão naquele dia.

Mal sabia ele que aquilo ia mudar sua vida.

“Quem é você?” 

Caxias olhou pra trás assustado. Entre a porta meia aberta viu longos cabelos dourados que reluziam como ouro. Não dava pra ver bem quem estava do outro lado, embora ele soubesse quem era.

Olhos azuis curiosos e confusos olhavam para ele ansiosos por uma resposta.

“Eu sou Caxias, filho do jardineiro. Tudo bem com a senhora Lady Tundria.” Ele devia se ajoelhar? Qual era a palavra certa para chamar ela? Ah já tinha esquecido tudo.

“Q-quem sou eu?” Sua pergunta foi hesitante, quase assustada.

Por que ela teria medo de algo?

“V-Você é Lady Tundria, filha do Gran Duque da cidade de Alighieri, o poderoso… poderoso ventoso?” Ah que porcaria, tinha esquecido qual era o título do nobre, que vergonha, ele tinha falado uma grande besteira.

“Lady? Filha de um Duque?” Não era possível ver quais as reações da garota uma vez que se escondia atrás da madeira.

Caxias não soube o que ela sentia quando fechou a porta com força. No entanto, imaginou o que era quando ouviu ela gritar com um tom que parecia muito feliz:

“Aaaaaaaaah, que legal, eu estou em um isekai!!”

Bom, o garoto não sabia o que aquilo significava e nem se importava. Por ora só ia até a mansão principal avisar que a senhorita havia acordado.

“Espera, figurante!” A voz da garota veio de dentro da casa. 

A porta da casa azul foi novamente entreaberta, mas dessa vez uma mão o convidava a entrar.

“Você tem que me ajudar a descobrir que história é essa.”

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