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Capítulo 37: Pseudo-centauros

Oh como as coisas haviam dado errado para “ele”, muito errado mesmo. Seu plano ao avistar o acampamento centauro (apesar de que aqueles monstros não eram realmente centauros) não era passar direto, isso não acabaria tão bem quanto foi com os orcs. O que o hobgoblin planejou era dar a volta e continuar sua jornada. Iria pensar em como lidar com aquele povo no futuro.

O que infelizmente desconhecia é o fato de que aquelas criaturas eram exímias caçadoras, detentores de habilidades de rastreamento impressionantes. O que essas impressionantes capacidades fizeram?

Conseguiram deixar “ele” amarrado em um pedaço de pau no centro do acampamento deles.

Se é que esse termo serviria para designar aquele ambiente. Não haviam barracas ou tendas, qualquer construção que os protegesse das intempéries da floresta. Nenhum dos habitantes parecia se incomodar com isso. Em uma demonstração de equilíbrio e amor para com a natureza, viviam com o que podiam obter dela sem a mudar, a ferir ou a transformar.

As únicas coisas não naturais lá eram as grandes estacas de madeira na qual penduravam suas comidas e os tapetes de folhas onde mantinham seus potes de barro e utensílios. Em outras situações o hobgoblin poderia mostrar alguma admiração, mas não naquela.

O monstro estava com os pés e mãos amarrados por cipós em uma estaca no meio daquele acampamento. Havia sido capturado quando parou para beber água em um rio a leste dali, há apenas alguns minutos de caminhada. Se deixou distrair pela felicidade, afinal de acordo com a Bruxa do Pantano, seguir aquele rio o levaria até o litoral.

Ah, como estava ansioso para ver o mar.

Distraindo com os pensamentos lúdicos da visão que teria do oceano, foi cercado por um grupo grande daqueles pseudo-centauros (pseudo-centauros! Que nome ótimo para os definir, deveria anotar logo) e capturado.

Não transparecia, mas estava completamente tomado de medo. Por qual razão sempre acabava entrando em situações com alto risco de falecer?

Estranhamente, esse temor nascia apenas dos seus instintos primitivos. Sua racionalidade se encontrava calma, despreocupada. Mesmo que possuísse conhecimento de que aquelas criaturas repetidas vezes entravam em guerra com os orcs, não pareciam agressivas.

Poucos davam atenção ao hobgoblin e pareciam esperar algo para decidir qual seria o destino dele. As crianças estavam muito mais interessadas que qualquer um dos adultos.

Uma garota se aproximou tímida mantendo uma distância segura. Da cintura para baixo ela tinha um corpo equino coberto por pelo cinza, magro e membros finos. Na parte superior era magra de corpo subdesenvolvido, com a pele amarronzada e cabelos encaracolados longos.

Passos lentos e hesitantes na direção do prisioneiro. Ao longe algumas outras crianças observavam e riram, era fácil para “ele” compreender de que a pobre menina estava tentando vencer um desafio.

Com toda a coragem que era capaz de reunir, ela chegou perto o suficiente para tocar na bochecha do prisioneiro. Crianças realmente eram propensas a fazer coisas estúpidas devido aos desafios estúpidos de outros jovens estúpidos. Era muita estupidez.

O hobgoblin poderia fazer tomar muitas atitudes, assustá-la, morder seu dedo, cuspir em seu rosto. Escolheu apenas ficar quieto e deixar que a pseudo-centauro se satisfizesse o bastante para o deixar em paz.

Os outros adultos não davam atenção àquilo, era apenas a curiosidade infantil se manifestando e o prisioneiro não apresentava risco algum.

Mesmo que “ele” fosse um grande perigo.

Algumas ideias traiçoeiras surgiram espontaneamente em sua cabeça. Usar suas garras para cortar o cipó, usar aquela jovem como refém para conseguir ir até uma região arborizada onde ganharia vantagem. Poderia até dar certo, a única perda seria seu arco que ainda estava sob a posse de algum de seus captores.

Curiosa?” Mas por que ser violento? Era apenas um desgaste desnecessário da sua estamina.

“Ih!” Uma exclamação involuntária solta pela garota assustada que recuou alguns passos.

Ela não esperava que o monstro soubesse falar, a maioria das criaturas não tinha essa capacidade. Seus pais sempre falaram que seu povo era especial pelo amor à grande mãe terra e por essa razão tinham uma inteligência maior que os outros moradores da selva.

Estava de fato curiosa, sua tribo nunca ficava por muito tempo em um lugar da planície. Sempre se moviam para lugares diferentes onde havia comida e água, entretanto nunca entravam nas terras das grandes árvores e além delas.

Viviam outros povos ali? Eram inteligentes? Muitas questões ocupavam sua cabeça jovem. Nunca havia visto outras raças inteligentes além da sua, das pestes do céu e dos orcs (mesmo que esses dois últimos não fossem muito inteligentes).

“Eu tô, ocê é u que?” O tom era ingênuo, ausente de maldade como o monstro nunca havia visto antes.

Por um breve momento “ele” mostrou uma deixa de surpresa, jamais havia ouvido uma frase carregada de tanta inocência. Sua expressão impressionada logo foi trocada por um sorriso pequeno, convidativo.

Eu sou um hobgoblin.

“Hobgobin? Qui qui é hobgobin?”

“É o que sou.

A jovem parou pra pensar por alguns segundos, aquilo fazia sentido para ela. Se o monstro era um hobgobin, então é isso que “ele” era. A criança nem percebeu seus três amigos que se aproximavam também cheios de uma curiosidade infantil.

“Existe muito hobgobin?”

Alguns, não muito.” Sua resposta foi sincera, pois se baseou apenas nos que conhecia, sua prole.

Provavelmente haviam muitos outros pelo mundo, mas não tinha razão para incluir esse detalhe na sua reposta.

“O que é hobgobin?” Indagou uma daqueles que se aproximaram.

“É o que ele é.” Respondeu a primeira criança, orgulhosa de si mesma por agora saber algo que os outros não sabiam.

“Legal, existe muito hobgobin?” Foi a questão de outra criança.

“Não muitos, só poucos.” Mais uma vez respondeu a primeira garota a se aproximar.

O hobgoblin sorriu de forma carinhosa para aquele conjunto de filhotes. Os adultos eram ingênuos ou certos de que nada de ruim parecia acontecer. Se fosse pra tirar conclusões baseadas na inocência daquelas crias, esse povo não guardava muita malícia no coração.

E quanto a “ele”? 

Por ora, ia se aproveitar disso.

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