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Capítulo 38: Penteados e religião

Era difícil se aproveitar daquilo.

Crianças não mantinham muita atenção nas questões que ele perguntava e davam prioridade às próprias perguntas sobre o mundo distante da Floresta. Existia um pouco de diversão naquilo, no ato de explicar e distribuir conhecimento. O fazia se sentir mais inteligente que aqueles que o cercavam, um sentimento prazeroso.

De qualquer forma não eram ações sem utilidade, pois ainda conseguia tirar algumas informações dos jovens hiperativos que falavam sem pensar duas vezes sobre se o que diziam era ou não de alguma importância.

Assim, o hobgoblin aprendeu que a tribo dos pseudo-centauros era matriarcal, pois adoravam a mãe natureza. Atualmente eram comandados por uma guerreira e no passado foram liderados pela mãe dela, assim como antes essa posição foi ocupada por sua avó.

Essa chefe não estava no acampamento naquele momento, ela buscava junto de outros membros um novo lugar para seu povo se dirigir. Em sua ausência, a liderança recaiu sobre os ombros de seu irmão mais velho, este que foi responsável por ordenar e liderar a captura do hobgoblin.

Os pseudo-centauros eram pacíficos (na medida do que é possível na Grande Floresta de Dante) e evitavam conflitos uma vez que a destruição ia contra os desejos da Mãe de toda vida, Yebá Bëló.

Era fascinante, completamente fascinante. “Ele” nunca havia visto um grupo de monstros com religião antes, tanto que foi difícil para a Bruxa do Pantano lhe ensinar este conceito.

Ainda assim, ali estavam eles, os fiéis seguidores da deusa da vida e natureza de quem supostamente foram criados. O hobgoblin teria certeza de aprender mais sobre no futuro, ver sobre a fé na prática era notoriamente diferente de apenas ouvir.

Era essa crença que o manteve vivo, pois não enfrentavam quem não os fizesse mal. Talvez esse estilo de vida calmo fosse o que tanto incitava ódio aos orcs que viviam para lutar e por sua vez, a existência bélica desses monstros causava repulsa aos pseudo-centauros.

Vizinhos tão diferentes dos outros, isso era outro algo a se refletir no futuro quando estivesse livre e quando é claro, não houvesse crianças para o distrair. O preso havia passado de um divulgador de conhecimento para um brinquedo vivo e agora era um brinquedo vivo que divulgava conhecimento.

“Que tal tranças ao redor todo?” Foi a pergunta daquela primeira criança ao abordar.

É claro que não questionava o monstro, na verdade perguntava a sua amiga querendo ouvir a melhor forma de prosseguir. Elas já haviam feito tranças em seu cabelo, amarrado em espirais, feito franjas suspensas e repetido todo o processo.

A criança indagada era outra da mesma idade, uma que podia ser realmente considerada um verdadeiro centauro. Sua metade inferior era equina de cor caramelada, um pouco mais forte que a primeira, notavelmente mais saudável. Sua parte superior era branca e magra, ainda infantil, no entanto demonstrando alguns sinais da maturidade.

“Vamo fazer maria xiquinha.”

“Legal!”

E novamente começaram a trabalhar no cabelo do hobgoblin sem se importar em o questionar em busca de permissão. Não iria brigar com as jovens, não era benéfico. Paciência era de fato uma de suas maiores virtudes.

Os meninos tinham alguns interesses diferentes, as histórias contadas pelo monstro eram muito mais atrativas do que brincar de pentear. Contos sobre outras espécies com as quais a tribo nunca fez contanto, historietas fantasiosas e lendas sobre guerreiros valorosos.

“É vedade que entra humano da onde ocê vem?” Um deles quis saber.

“E que eles veste roupa de ferro?” Complementou um segundo.

“Eles veste roupa, qui esquisito.” Comentou a garota responsável por sugerir seu novo penteado.

“Hobgobin veste roupa!” Disse uma menina com um tom de surpresa como se não houvesse percebido até aquele momento.

“Poque ocê veste roupa?”

“É desconfotavel?”

“Poque seus peito é pequeno, moça?” Uma curiosidade vinda daquela responsável pelos seus cabelos.

E a última pergunta o fez erguer uma sobrancelha, era cômico. Tanto a pergunta quanto a confusão da criança eram de certo modo divertidas. A falta de malícia e conhecimento necessários para terminar naquela indagação eram dignas de alguma admiração.

Aqueles filhotes só podiam espelhar a personalidade e modo de vida dos seus pais. Somado isso a suas crenças, aquele lugar era um pomar com frutos suculentos a serem colhidos. O fazia ter água na boca.

Por que os seus são?

“Ah, eu so pequena.” Se justificou um pouco envergonhada por ela mesma não ser da forma que queria. “Mamãe diz que eu vo fica igual ela.”

Bom, eu também sou pequena.” Respondeu a dita ‘moça’.

“Ah, cê cresce depois.” E dando nenhuma importância voltou-se ao que merecia de fato sua atenção, o penteado.

Claro, mal posso esperar.” Sorriu para a pseudo-centauro como se realmente possuisse esperança de vir a ter seios grandes no futuro.

E mal podia esperar para sair dali também, havia aprendido as informações que eram necessárias no momento, qualquer conhecimento adicional poderia ser deixado para se obter posteriormente.

O monstro sentiu suas garras retráteis crescerem lentamente, uma pequena coceira nos dedos que sumia após a sensação de um estalar. Era uma atitude impulsiva, cortar as cordas e fugir, no entanto não possuía tempo o bastante para ficar naquele acampamento por muitas mais horas.

E quem sabe o que mais aquelas crianças iam fazer com seu cabelo?

Sua improvisada saída foi interrompida quando seus olhos amarelos notaram uma movimentação ao longe. Alguns dos pseudo-centauros adultos deixaram seus afazeres e se direcionaram com um rápido galope até onde algumas figuras se aproximavam.

Logo o som de conversas altas e cheias de riso preencheram o ambiente. Cada vez mais os novos indivíduos se aproximavam da tribo até que se colocaram em seu seio. Eram outros de seus membros que acabavam de chegar.

Frutas nas mãos de uns, pequenos animais abatidos na mão de outros. O hobgoblin ouviu as pequenas crianças que o cercavam começarem a falar ansiosas sobre descobrir para onde iriam, sobre as diversões que um novo lar sempre guardava para eles.

O prisioneiro foi rápido em entender toda a euforia e animação que tomou conta daquelas criaturas.

A matriarca havia retornado.

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