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Capítulo 39: Matriarca Pseudo-centauro

O cenário que se desenrolou com a chegada da líder era inesperado e bastante curioso. Pouca ou nenhuma alegria foi mostrada com o aprisionamento do hobgoblin, embora inicialmente ela não visse problemas com as ações tomadas por seu irmão e o restante de seus iguais.

Era uma medida a ser escolhida para lidar com invasores agressivos e a matriarca não se mostrou contra isto, até é claro, descobrir que aquele monstro não havia invadido lugar algum.

“Capturado ao beber água rio?!” 

Foi o único momento em que ouviu a voz dela no início da tarde. Sua raiva foi passageira, se apaziguando quase imediatamente e ainda assim foi forte o bastante para que “ele” a ouvisse mesmo da distância em que estava. As expressões denunciavam o teor da conversa entre ela e seu irmão.

O mais velho justificava suas ações, estava apenas preocupado, se prevenindo para que alguma desgraça não se materializasse. As coisas seriam bem piores caso o monstro se mostrasse hostil e fosse tarde demais para voltar atrás.

Ainda assim Yebá Bëló nunca defenderia a hostilidade iniciada. Toda vida igualmente vinha dela e assim todo ser tinha igual merecimento da existência.

Seu povo só caçava para se alimentar e mesmo assim na maior parte das vezes mantinham uma dieta a base de frutas e vegetais. Sua tribo só lutava quando se fazia presente a necessidade de se defender e que geralmente era quando os orcs decidiam os atacar. 

Um estilo de vida na opinião do hobgoblin, mais que extraordinariamente estúpida e sem sentido. Os pseudo-centauros ao menos sabiam onde viviam? Quais existências os cercavam? Os perigos escondidos sob cada pedra e acima de cara árvore?

 Podia ser um milagre que estavam vivos, talvez alguma divindade com nome Yebá realmente os agraciasse com proteção ou provavelmente todos só fossem muito habilidosos e fortes.

Isso lhe dava raiva, com que direito eles viviam daquela forma? 

Existiam poucas leis na Grande Floresta de Dante, porém a mais importante delas nunca deveria ser esquecida. A ausência de força é um pecado que causa repulsa, a fraqueza é criminosa e a sentença por possuí-la é a morte. Quantas vezes “ele” não foi punido por ser fraco?

E lá estavam eles, os pseudo-centauros vivendo cada dia como se não houvesse uma guerra sem fim que os cercasse. Ensinando a seus filhotes sobre amor, sobre paz, sobre apreço à vida. Nojento.

Quando nasceu, seu pai havia tentado o devorar, literalmente falando. Comer a prole inútil seria muito mais cômodo e seguro do que se aventurar do lado de fora em busca de algum alimento. O hobgoblin mal sabia como sobreviveu por tanto tempo. Nem lembrava quando matou o pai ou se de fato foi ele quem acabou matando, na época todos os goblins pareciam iguais.

Raiva.

Alguém tinha que mostrar a eles o quão cruel era o mundo, que aquela vida pacífica deles era um desrespeito à própria natureza que amavam. As ideias que passavam por sua cabeça assustariam aquele povo inútil se viessem a tomar conhecimento de qualquer uma delas.

Enquanto a própria matriarca cortava os cipós que o prendiam, passou por seu cérebro atacá-la, rápido e preciso, visando seu pescoço para findar sua vida de forma imediata. Mostrar para aquelas criaturas patéticas o quão perigosa era essa floresta.

Não seria racional.

Ter que enfrentar a todos após essa ação resultaria em uma inevitável derrota, além de que provavelmente nem chance contra ela teria. A matriarca era em muitas formas de falar, formidável.

Sua parte inferior lembrava as ilustrações de cervos que viu na casa da Bruxa do Pantano, no entanto era muito mais musculosa e tonificada do que seria no animal. Sua pelagem era de um lindo azul claro por onde se espalharam manchas uniformes mais escuras.

O incomum era que sua parte superior também era de um azul sobrenatural que recobria toda sua pele cheia de cicatrizes. Se sua metade inferior era possuidora de grande força, a superior apresentava a mesma capacidade. Seu abdômen era tão bem trabalhado quanto o do hobgoblin. Os braços em si eram musculosos como os dele e o monstro havia ficado bom em reconhecer braços de arqueiros.

A força necessária para utilizar um arco pode muitas vezes ser subestimada. Puxar uma corda firme e tensiona-la a um ponto que dobra a própria madeira da arma exige muito mais do que aparenta. Manter a arma firme com uma mão enquanto a outra quase a obriga a se lançar para trás. Membros fracos não seriam capazes de utilizar um arco e o “ele” notou isso quando ainda como goblin se viu ficar mais forte.

Ela sem dúvida tinha os braços de uma arqueira.

O que mais chamou sua atenção na parte superior, no entanto, não foram essa parte do corpo. O que observou foram seus peitos, não pelas razões que isso normalmente o interessaria. Digno de atenção nos seus seios, era a falta de um deles.

Onde a mama direita deveria ficar, havia apenas uma grande queimadura indicando que um dia algo esteve lá. Uma mulher com apenas o peito esquerdo, por qual razão? Não cabia a “ele” perguntar, mas se interessaria em questionar um dia.

Não teria notado tanto se não fosse seus olhos perspicazes, aquela região do corpo dela era coberta por seus longos cabelos acinzentados. Cabelos que em seu topo apresentavam dois longos chifres de cervo da onde em pontos específicos cresciam ramos de flores.

“Perdoai meu irmão, ele só desejava o melhor para nossa tribo.” Ela falou notavelmente bem, uma certeza e eloquência em seu tom que nenhum outro pseudo-centauro apresentou.

Talvez a melhor capacidade de dialogar que o monstro havia visto na floresta, atrás apenas da Bruxa do Pantano e dele próprio. Quão mais diferente a matriarca era dos seus iguais? Era apenas fisicamente especial? Era possível que também seu conhecimento fosse mais abrangente?

“Não há problema, ele não faz errado.” O monstro deu a ela aquele seu sorriso simples.

“Oh!” Surpresa, obviamente não esperou inteligência daquela criatura, tampouco que possuísse a capacidade de falar. “Não foi certo, nós o retribuiremos de alguma forma… O que, quem é você?”

A mulher mal soube formular aquela frase, foi verdadeiramente surpreendida, mais que qualquer outra naquela tribo. Era a mesma reação presente no rosto da Bruxa do Pantano quando se conheceram, a feição de quem sabia que o hobgoblin não devia ser como era e mal conseguia acreditar quando o via.

Havia modos de usar sua descrença, mas antes que viesse a dar uma reposta, outros a responderam no seu lugar.

“É a moça hobgobin!”

“Ela é legal!!”

“Acho que ela é ele!”

“Ele conta histórias lá de fora!!”

“Ele é legal de ouvi”

“Ela também é arqueira”

As crianças ao seu redor… qual seria o termo mais apropriado? Corriam? Ou então galopavam? Suas partes inferiores eram equinas então o segundo termo poderia servir, ainda assim não eram animais. Talvez caso se permitisse alguma licença para usar metáforas, mas ainda seria metáfora caso realmente fosse o termo apropriado? Quem poderia dizer se era o maldito termo apropriado!!!

O hobgoblin notou que a matriarca o encarava como se esperasse a resposta de algo que havia dito. O monstro engoliu a seco e com seu tom baixo de sempre falou:

“Perdoe-me, mas às vezes tendo a me perder em pensamentos vagos, não escutei o que me disse.”

“Ele faz muito isso!”

“Hobgobin pensa muito!”

“Ela fala pouco!”

“Eu gosta quando ele fala!”

E então as crianças voltaram a galopar (usaria esse maldito termo) ao seu redor muito alegres a falar sobre o seu mais novo amigo de terras distantes.

A líder riu de forma contida, se os pequenos gostavam tanto dele, o monstro não poderia ser ruim não é? E ele era tão educado! Um tanto quanto charmoso, oh! E que corpo bonito. Daria um voto de confiança a ele, embora ainda desconfiasse de sua índole.

“Eu perguntava o que poderíamos fazer para nos desculparmos.” Foi essa a questão que “ele” não havia ouvido.

Era algo a se pensar, muito poderia ser feito a depender da reposta, ainda assim não possuía tempo o bastante para refletir sobre o questionamento. Quando planejava, gostava de planejar por longos períodos.

“Seu povo conhece bem a região?”

“Oh sim, todo o campo aberto foi explorado por nós ao longo de vários dias de viagem.” Sua resposta foi orgulhosa, mas não arrogante.

“Que bom, eu pensava em chegar até o mar, talvez um dos seus pudesse me guiar até lá?” Estava improvisando e até que estava bem, alguma ajuda em sua trajetória seria bem vinda.

“Oh, o mar?” Ela levou dois dedos aos lábios enquanto encarava o chão pensativa, era distante e até perigoso para se ir sozinho. “Levaria dois dias pra chegar e é perigoso.”

Obviamente a mulher tentava encontrar uma forma de negar sem que parecesse hostil, entretanto não houve chance uma vez que suas palavras foram interrompidas por outras.

“Se precisa de um guia que é forte e ao mesmo tempo confiável, por que teu irmão não me acompanha?” Sorriu aquele seu sorriso inquietante, mas agradável.

“Oh, que boa idéia!”

Dois dias inteiros, o bastante para ele planejar o modo que iria usar para ensinar aquela tribo sobre como iam contra a única leia da floresta.

Nunca deveria tê-lo feito prisioneiro.

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