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Capítulo 44: O homem dos pés virados

O Curupira.

“Ele” já havia lido muitos contos sobre aquela selva misteriosa em que vivia, as lendas passadas de humanos para humanos e os contos de criaturas extraordinárias. Leu relatos sobrenaturais dos mais diversos espíritos e monstros que nunca chegou a ver pessoalmente.

Nunca ouvi falar.

Mas sobre aquele ali? Era a primeira vez que ouvia sobre.

“Sinal de bom trabalho meu, as pessoa não vivem depois de encontro comigo.” O sorriso era confiante, mas não a ponto de demonstrar arrogância de qualquer tipo.

Felizmente o hobgoblin não era uma pessoa e acreditava não correr risco frente ao desconhecido, o que não significava que iria baixar a guarda. Seus olhos nunca saíram daquele ser de cabelos incendiários, mesmo quando pegou as roupas largadas no chão e as vestiu.

O Curupira não mostrava um grande interesse na criatura em sua frente, falar e estar com ele era quase uma obrigação. Sua tarefa dada pelos deuses era proteger a vida da selva e assim o fez, sua única razão para permanecer ali foi curiosidade, afinal aquele tipo de monstro não andava em sua mata.

“Curumim faz o que nessas bandas?”

“Ele” olhou para aquele em sua frente com uma expressão fria, seus olhos vagaram de cima abaixo analisando quem questionava e com uma voz monótona falou:

Coisas.

“Parece que curumim não confia em mim, tá certo, perigoso confiar na boa vontade de gente estranha.” O estranho parou sua fala por um momento como se lembrasse de algo, abriu a boca duas vezes para falar e nada saiu, as chamas de seu corpo se tornaram menores. Aquela fragilidade foi curta e logo sumiu para que voltasse a sua confiança de antes. “Mas curumim deve vida a mim, se não Caipora teria levado o curumim.”

Para onde?

“Não sei, talvez pra Mapinguari. Caipora precisa de ajuda, muito homem branco invadindo mata dela e ela não consegue matar a todos. O Mapinguari ajudaria ela se ganhasse alguma coisa, mas não é muito confiável.” Disse coçando a barriga e se sentado embaixo de uma árvore.

Mapinguari, outro nome que o hobgoblin nunca ouviu ou viu antes.

Homens brancos? Fala dos humanos?” Agora essa uma questão que o interessava, já tinha algum tempo que não encontrava humanos na selva.

“Ah sim, humanos, é como se chama o homem branco. Eles estão andando pela mata da Caipora, vários deles carregando caixas e sumindo.”

Sumindo?” Uma sombrancelha erguida em indagação.

“Curumim quer saber muito pra quem não diz nada.” O Curupira riu e olhou para o monstro com uma expressão gananciosa.

Eu quero explorar a floresta.” Admitiu cruzando seus braços, encarou os arredores sem se sentir seguro naquele ambiente estranho.

“Curiosidade, bom, maior que o medo como sempre.” O homem dos pés virados pensou se satisfazia o desejo de saber daquela criatura. Ele se levantou e começou a caminhar. “Te levo pra onde você tava.”

O hobgoblin refletiu sobre aquilo, nada garantia que poderia confiar no estranho mesmo que este houvesse salvado sua vida. Infelizmente não saberia retomar o caminho pelo qual chegou ali, confiar no desconhecido era um risco. 

Um que se mostrou disposto a correr, por isso andou lentamente a uma distância que considerava segurando bastante para se defender caso necessário. O passo deles era mais lento do que o desejado por causa do tornozelo torcido do monstro.

O Curupira não ousou oferecer um auxílio que claramente seria recusado. Orgulho era uma praga perigosa na opinião do pés virados, principalmente quando somado ao medo, combinação estranha. Por que não dar logo ao monstro o que ele queria?

“Eles entram em alguma parte longe da floresta, acho que é de outra dessas divisões que o homem branco chama de país.” O dono dos cabelos de fogos disse ajustando sua velocidade. “Entram na selva da caipora com caixas e muitas pessoas, então somem, é estranho.”

É impossível, como não são atacados por animais? Por monstros?” Aquela era a maldita floresta mais perigosa de todo o continente, como aquilo era possível.

“Por isso é estranho, não são atacados por nada e somem. Acho que entram debaixo da terra em um ponto e saem de outro, mas não sei.” Ele riu um pouco antes de completar com alguma alegria. “Bom que não é problema meu, é da Caipora.”

Parece que a pequena ladra tinha a mesma função daquele ser estranho de aparência extraordinária. Os dois protegiam a harmônia de regiões específicas da floresta, o hobgoblin não era capaz de encontrar um motivo para isso que parecesse válido.

Não enxergava prazer na atividade, embora se os outros enxergavam, devia bastar. No entanto, Caipora não mostrou interesse em proteger a vida dele dela mesma, então que tipo de seres ela protegia? Somente animais? O javali em que cavalgava era assustador.

A garota do mato não era importa de qualquer forma, não naquele momento. O monstro tinha mais com o que se preocupar.

Os humanos.

Como estavam entrando sorrateiramente na Grande Floresta de Dante e por qual razão o faziam? 

Tentaria discutir isso com a Bruxa do Pantano. A dor em seu tornozelo era apenas um segundo incentivo para a procurar, a mulher tinha as habilidades necessárias para curar aquele incômodo sem deixar quaisquer sequelas.

“Cá estamos nós.” Disse o homem vermelho quando chegaram as planícies.

Ao longe uma luz vermelha chamava atenção e clareava o corpo de um pseudo-centauro adormecido. No céu a lua já mostrava estar em queda e não demoraria muitas horas até o dia amanhecesse. Nem havia percebido que tanto tempo se passou.

“Fiz minha parte, volte sempre que quiser senhor monstro.” O Curupira disse com uma sorriso gentil. Sua expressão logo foi se tornando séria e seus cabelos de fogo mais intenso. “Mas lembre, na minha mata, nunca mate por prazer ou derrube uma árvore sem precisar. Faça isso e vai se arrepender.”

Por que você faz isso?”

“Por que?” Isso o surpreendeu, sua expressão sumindo com a surpresa, nunca foi questionado sobre isso antes. “É a função que os deuses deram junto com a benção e o nome.”

O hobgoblin não entendeu o que aquilo deveria significar, mas não queria mais permanecer com o desconhecido perigoso. Uma despedida cordial foi feita da parte do monstro e o Curupira caminhou por entre as árvores. A luz de suas chamas sumindo de uma forma que era impossível.

“Ele” chegou a perguntar se tudo aquilo não foi apenas um sonho estranho. Toda reposta necessária foi o tornozelo dolorido que gritava para parar de ser usado.

Sua primeira viagem estava sendo cancelada.

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