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Capítulo 45: Posso ter uma vida calma? Não!!

A vida era boa.

A vida era boa demais na opinião da Bruxa do Pantano, ou pelo menos aquele período dela. Sua infância podia não ter sido a melhor, afinal viver no Reduto dos Sangue Frios era um horror para qualquer criança. A adolescência não foi muito melhor se vendo presa aos caminhos da magia e do pocionismo. Fase adulta? Toda passada no trabalho e foi horrível, o chefe era um maníaco, os colegas, uns imbecis, e a carga horária insana. Vendo como um todo, a vida não era tão boa assim.

No entanto estava muito satisfeita com a forma que vivia naquele momento. Esses pensamentos surgiram quando apagou o fogo embaixo de seu caldeirão e alongou seus braços cansados. Terminou suas tarefas daquele dia e ainda era de tarde, tinha tempo livre, algo impensável quando ainda estava no antigo emprego.

O melhor era que estava sozinha, do lado de fora não haviam outros trabalhadores cansados, nos arredores não existiam pessoas para a incomodar e levaria muitas horas de caminhada até encontrar algum ser humano. Amava muito o isolamento.

Desde que saiu do Reduto dos Sangues Frios quando jovem, nunca mais encontrou qualquer lugar confortável como aquele, um ambiente de perfeito isolamento.

Uma de suas poucas amigas, Carmélia, a chamaria de muitas coisas. Antissocial, antipática, introvertida, impopular, desrespeitosa, acanhada, arisca, entocada e qualquer outra palavra que indicasse algum desprezo pelo convívio com outras pessoas.

A Bruxa nem por um momento em sua vida enxergou negatividade nos seus comportamentos, gostava daquele jeito de levar a vida. Apreciava os momentos de paz, a calma, a leveza do nada. Mesmo que fosse para ficar ociosa, oh, como amava banhos de sol onde não fazia nada além de sentir os raios de luz em suas escamas.

Não tinha muito tempo para esse hobbie improdutivo quando ainda trabalhava sob o comando de outra pessoa, sempre com uma lista de poções a fazer, sempre com uma batalha a lutar e mortes para fazer acontecer. Sempre haveria alguém para atrapalhar seus momentos de prazer simples.

Por isso gostava do hobgoblin.

O monstro não era verdadeiramente taciturno, ela viu isso nos poucos momentos que ele permitiu-se falar de algo que gostava, seu amigo falava muito e provavelmente adorava o som da própria voz. O que ela apreciava era sua calma, sua paciência e até a educação que aprendeu lendo histórias.

Havia dias onde a mulher não queria nada além de silêncio e jamais precisou o expulsar para algo assim, a criatura verde entendia suas vontades com apenas um olhar e não a incomodava com sua presença. Poderiam passar horas em silêncio, a reptiliana deitada sobre uma área aberta tentando sentir o sol sobre si enquanto ele se aprimorava em alguma coisa que não fizesse barulho.

A vida era boa demais.

Tendo tudo isso em conta, era fácil entender a raiva que tomou conta dela quando ouviu o som da água distante. Não eram os adoráveis jacarés que viviam lá fora ou qualquer outro animal aquático, alguém estava nadando e não era o monstro que sempre a visitava.

A Bruxa pensou em pegar seu antigo cajado guardado em seu quarto, mas não carecia dele para se manter segura, mesmo tendo ficado anos sem os usar, seus poderes ainda permaneciam como algo a ser temido.

Sua confiança não se abalou quando abriu a porta de sua casa e viu quem se aproximava, mas a raiva? Essa só fez aumentar com o reconhecimento de quem era este convidado mais que indesejado.

“Não se aproxime!” Nojo era quase palpável no tom de voz dela.

“Oh, madame C…”

Sua saudação foi interrompida pelo grito quase feral da mulher que exigiu:

“Não diga meu nome, seu bastardo.” Ouvir o nome que sua mãe lhe deu sair da boca daquele nojento faria seu estômago revirar como fez tantas vezes no passado.

O canalha não mudara nada desde a última vez em que se viram tantos anos atrás, oito para ser exato. Alguns dos fios loiros dela já estavam ficando mais claros, rugas quase imperceptíveis surgindo em seu rosto, porém o bastardo continuava igual.

Ela realmente odiava vampiros.

O homem mantinha o mesmo senso de moda antiquado com seu terno preto sempre igual e colete vermelho. Seu rosto pálido ainda possuía o mesmo bigode fino dourado sobre seus lábios e os cachos dourados caiam perfeitamente em cada lado de seu rosto. A mulher tinha certeza que se ele não fosse o que era, já estaria calvo no topo da cabeça fazendo assim uma imagem engraçada.

Com os braços para cima, ele fazia o possível para não molhar sua maleta preta e o guarda chuva que normalmente o protegia da luz solar que ela tanto gostava. Se não fosse o desprezo que ele causava a ela, teria sido possível sorrir com o quão cômico era vampiro debatendo suas pernas para não afundar.

“Eu preciso de um motivo, para não fazer você vomitar sangue e morrer cagando nas próprias calças.” Disse enquanto levantava um único dedo de sua mão direita.

“Eu peço perdão se de alguma forma a minha simples presença causa algum desconforto a vossa mercê, Primeira Tenente.” Não passou despercebido o desconforto que o título causou nela e o homem sorriu com isso. “No entanto, esclareço que meus objetivos com essa amigável visita são pacíficos e o que trago comigo é muito benéfico a ti, Primeira…”

“Não me chame assim!” Elevou sua voz com ódio, ele queria realmente tirar sua paciência.

A Bruxa do Pantano ergueu suas mãos e bateu palma, era isso, iria matar o bastardo canalha como desejou tantas vezes no passado. O estranho era que ele nada fez ao ver aquele movimento característico dela, com uma confiança que o filho da puta só tinha quando se achava no comando da situação.

E foi essa soberba que disse:

“Vossa mercê gostaria de ouvir minhas amigáveis palavras, tenho certeza que minha visita não poderia ser mais desagradável do que a da guarda real de elfos que vem para a A Grande Floresta.

“O que?!” Suas palmas permaneceram juntas no ar.

Era uma mentira, só poderia ser. Porém o bastardo ardiloso não inventaria uma coisa tão absurda para salvar a própria vida, para o bem ou para o mal ela o conhecia melhor do que gostaria.

“O interesse deles pode ser, é claro, bem mais destrutivo a teu modo de vida calmo do que aquele que o império apresenta observando calmamente essa selva.”

Por Anhangá, o império observava essa floresta?

Maldições e pragas! Pragas e maldições!! Ódio, que raiva!! Por que o mundo odiava tanto que ela tivesse uma vida calma?  Claro que poderiam ser só mentiras, mas ela só julgaria isso depois de ouvir tudo que o homem tinha a dizer.

Elfos e o império com interesse naquele lugar? 

O que diabos estava acontecendo com A Grande Floresta de Dante?!

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Olá, eu sou MK Hungria!

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