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Capítulo 49: Nomes e deuses.

Não foi realmente difícil voltar até a cabana do pantano mesmo ferido. Seu maior desafio teria sido atravessar o território orc ou dar a volta nele para assim retornar a floresta. Felizmente não teve problemas uma vez que a própria líder da tribo se ofereceu para ajudar em sua ida.

Era estranho como a mulher não mostrara qualquer desconforto em o carregar pelo trajeto, muito diferente de seu irmão que ficou bem incomodado inicialmente quando realizou a mesma tarefa.

O hobgoblin junto de si levava uma cesta de vinhas cheia de mandiocas e frutas, presentes dos vários pseudo-centauros com os quais foi obrigado a socializar. Gostou deles e isso só tornava pior a tarefa de os dominar.

Até mesmo aquela que seria a maior ameaça o tratou com respeito, vendo-o como mais do que apenas um monstro igual a tantos outros da floresta. Mesmo as crianças, apesar de serem irritantes, entregavam-lhe um carinho único. Talvez, só talvez não causasse mal aquele povo no futuro. Daria a eles o mesmo respeito que recebeu.

Desde que não entrassem em seu caminho.

A viagem com a Matriarca tinha sido tão agradável quanto a com o irmão dela, um pouco mais na verdade, pois dessa vez os dois trocavam algumas palavras durante o trajeto e assim “ele” aprendia novas coisas. Amava aprender e a Grande Matriarca tinha muito a ensinar, não, Grande Matriarca não, o monstro descobriu que devia chamá-la de:

Lauany?

“Sim, Lauany.” A mulher falou abrindo os braços e sorrindo sob a luz do sol que banhava os dois naquela planície. “Forte e poderosa, foi do que os deuses acharam certo me chamar.”

A frase soou bem familiar para o monstro e revirando suas memórias lembrou imediatamente que:

Foi o que Curupira me disse.

“Quem?”

Alguém que encontrei no passado.” Se revelasse que foi na viagem, sua mentira seria descoberta e por isso escondeu esse fato. “Curupira é seu nome, um que ele disse ter recebido dos deuses, junto de uma benção e uma função.

“Pele de Sarna? Nome estranho pra um batizado.” A mulher falou tentando lembrar se conhecia alguma figura do tipo.

O hobgoblin ficou curioso, o idioma do qual saiu o nome do estranho e o da mulher claramente não era aquele que falava e ainda assim Lauany (demoraria a se acostumar em chamá-la assim) parecia fluente. No entanto, o que mais chamava sua atenção era a origem por trás disso que no passado “ele” chamou de palavra especial.

Os deuses dão nomes a vocês? Todos vocês?” 

O monstro nem acreditava em deuses, não em Zeus e Odin que sempre eram chamados pelos aventureiros. Não no Anhangá que todo dia recebia uma oração da Bruxa do Pantano e não em Yebá Bëló que pregava um estilo de vida covarde e patético.

Ainda assim, a ideia se tornava cada vez mais plausível, talvez eles realmente existissem.

“Oh, não, não todos.” Ela riu como se o pensamento parecesse bobo. “Tem que merecer, qualquer um pode se dar um nome ou dar a outro ser, mas o nome que os deuses dão é diferente, você deve merecer.” Por alguns segundos o caminhar da mulher parou e ela tocou no lugar onde faltava um seio, balançou sua cabeça como se afastasse pensamentos negativos e voltou a andar. “Às vezes há um teste ou eles já o conhecem intimamente e sabem tudo sobre tu. Se um te respeitar, te achar digno ou capaz de realizar suas missões, o abençoará e o nomeará.”

Enquanto no passado teria apenas rejeitado essas informações por serem irreais demais, naquele momento o monstro as guardou com cuidado e questionou:

Quem lhe fez Lauany?

“Oh, a Mãe da Vida, Yebá Bëló. Ela me disse que eu deveria ser forte e poderosa para proteger os meus irmãos, manter nossa família segura.”

E o monstro não sentiu um único pingo de mentira naquela história. Cada vez mais se tornava propenso a acreditar na existência de seres tão fantasiosos quanto os deuses.

E indagava-se, poderia o próprio ganhar um nome seu?

Isso nunca pareceu importante no passado, mesmo após se tornar diferente de seus irmãos e pensar em coisas novas. Como a própria Pseudo-centaura disse, qualquer um pode se nomear e “ele” poderia ter feito isso, mas não o fez.

Era especial demais para o hobgoblin, seus olhos enxergavam um significado profundo naquela palavra especial. Era o modo de se apresentar ao mundo, de revelar quem era.

Lauany era Forte e Poderosa.

O que então “ele” seria? Do que poderia se chamar?

Tão preso a essas questões, não percebeu o tempo passar e só deixou de lado esses pensamentos quando foi chamado pela mulher. Esse era sem dúvida um de seus maiores defeitos, a facilidade com que se perdia na própria mente e passava a ignorar o mundo ao seu redor.

“Eu só posso te trazer até aqui.” Falou Lauany em frente a uma floresta densa no limiar da planície. “Eu ia gostar de ajudar mais, só que não posso ficar muito longe dos meus irmãos e não me dou bem em lugares com tão pouco espaço.”

Já fez o bastante, agradeço.” Respondeu o monstro descendo das costas dela e se colocando em pé.

Conferiu se o arco e a aljava estavam bem presos, após isso mancou um pouco na direção da mata fechada. Parou por um momento e se virou para a mulher que ainda estava parada.

Se eu quisesse um nome.” E ainda não tinha certeza se o desejava. “Como eu deveria chamar a atenção dos deuses?

“Oh, me desculpe.” Sua feição era triste ao dar essa resposta. “Eu não sei, um dia, a Mãe só veio até a mim.”

Entendo.” Respondeu aliviado, não sabia o que faria se ganhasse a informação. “Adeus Lauany.

“Até logo hobgoblin.” Deu as costas para o monstro e partiu em um rápido galope.

“Ele” suspirou e passou a mancar na direção do pantano, ansioso por alguma poção que lhe livrasse daquela dor incomoda. Foi assim que chegou a Cabana da Bruxa e imediatamente soube que acontecera algo ruim.

As janelas estavam fechadas, não havia uma única tocha acesa do lado de fora para afastar animais, típica fumaça que sempre saia da chaminé estava sumida e nem um único som saia de dentro da casa.

Alguma coisa aconteceu com a Bruxa do Pantano.

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Olá, eu sou MK Hungria!

Sei que a tradução mais aceita do nome Curupira é “Corpo de Menino”, mas não faz muito sentido com o jeito que ele na novel, então usei uma tradução diferente menos conhecida.

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