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Capítulo 51: Baforadas e pensamentos

Do princípio mais uma vez, vamos?” O monstro pediu com a mão direita na testa enquanto descansava o cotovelo na mesa. “Esse seu amigo é mesmo confiável?

“Não o chame de meu amigo! Anhangá que me defenda de um horror desses.” Bateu sua mão na mesa três vezes com essa negativa. “Essa é uma honra que poucos têm na vida.”

Oh, deveria me sentir agraciado? Distinto e especial?” Debochou com uma mão no peito como se estivesse surpreso.

“Não exagere, é mais o isolamento do que qualquer outra coisa, idiota.” Resmungou com seu típico mau humor. “O canalha pode ser um canalha, mas as informações eram timbradas pela Biblioteca de Emiac.”

A Biblioteca de Emiac? Você nunca me falou de algum lugar com tal nomenclatura, tampouco qualquer um de seus livros o menciona.

“Nunca pareceu importante, tsc.” Cruzou seus braços imaginando a melhor forma de explicar sobre o que falava. “O maior centro de conhecimento do mundo, eu acho, todo livro já escrito tem uma cópia na biblioteca, pelo menos do continente, além de ser um lugar para tráfico de segredos.”

Como isso seria possível?” Pensar na logística necessária por trás do empreendimento o deixava impressionado.

“Emiac tem espiões em todos os países, em todas as casas nobres, em organizações criminosas, em sede de guildas e lugares do tipo. Cada segredo por menor que seja é registrado e enviado a Biblioteca.” A mulher tomou um momento para recuperar o fôlego e então continuou. “Ela vende informações por preços altos e usa o dinheiro para conseguir mais.”

Consigo enxergar como um serviço tão requisitado pode vir a ser lucrativo.” Dinheiro, o monstro não tinha o menor desejo em o possuir e negligenciava a importância dessa invenção humana em sua opinião, superestimada.

“Falam que não é pelo dinheiro, nunca vi a mulher, nem sei como é, mas falam que não tem emoções e que só gosta de conhecimento.”

Posso apreciar o sentimento.

“Pode, não é?” Comentou com um interesse fingindo e um tom debochado. “É justamente a razão de estarmos tendo essa conversa e você fica mudando de assunto!”

Não mudei o tema de nosso diálogo em momento algum, é tu quem está se perdendo em meio a tanta ansiedade, controle-se mulher.” Não pediu, ordenou, pois o descontrole dela estava passando para ele.

“Inferno, disse pra mim mesma que ia parar com essa merda.” Disse indo ao seu quarto e voltando logo em seguida.

A Bruxa do Pantano voltou tendo em mãos duas coisas. A primeira era um objeto de madeira que remetia a um graveto fino e oco não muito grande com uma cuia em uma das pontas, não muito maior que o dedão dele. O segundo objeto era um saquinho de couro cujo conteúdo foi logo despejado na mesa. 

Ervas, secas e misturadas de modo quase perfeito caíram na madeira da mesa. Todas logos foram colocadas na pequena cuia do gaveto oco. Após isso, a mulher pegou um pedaço de papel da prateleira, foi até a lareira e o usou para botar fogo naquelas plantas no objeto.

O hobgoblin sem entender viu a réptil colocar a ponta sem nada do objeto nos lábios e provocar um efeito curioso. Ela puxava a fumaça da ponta usando o longo graveto e saboreava essa pequena nuvem cinza logo depois abrindo a boca e a soltando no mundo. A cada inspiração, baforadas saiam dela e do objeto igualmente.

Toda a ansiedade estampada no rosto da mulher sumiu e deu lugar a uma expressão calma e satisfeita.

“Eu digo que vou parar, mas realmente não dá. Cachimbo é o melhor vício pra se ter na vida.” Declarou se sentando outra vez e olhando para o amigo. “Quer experimentar?”

É interessante.” Comentou com uma feição curiosa e depois estendeu a mão para receber o item.

O monstro repetiu perfeitamente as ações da mulher e rapidamente sentiu a fumaça invadir os seus pulmões. Tossiu levemente sentindo o calor rasgando seu interior, a baixa intensidade de sua tosse impressionou a outra, mas “ele” não notou isso, estava absorto em apreciar aquela sensação. 

“Geralmente a primeira vez causa uma crise de tosse terrível.”

Existia um aroma que a fumaça não devia possuir, uma refrescância que não fazia sentido naquele produto do calor intenso. O monstro se sentiu mais calmo, podia ver como aquilo ajudou sua amiga a relaxar.

Afinal, o que é essa erva?” Questionou enquanto devolvia o objeto.

“São várias juntas, camomila, jasmim, erva-doce, cravo, hortelã e calêndula. Antes eu também colocava tabaco, mas é nocivo demais e foi um inferno pra largar.” Respondeu antes de baforar por alguns segundos. 

É uma sensação boa de fato, um hábito agradável talvez.

“Ah Hob, você não tem noção dos efeitos que minha mistura causa. É energético e revigorante, ajuda contra inflamações, alivia dores no corpo e na mente, melhora a circulação do sangue, ajuda contra o estresse, ativa a memória, auxilia no foco.” Ela cessou a lista para mais uma baforada e depois retomou a fala. “Ajuda até na resolução dos problemas.”

Parece, bom demais.” Seu tom baixo não muito animado e uma das sobrancelhas levantadas demonstravam seu ceticismo.

“Eu sou a especialista em ervas aqui.”

Somente porque não me interesso o suficiente nessa área.” Declarou apenas por orgulho próprio.

“Balela, seu loroteiro.” E também por orgulho, ela não acreditaria em tal absurdo.

O que se seguiu foi um silêncio confortável dos dois dividindo aquele cachimbo. Aproveitaram o momento de paz sabendo que passariam as próximas pensando no curso de ações que deveriam tomar, o pior para o monstro é que só havia ouvido de um dos dois problemas que a mulher disse terem.

Se apenas uma questão a deixara tão desesperada, era bom que houvesse erva o bastante para a noite inteira. 

Acha que o Império está de olho na floresta então?

“Não, não, pelo que o canalha me contou, foi um teste cancelado. O Imperador parece não acreditar na eficiência desse Ampliador de Desempenho ou ao menos se interessar.” Ela comentou com a mão no queixo pensando profundamente. “Aparentemente era uma pesquisa pessoal de alguém do alto escalão, mas o meu medo é que essa pessoa mande alguém aqui pra tentar encontrar algum resultado. Eu não posso ser encontrada.”

A mulher suspirou desesperançosa, apoiou os cotovelos na mesa e colocou sua face nas mãos abafando a vontade súbita de gritar. O hobgoblin pensou em silêncio, nunca ouviu o passado dela profundamente e não sabia quem ela era, tudo que tinha era suposição, porém obviamente a mulher se escondia de alguém.

Ei, não é muito, mas eu vou fazer o possível pra te ajudar a ficar segura.

Lentamente ela ergueu o rosto e tentou impedir o sorriso pequeno que deu. Não matar um goblin no passado foi uma das melhores decisões que já teve.

Em momentos de desespero é bom ter um amigo.

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