Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 52: Não são os nossos

“O segundo problema é algo que foi provocado por uma ex-colega minha.” Disse colocando seu cachimbo já sem fumo em cima da mesa.

Bruxa, qual é a obsessão das pessoas em seu antigo emprego com essa floresta? Falta o que? Seu chefe aparecer aqui?” O monstro questionou tamborilando os dedos na madeira da mesa.

“Impossível.” Respondeu de forma imediata levando aquela piada muito a sério. “E esse lugar é bom pra se esconder, quem vai vir aqui?”

Muitas pessoas, aparentemente, pelo que eu soube.” Comentou sem pensar muito sobre essa resposta.

“Espera, o que? Explica isso direito!” Exigiu apontando o dedo para o rosto dele.

Conheci alguma espécie de criatura, ou melhor, existência mística, um autoproclamado guardião protetor da floresta e dos animais preso a essa função por algum deus antigo que o batizou.” Falou esperando para ver a reação dela e notou que a mulher não ficou surpresa. “Não acha que é impressionante?”

“Um pouco, mas não muito.” Respondeu balançando a mão como se afastasse a um inseto. “Em outro lugar? Com certeza, mas nessa floresta? Não surpreende terem criaturas assim, os deuses davam bem mais bênçãos no passado.”

Realmente?” Não que desconfiasse das palavras de Lauany, porém se sentia mais confortável com as confirmações de sua amiga. “E se eu quisesse ser batizado por um?

“O que? Pensei que não tivesse interesse em um nome.” Estranhou a questão.

Até o tinha, mas junto com isso vinham os pensamentos que o atormentavam com essa ideia. Então mentiu para a mulher ao dizer:

Não é o nome, é o que ele traz.” E nenhum traço na fala indicou que fosse falsa.

“A benção? Eu não saberia dizer, foi-se o tempo em que os deuses caminhavam nessa terra.” A mulher mostrou um semblante triste ao sussurrar a última parte. “Principalmente os nossos.”

O que significa?

“Essa criatura, qual deus o abençoou?” 

Não sei, todavia conheci um monstro que foi batizado por alguma deidade que atende pelo nome de Yebá Bëló.” Falou lembrando da matriarca pseudo-centaura.

“A mãe.” Um sorriso singelo tomou conta do rosto dela, de uma pureza incomum. “Doce mãe de todos nós.” E logo a tristeza tomou conta daqueles olhos reptilianos. “As pessoas esqueceram nossos deuses, hob.”

Você me falou tanto sobre as religiões lá fora, sobre o Monte Olimpo onde teoricamente repousa esse castelo de Asgard.” O monstro ficou confuso. “Sobre Zeus e Odin governando suas famílias.

“Eles não são os deuses dessa terra, não são os nossos.” Explicou em um murmúrio, nunca antes o outro a viu tão melancólica. “Minha tribo sempre me ensinou o pouco que sabia sobre nossos antepassados, sobre Tupã e Anhangá, Jaci e Yebá Bëló. Era tão pouco o que sabíamos e quando deixei o meu povo, descobri que o mundo sabia ainda menos.”

Isso é difícil de compreender.” Falou ao refletir atentamente sobre as palavras da Bruxa. “Os deuses dessa terra foram substituídos então? Como é possível?

Considerado é claro que deuses realmente existiam e que suas capacidades condizem com as lendas passadas de geração a geração pelos povos.

“Eu não sei, mas foram de alguma forma. Infelizmente não posso ajudar, não saberia como contatar os deuses.”

Então, este Anhangá sequer respondeu suas orações uma única vez. Honestamente, eu não compreendo a sua devoção.” Falou cruzando os braços e dando a ela um olhar cético.

“Fé, ela não deve ser entendida, é para ser sentida.”

O monstro resolveu retomar o tópico anterior antes que devido a sua descrença, acabasse ofendendo a mulher em sua frente. Organizou seus pensamentos e logo ditou o rumo da conversa falando:

Supostamente, um grupo vasto de humanos vindos de outro país entra na Grande Floresta com um número grande de caixas e passa a se locomover por prováveis redes de túneis subterrâneos.

“Supostamente e provável? Não são termos que dão muito crédito a uma afirmação.” Debochou a Bruxa.

Não estou afirmando nada, apenas tecendo uma hipótese, um possível esquema bem elaborado de contrabando.

“Mas aqui?” Ela estava incrédula e levou a mão direita até o queixo em um movimento involuntário. “É uma operação arriscada demais, de qualquer forma é possível que não acabe nos envolvendo tão cedo. Temos mais com o que nos preocupar.”

O monstro apoiou o cotovelo esquerdo na mesa e colocou seu rosto sobre a palma da mão para pensar por um momento. Com o dedo indicador, deu toques fracos e repetidos na própria têmpora esquerda sem nem perceber.

A Bruxa do Pantano não interrompeu suas divagações, aproveitou o momento de silêncio para reabastecer o seu cachimbo e voltar a fumar.

O hobgoblin por sua vez pensava no problema dos humanos contrabandistas, embora possuísse questões mais importantes para resolver naquele momento, ainda teria que cuidar dos invasores.

Eu não quero aqueles contrabandistas na minha floresta.

“Oh, sua?” Ela deu um sorriso malicioso com o cachimbo entre os dentes. “Bastardinho ganancioso, desde quando ela é sua.”

Ainda não é, embora você deva ter certeza de que, inevitavelmente será.” Uma arrogância grande demais para uma criatura tão fraca.

“A única coisa que cresce em proporção a sua inteligência hob, é o seu ego e eu garanto a você, a queda é bem feia.” Declarou de forma sombria ao mesmo tempo em que produziu uma nuvem de fumaça.

Assim você me ofende, considero-me bastante humilde, de uma modéstia admirável.” Em um óbvio sinal de que brincava ao falar aquilo, colocou a mão no peito como se realmente estivesse incrédulo com as acusações da réptil.

Custava a mulher acreditar que aquele monstro que adorava tanto falar de modo eloquente, foi mudo algum dia.

E retomando ao principal tema de nossas discussões no dia de hoje, qual seria o nosso segundo problema? Não pode ser pior do que a possibilidade do Império voltar suas atenções para essas terras.

“Talvez seja, eu não saberia dizer. Os elfos podem acabar sendo tão ruins quanto no final.”

Elfos?!” Perguntou exacerbado. “Tem elfos aqui?

“Não, ainda não, mas virão em breve em uma busca.”

Em busca de algo?

“Não.” Respondeu ao passar para o monstro seu cachimbo. “Alguém.”

Picture of Olá, eu sou MK Hungria!

Olá, eu sou MK Hungria!

Espero que não estejam detestando o fato dos últimos capítulos serem todos diálogos entre o prota e a Bruxa. Gosto de escrever cenas assim, mas entendo quem sente falta da ação.

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥