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Capítulo 56: Um trajeto conturbado

A casa no pantano foi deixada para que a dupla fosse até a caverna e então a caverna foi abandonada para que os dois fossem até às montanhas. Não estava sendo um trajeto fácil, o que acabou por ser culpa da Bruxa. Vestidos já não são a melhor opção de vestimenta para se usar ao caminhar por uma mata densa, somado ao fato de ela não ter costume, acabavam tendo a programação atrasada.

Mais de uma vez ela pisou em pedras duras demais com seus pés descalços ou prendeu os dedos em raízes sobre a terra. O ataque de outros animais e monstros se tornaram mais frequentes, pois a dificuldade em se mover fazia dela uma óbvia presa em desvantagem.

“Solo frágil, tome cuidado ao pisar.” Alertou de última hora.

“O que? Aí!” Mal teve tempo de reagir antes de enfiar o pé em um buraco no chão e tropeçar.

O hobgoblin sorriu, era uma situação terrivelmente engraçada. Entre aquelas árvores, cercado por inimigos, “ele” era superior a ela. Melhor, mais habilidoso e bem preparado. Jamais seria daquela forma em situações normais ou em outros cenários. Era difícil conter sua vontade de rir da cara dela, mas preferiu evitar o conflito.

A mulher se levantou furiosa, bateu algumas vezes no vestido para se livrar da sujeira e seguiu em silêncio, tentando ignorar a situação e fingir que nunca aconteceu. Não iria chegar muito longe, um problema estava no caminho e apesar de ter notado, o monstro a alertou apenas no último momento.

Era divertido.

“Tem uma serpente sob essas folhas secas.”

“O que?” Questionou olhando para ele que estava atrás dela, para depois gritar de dor. “Aí!! Porra! Cacete!”

Ao pisar sobre uma pilha de folhas no chão, uma cobra listrada de coloração vermelha, branca e preta se revelou mordendo a coxa da mulher. Sua primeira reação foi descer a parte superior do cajado e acertar o animal com ela, fazendo assim as lâminas dividirem a criatura em três pedaços.

A mulher se agachou e massageou a área afetada, não seria fatal apesar do veneno. Sua espécie já nascia com resistência a intoxicação de todos os tipos. Ajudava muito no ramo de trabalho que escolheu . Ainda assim preferia não ser mordida por algum animal estúpido, o que seria mais fácil se aquele idiota não estivesse se divertindo as custas de seu sofrimento.

A réptil respirou fundo, inspirou tanto ar por suas narinas que sentiu a garganta congestionar provocando tosse. Sua segunda inspiração foi mais comedida, menos desesperada. Um exercício simples para tentar manter a paciência.

“Fique calma.” O outro mandou claramente se divertindo.

“Eu tô calma.” Mentiu apertando o cajado com força. “Eu tô muito calma, seu merdinha.”

O hobgoblin sorriu e caminhou calmamente passando ao lado dela. Poderia ter ficado quieto, mas onde estaria a diversão nisso?

“Tente manter teu rosto longe do chão e não pisar mais em animais, pode fazer isso por favor?” Disse já ficando a sua frente no caminho.

“Eu estou calma, eu estou calma.” Repetiu tentando convencer a si mesma e não sendo capaz. “Eu não estou calma, eu não estou calma! Seu merdinha!!”

A réptil segurou o cajado com as duas mãos e o girou na horizontal tentando acertar o tronco do hobgoblin com o rubi vermelho. Foi uma tentativa falha, pois o monstro apenas acelerou um passo e facilmente desviou. “Ele” se virou para olhá-la nos olhos e fez a ação mais infantil e estúpida de sua vida até aquele momento, mostrou a língua para ela.

Então correu.

Bastardinho, aquele canalha! A Bruxa não conseguiu se segurar e correu atrás dele apesar dos percalços. O físico entre os dois não se comparava e a mulher só conseguia o alcançar quando este assim desejava. Apenas para logo ser deixada para trás logo em seguida.

Obviamente foi a primeira a desistir, principalmente por não conseguir manter o rosto distante do chão ou os pés longes de outras criaturas vivas. O bastardo continuava sempre a sua frente rindo de forma contida, ali ela teve certeza de que o ditado é de fato real, pimenta no cu dos outros é refresco.

Felizmente, ele parou alguns metros à sua frente, próximo a uma moita e então atravessou caminhando. A mulher não entendeu a súbita parada, nas agradeceu que finalmente iria poder bater nele. Atravessando o mato alto, entendeu a razão da fuga ter sido cessada.

Em sua frente estava a encosta de uma área rochosa onde apenas poucas plantas conseguiriam crescer. Quanto mais distante da vegetação, mais a terra se elevava até terminar ao longe em uma montanha.

“Interessante, base sólida, e um rio desce da montanha.” Analisou a Bruxa se aproximando do hobgoblin parado. “É o início de uma cordilheira.” Comentou vendo a cadeia de montanhas que se formava. “Não sabia que tinha uma cordilheira na Floresta de Dante.”

Já do lado do hobgoblin ela girou seu cajado tentando atingir as pernas dele e o fazer cair no chão. O monstro simplesmente deu um salto sem nem mesmo se virar. Depois que a arma passou reto, “ele” se virou e olhou para a Bruxa, então sorriu. Abriu a boca com um ar de superioridade, estalou os dedos e disse:

“Terá que fazer melhor da próxima vez.”

“Você vai ver o melhor quando eu enfiar isso pelo seu cu e sair pela sua boca.” Xingou a ponto de um ataque de raiva.

O monstro riu, mas achou melhor recuar por ali, sua colega mal humorada poderia causar sérios problemas caso perdesse a paciência, mesmo que não houvesse chances dela o matar.

“O que acha da região?”

“Montanhas não são minha praia, mas esse lugar é bom pra se esconder. Vamos pelo menos dar uma olhada.” Disse tomando a liderança e caminhando a frente dele.

O hobgoblin permaneceu alguns segundos parados, pensou ter visto algo ao longe nas montanhas. Um vulto pequeno que saiu de dentro da rocha colossal e então retornou. Apenas uma visão provocada pelo sol em seu rosto. Aquela terra não era propícia à vida animal.

Sua mente disse que estava tudo bem.

Seus instintos, não.

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