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Capítulo 61: Ritos funebres

No final, os inimigos conseguiram chegar a um acordo de paz até que compreendessem melhor a situação. Orcs iriam até onde o Hobgoblin denunciou existir a presença frequente de seres humanos, os Pseudo-centauros fariam mesmo, claro, cada espécie em momentos diferentes.

O líder deixou claro que caso tudo se provasse uma mentira, garantiria uma morte lenta e dolorosa para o monstro que ousou encher seus ouvidos com falsos testemunhos. A reunião foi terminada em meio a um clima tenso e sem qualquer troca de cumprimentos, os invasores abandonaram as planícies. 

“Ele” observou os grandes monstros partirem levando consigo seus poucos mortos, da mesma forma que os pseudo-centauros recolhiam os seus. O cenário teria se tornado muito mais sombrio sem a sua interrupção. Ainda se perguntava, qual o problema que afligia tanto a tribo desesperada por cruzar a planície.

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz sempre suave de Lauany, se dirigindo não apenas ao Hobgoblin, mas também à mulher que o acompanhara até aquele local.

“Adoraríamos que ficassem conosco essa noite para jantar com nosso povo e participar de nossos ritos.” Falou com um sorriso gentil que nunca parecia adequado ao ambiente em que viviam.

O monstro encarou sua amiga, essa por sua vez encarou o sol se pondo ao longe. Estava ficando tarde demais, os dois enxergavam no ambiente noturno facilmente, todavia a chegada da escuridão sempre libertava perigos que apenas a luz do dia era capaz de confinar. Sobretudo para alguém tão religiosa.

Só precisaram de uma única troca de olhares para que se entendessem. A Matriarca ficou feliz com a resposta, seu irmão não mostrou expressão ou deu opinião enquanto partia para auxiliar no carregamento dos corpos.

A Bruxa gargalhou quando chegaram ao acampamento dos pseudo-centauros e duas crianças galoparam em direção a seu amigo repetindo frases sobre cabelo. Foi hilário ver a expressão do monstro se modificando e ficando em um ponto entre o desgosto e a inexpressividade.

Os ritos funerários foram como a réptil esperou que fossem desde que ouviu falar sobre como aquele povo adorava Yebá Bëló. Ela tinha muito o que conversar com a Matriarca e as duas mulheres o abandonaram à própria sorte tendo que lidar com as crianças animadas.

Foi interessante observar o modo como aquela espécie lidava com os mortos. Goblins teriam apenas canibalizado os cadáveres, mas os pseudo-centauros prepararam toras de madeira e as enfeitaram com pinturas de tinta feita à base de plantas e frutas. Os corpos mortos foram enterrados e os troncos colocados acima deles.

Muita madeira foi reunida em cima de um área pedregosa para que pudessem acender uma fogueira. O modo de criar fogo era assustador na opinião do monstro. Lauany se posicionou próxima a pilha reunida e segurou seu arco frente a seu corpo, segurou a corda entre seu polegar e seu indicador sem encaixar nenhuma flecha e a puxou o máximo possível.

Quando ela abriu seus dedos, a corda se lançou em alta velocidade para frente e quando atingiu a madeira foi responsável por um fenômeno sobrenatural. Do centro da arma, uma flecha incandescente surgiu voando em alta velocidade na direção do alvo. Quando o projétil atingiu a pilha, labaredas se ergueram e consumiram a madeira criando assim uma grande fogueira.

Era impressionante, era assustador.

“Disse que ela foi batizada por Yebá Bëló não é?” Comentou a Bruxa do Pantano depois de terminar sua conversa com a mulher.

Era tarde da noite, a dupla se encontrava um pouco mais afastada do círculo realizado em volta fogueira onde os pseudo-centauros cozinhavam mandioca. A réptil se encontrava sentada ao lado de seu amigo, uma das crianças se encontrava deitada, dormindo com sua cabeça no colo do monstro enquanto a outra lutava contra o sono.

“Ele” não olhava para ninguém, apenas para as estrelas. Seus olhos amarelos vagando pelo céu escuro que nunca seria capaz de alcançar, as luzes que jamais iria tocar. Existiam planetas no céu? Como o que vivia? Existiria vida nesses lugares?

Pensamentos lúdicos, nada importante para se preocupar.

Sim, ou é o que ela afirma ter acontecido.” 

“Eu a acho interessante, gosto dela.” A loira comentou olhando para a figura da qual falavam.

Ela é…” Ridícula, uma palavra que entalou em sua garganta e não saiu como desejou ter feito, no final acabou dizendo. “Exatamente o que o nome significa, forte e poderosa. Não entendo o sentido de toda essa cerimônia fúnebre.” Reclamou abandonando o céu noturno para encarar a fogueira.

“Claro que não entende, você não possui valores ou princípios, nem tradição e tampouco herdou uma cultura.” A Bruxa reclamou desgostosa. “E ainda se recusa a aceitar a minha, pois fique sem.”

Não vou me ajoelhar ao seu deus e agradá-lo, caso ele exista, com oferendas. Já ouço suas histórias, não é cultura o bastante?” Perguntou com um leve tom de irritação já tendo sua própria resposta.

“Sua descrença é nojenta, um dia você vai se ajoelhar um deus e eu digo isso com toda a certeza da minha vida.” Proclamou apenas para irritar o monstro e completou. “E vai ser por causa de um deus que você vai conhecer a derrota eterna.”

O Hobgoblin encarou a mulher, os sóis amarelos se encontrando. Ela tinha um sorriso cínico no rosto e ele não conseguiu sentir raiva mesmo querendo. Apenas riu junto da mulher, enxergando de um ponto de vista positivo, ser derrotado por causa de um deus é um modo muito extraordinário de perder.

Não demorou muito para que Lauany se juntasse a eles levando o jantar junto de seu irmão. As crianças gentilmente foram levadas a seus pais deixando os quatro adultos sozinhos. 

O monstro verde entre sua amiga e os pseudo-centauros, cada um com sua própria cesta larga e rasa recheada com mandioca. Como o próprio notara na primeira vez que dividiu a refeição com eles, aquele povo comia muito.

Felizmente, “ele” era igual.

“Ficaria ainda melhor com a carne de um javali assado.” A réptil comentou após morder alguns pedaços da raiz cozinhada.

“Oh, nós não comemos carne.” A pseudo-centaura respondeu com o nariz torcido em uma expressão de nojo, mas com um tom educado.

Mais de seus costumes, excêntricos.” Pensou na melhor palavra possível para expressar seu desprezo sem ofender.

“Você que não tem moral.” Rebateu a Bruxa.

“Ele” suspirou, aquela seria uma longa noite.

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