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Capítulo 63: Quase uma toupeira

Pela manhã o clima parecia mais ameno, a tribo toda mais calma. Alguns ainda mantinham o semblante triste, no entanto mostravam a feição de persistência de sempre, sobreviveriam a aquela dor.

Quanto aos dois visitantes, chegou o momento de partirem. A hospitalidade que receberam foi agradável e ao mesmo tempo desconfortável. Não pelo luto que tomou conta do acampamento, mas sim pela gentileza excessiva daquela espécie que chegava facilmente ao ponto de ser apenas irritante.

“Espero que a noite tenha sido confortável e sintam-se a vontade para retornar se desejarem.” Ofereceu Lauany quando os dois se despediram.

“Claro, voltarei algum dia.” Mentiu a réptil sem expectativa alguma de retornar no futuro.

“Hobgoblin.” A Matriarca falou se aproximando dele e segurando em suas mãos. “Obrigado por ontem.” 

Não foi nada Lauany.” Respondeu acenando com descaso enquanto se distanciava, sequer olhou para a mulher quando a respondeu.

Bruxa e monstro não andavam pelo caminho percorrido na noite anterior, ainda não era o momento de terminarem sua procura até então infrutífera. A busca no entanto, seria pausada até que a réptil conseguisse dar um mergulho no lago que ouviu existir próximo aquela área. 

A loira era incapaz de ficar um dia inteiro sem entrar na água, muito tempo sem banhar-se a fazia sentir coceiras por todas as suas escamas. Nenhuma doença, apenas um costume da mulher que se sentia mais a vontade submersa.

Você não vai consequentemente falecer se passar apenas um tempo a mais fora da água. É uma lagartixa, não um peixe.” 

“Me chame de lagartixa uma segunda vez e esse cajado vai entrar pelo seu cu pra sair pela sua boca. Seu verme.”

“Ele” riu, mas não cedeu a tentação de repetir sua fala anterior. Não duvidava da capacidade da outra de se tornar violenta. Iria deixar a discussão de lado, embora a loira não estivesse pronta para isso ainda.

“Qual o problema? Você mora debaixo da terra e eu nunca disse nada sobre isso.”

É apenas natural que eu esteja sob as camadas da terra, nasci no subterrâneo e fui feito para viver nele.”

“E eu nasci na água, natural que eu viva nela então.” Respondeu sorrindo, certa de ter vencido o outro em seu próprio argumento.

Na verdade, as duas afirmações, embora pareçam seguir a mesma lógica, não são pautadas em realidade.” Respondeu com o braço direito erguido, movendo os dedos com desdém. “Partimos do mesmo princípio, no entanto ao final, você não foi feita para viver submersa, você sequer respira embaixo da água.

A mulher estalou a língua irritada antes de o responder:

“Posso ficar até quatro horas seguidas submersa.”

Mas não um dia inteiro, ao contrário de mim que posso passar vários habitando o interior das cavernas.” Afirmou com um sorriso, contente de estar certo enquanto ela estava errada.

“Isso não é parâmetro para nada.” Negou cruzando os braços enquanto andava, aquele verme verde sabia como ser irritante.

Em outro ponto de vista, se deslocada de um ambiente aquático a um desértico, você não irá ter graves problemas.”

“Ah é?” Perguntou sorrindo sabendo que pegou ele em um péssimo argumento. “E se deslocarmos você pra uma área sem cavernas, vai ter problemas?”

Bem, entenda que, assim…” A desgraçada realmente notou uma falha no raciocínio lógico dele, por um momento o monstro parou de andar, mas logo retomou o trajeto. “Em uma suposta área sem câmaras subterrâneas, eu escavaria as minhas.” Mudou o assunto.

“Isso não responde a minha pergunta, mas é sério?” Questionou curiosa.

É claro, as cavernas que você viu minha descendência habitar foi esculpida através da rocha por nós.” Respondeu com um tom próximo do orgulho.

“Eu não sou mineira, mas até uma ignorante em relação ao assunto como eu sabe que escavar túneis não é uma tarefa simples.” Bem lembrava sobre a escassez de mineral na última guerra quando as minas do território demoníaco ficaram sem trabalhadores adequados que mantessem o fornecimento de ferro para fundição de aço.

Minha, antiga espécie, por assim dizer, sempre foi proficiente na escavação do solo. Talvez, uma única qualidade dela.”

“Não é possível que vocês simplesmente nasçam sabendo isso.” Incrédula, em sua cabeça não fazia muito sentido.

Você nasceu sabendo nadar, não nasceu?”

“Não é a mesma coisa, é aquele o lago?” Interrompeu a discussão quando avistou um corpo d’gua não muito distante.

Sim, e continuando, são circunstancias parecidas.” Permaneceu no assunto para ocupar o tempo.

“Não são nenhum um pouco, nadar é mais fácil do que cavar.”

Discordo, nadar é um desafio notável, demorei dias apenas para conseguir boiar acima da água.” Respondeu levemente irritado.

“É só mover o pulmão conforme a necessidade de se mover.” Ela respondeu com a simplicidade de quem diz o óbvio a uma criança.

Eu não sou capaz de mover meu pulmão se quiser.

“Ah, é mesmo.” A réptil respondeu e foi o que a fez notar uma coisa. “Discutir a dificuldade das duas é inútil.”

De fato.

Nunca seriam capazes de chegar a um consenso sobre qual tarefa apresentava a maior dificuldade se partissem apenas das próprias experiências pessoais. O corpo de ambos nasceu para desempenhar diferentes funções e carregando os instintos certos para realizar cada atividade.

Seu pulmão realmente muda de posição?” Aquela era uma informação que nunca ouviram antes.

“Sim, dependendo de onde está, fica mais fácil submergir ou emergir. Como você escava túneis?”

Ele ergueu os dois pulsos e deixou as mãos retas com os dedos estirados e bem visíveis. Suas unhas começaram a crescer e a engrossar, saindo diretamente da carne. Quando cessaram, estavam da mesma grossura dos dedos, grossas e negras com uma leve curvatura quase imperceptível.

Pontudas, porém não afiadas. Quem visse, mesmo sem conhecimento biológico, saberia que não foram feitas para lutar, pouco serviriam em um combate contra um predador.

“Eu lembro disso, é assim que elas eram quando você era um Goblin. Parecem garras de toupeiras até.”

Desconheço esse tipo de monstro, de qualquer forma as uso pra escavar o solo, enxergo na falta de luz e nunca precisei de muito ar para respirar.” Capacidades que sempre lhe pareceram muito naturais.

“É, interessante.” Afirmou quase tendo dito impressionante. Preferiu não alimentar o ego da criatura já muito arrogante.

Interessante? É uma habilidade incrível, de grande utilidade também. Observe.

O Hobgoblin abriu as pernas lentamente, descendo cada vez mais até te-las completamente abertas e assim estando sentado no chão. Se abaixar normalmente teria sido mais fácil, mas isso não passou pela cabeça dele.

Rapidamente enfio suas unhas juntas no solo a sua frente e as retirou quase imediatamente, repetiu o processo, uma vez, duas vezes, quatro e aumentando cada vez mais rápido lançando solo e abrindo um buraco.

Quando a abertura se tornou grande o suficiente para o seu corpo, enfiou seu tronco nele e continuou escavando apenas com as pernas de fora. A Bruxa do Pantano se afastou sem querer que terra caísse em sua roupa e observou de longe aquela perca de tempo besta.

Quando o monstro enfiou o corpo completo embaixo da terra, ela achou o suficiente daquilo.

“Certo, mostrou seu showzinho, vamos logo Hob.” Falou mal humorada batendo o pé direito no chão repetidamente.

“Ele” não voltou e nenhuma resposta foi ouvida.

“Hob?” Chamou novamente se aproximando do buraco.

Quando olhou para dentrou não viu o monstro e nem final, o idiota era realmente bom e estava mesmo cavando um túnel ali.

“Tsc.” Estalou a língua com impaciência. “Imbecil.”

E com seu típico mal humor, seguiu sozinha na direção do lago.

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