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Capítulo 64: Pescaria invertida

A Bruxa ao chegar na beira do lago caminhou sobre a área rasa sentindo seus pés descalços na terra molhada. Quando a água passou a cobrir suas panturrilhas, sentou-se e sentiu toda sua região abaixo da cintura dentro da água. O conforto foi instantâneo, sentir sua metade inferior se molhar a relaxou de uma forma que só o seu cachimbo poderia fazer igual. Água em seu corpo e o sol a esquentando, tudo que uma mulher poderia pedir para ser feliz, bom, ela não reclamaria de uma massagem nos pés.

Ouviu um barulho baixo atrás dela já alguns poucos metros de distância. Espiou por cima do ombro. Distante de sua posição, um pequeno montinho de terra se formou de dentro do chão para fora. O topo se dividiu formando um buraco e dele dois braços verdes saíram, logo o tronco e não demorou muito até toda a parte superior do hobgoblin estar de volta à superfície. A réptil admitiu a si mesma, o imbecil era rápido fazendo túneis.

Nenhuma palavra foi dita, o outro sempre soube respeitar pequenos momentos de simples prazeres e nenhum era maior do que aquele que sentia.

A mulher observou o horizonte, aquele era um lago enorme o que fazia sentido considerando o quão próximo estavam do litoral. Atravessar toda aquela água possivelmente levaria horas caso alguém tentasse. 

Ela deixou seu cajado cair, apoiou seus braços na terra e se impulsionou para frente. Se virou para a margem e deitou de costas avançando um pouco mais na direção contrária enquanto boiava. Lentamente ela afundou.

Aquilo era maravilhoso.

A réptil sorriu quando foi abraçada pelo lago, todo o seu corpo tocado pelo afeto caloroso da água, sim, ainda estava quente perto da superfície. Ela detestava mergulhar em um lugar para sentir beijos mais gelados, nunca fez bem ao seu sangue frio. Felizmente a Floresta de Dante era tropical o bastante para nunca ter que se preocupar com o inverno. Diferente das terras Demoníacas ao norte do continente.

Ela abriu as pálpebras dos seus dois olhos, inferiores e superiores, no entanto não abriu as internas. Um fato curioso sobre si que nem mesmo o tão observador hobgoblin notara, além das pálpebras comuns que lhe permitiam abrir e fechar os olhos igual a ele, ela também possuía uma terceira, uma fina membrana que se abria e fechava horizontalmente em vez de verticalmente.

Era impossível que o outro notasse, o piscar dessas pálpebras era rápido demais para que qualquer um percebesse. Esta característica não era somente um detalhe sem propósito da sua biologia, a transparência dessa terceira pálpebra é o que a permitiria enxergar debaixo da água.

E foi o que a permitiu ver ele.

Era de longe o maior Niquim que já vira na vida. Sempre detestou essa espécie de peixe, era uma criatura horrorosa. Embora visse quase todos os peixes dessa forma, o que por consequência a fazia os odiar.

Aquele tipo peixe meio amarronzado não era achatado ou fino como algumas espécies, pelo contrário, era gordo e inchado. Um corpo alongado que começava com uma cabeça grande que se afinava conforme mais próximo da calda. Suas duas barbatanas se localizavam no pescoço e eram direcionadas para trás.

Sua cabeça achatada possuía uma bocarra aberta com a mandíbula maior que a parte de cima, uma boca que sem dúvida não fechava pelo quão larga era. No topo tinham pequenos olhos que encaravam a mulher. 

Normalmente não daria tanta atenção a um animal qualquer, mesmo um Niquim sendo altamente venenoso com seus espinhos nas costas. O problema é que aquela espécie normalmente tinha uns quinze centímetros.

Aquele ali?

Ele era maior que ela.

Cerca de três vezes o seu tamanho e nadava em alta velocidade na sua direção pronto para engoli-la. Nunca vira uma espécie tão comum de animal tão grande dessa forma, a Floresta de Dante era realmente fascinante e mortal. Hob estava certo em dizer que quanto mais ao interior dela, mais perigoso se tornava.

O seu pulmão se moveu e ela afundou fazendo o animal passar direto. O movimento de sua cauda a ajudou a se afastar dele enquanto mudava de novo a posição do órgão respiratório para subir de posição.

Haviam outros peixes gigantescos no lago, mas não davam atenção aos dois. Aquele Niquim estúpido deveria estar com bastante fome. Matar um monstro normalmente seria tão fácil quanto mover uma mão, entretanto, era isso na superfície onde seu poder se propagava com mais facilidade.

Ali embaixo precisaria o tocar e o ferir para afetá-lo com seus poderes. O infeliz impeditivo é a mortalidade do veneno de um Niquim, embora fosse relativamente ficar segura se não tocasse nos vários espinhos espalhados por suas costas. Era preferível não arriscar o menor contato.

O peixe se virou e refez o ataque, a mulher repetiu o mesmo movimento de fuga anterior, embora dessa vez na direção contrária para não desafiar a memória da criatura mesmo que fossem baixas as chances dela possuir qualquer inteligência.

Usando o balanço de sua cauda e outra vez trocando a posição de seu pulmão em seu interior, avançou na direção da superfície. Quando no raso, o movimento de seu perseguidor se tornou mais lento por acabar se arrastando pela terra úmida.

O animal horroroso estava bem motivado. Mesmo no raso se arrastava tentando mordê-la. Já em pé, ela se aproximou de onde largou o cajado e o pegou com as duas mãos o segurando pela região vermelha e mantendo a prateada virada para cima.

Ela não usou nenhuma magia, apenas se virou usando o movimento da cintura para pegar impulso e acertou aquele rosto feio com as lâminas da sua arma. Sangue espirrou na água e felizmente não acertou. Repetiu o ataque atingindo um dos olhos e cravou o item na cabeça do outro, então puxou em sua direção arrancando uma quantidade considerável de carne no processo.

O peixe não morreu, embora fosse um ferimento considerável, não era o bastante para matar de forma imediata algo tão grande. A criatura se virou e retornou para o lago, não sobreviveria muito sangrando daquela forma. O rubro líquido logo atrairia predadores.

“Você viu a ousadia daquele merdinha? Tentar comer a mim, coisinha asquerosa.” A Bruxa perguntou para não receber resposta alguma. “Hob?”

Quando a réptil se virou e olhou na direção do buraco notou que o monstro não estava mais lá. Deu passos lentos em direção a abertura na terra e ao chegar perto notou palavras no chão. Feitas na terra com garras, cada letra feita funda para que a mensagem não sumisse rapidamente.

“Volto em breve.” Ela leu. “Tsc, você é outro ousado de merda.”

A loira se virou na direção da água e apertou seu cajado. Pensou por um tempo, teria que encontrar o que fazer. Sorriu e caminhou na direção da água tendo certeza de levar o cajado, iria matar aquele peixe merdinha antes que outro animal o fizesse.

Não imaginava qual perigo o monstro verde iria encontrar em breve, tampouco se importava no momento. Todo seu foco estava naquele novo objetivo provocado apenas pelo tédio. 

Era tarde de pescaria.

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Olá, eu sou MK Hungria!

Um capítulo inteiro protagonizado pela Bruxa que todos amam (na verdade não, conheço quem odeie a Bruxa e quer que ela morra). Agora, serio gente, Niquim é um peixe horroroso.

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