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Capítulo 65: Uma camada abaixo

O Hobgoblin teria esperado sua amiga se divertir, talvez entrado na água ele mesmo, entretanto havia algo o incomodando. 

“Ele” tinha uma habilidade que compartilhava com outros membros de sua atual espécie e também da antiga. Uma capacidade extraordinária de sentir as vibrações da terra ao passar seu corpo entre ela. Algo pouco refinado, raramente útil e com uma precisão muito baixa.

No entanto, era melhor do que nada, ajudava a sentir quando outras criaturas subterrâneas, possivelmente predadores, estavam por perto ou até mesmo quando o ambiente era impróprio para escavações. Tão qual aquele em que estava, não tão superficialmente, é claro. Todavia, percebeu que cavando mais fundo, qualquer túnel que criasse iria ceder.

Afinal, já existia um túnel ainda maior há alguns metros abaixo dele.

Curiosidade, um péssimo instinto para a sobrevivência. Muitas criaturas usavam de seus atributos únicos para provocar esse sentimento em suas presas e as atrair para mortes costumeiramente dolorosas.

“Ele” não acreditava que aquela fosse uma armadilha bem montada para conseguir comida, mas estava servindo ao propósito de o deixar curioso. Racionalmente, ir investigar era uma terrível escolha a se fazer principalmente em um ambiente com o qual não estava acostumado.

Infelizmente, o Hobgoblin também costumava fazer péssimas escolhas das quais se arrependeria em um futuro normalmente breve. Com as palmas das mãos pressionadas na terra, “ele” impulsionou seu corpo para cima até sair completamente do buraco em que estava.

Lembrou de deixar um recado escrito no chão para a réptil, para que não pensasse que o outro fora morto por algum predador. Feito isso entrou novamente, dessa vez voltado para baixo e iniciou a cavar. Não sabia dizer quantos metros desceu nas entranhas da terra, mas notou que levou um bom tempo, não pouco o bastante para ter sido rápido e não muito para se considerar demorado.

Ele parou quando sua cabeça acabou saindo por um novo buraco revelando que o monstro chegara ao que causou tanto interesse. 

Um túnel.

A visão era interessante, sua cabeça estava saindo do teto, seu longo cabelo caído. Seria engraçado para alguém que visse, no entanto não havia ninguém para ver. O ambiente estava vazio, felizmente. Aumentando a abertura, o monstro se permitiu cair e com um giro no ar pousou no chão em pé.

Suas mãos percorreram as paredes, seu tato descobrindo os segredos daquela estrutura. Qualquer que fosse a criatura responsável por aquela obra, estava de parabéns. “Ele” se considerava uma especialista no assunto, era fácil reconhecer o trabalho feito através de rocha sólida para que tudo se mantivesse intacto mesmo com a passagem do tempo e os terremotos ocasionais.

Embora não houvesse um terremoto na floresta há um bom tempo.

Levou apenas alguns segundos para se acostumar com a escuridão total. Após isso, teve completa noção de como aquele túnel era imenso, sua altura não era o suficiente para alcançar o topo, precisaria ser três vezes mais alto, cerca de até seis metros. A largura por sua vez parecia ser de oito ou menos metros.

Não só habilidosa, a criatura que fez aquilo era gigantesca.

Sua atenção se voltou para um lado do túnel, claro que lá embaixo o senso de direção estava completamente perdido. Não havia como identificar qual lado seria o direito ou o esquerdo, no entanto não importa. Um dos caminhos era diferente porque o Hobgoblin sentia uma corrente de ar vinda dele.

Se seguisse por ali acabaria saindo em algum ponto da superfície ou de uma área muito mais aberta. Curiosidade, o sentimento terrível continuou o motivando e assim caminhou pelo túnel para descobrir onde ele acabaria.

Analisou muitas das marcas no chão, para ter uma suposição de qual monstro ou animal fora responsável por aquela estrutura. Muitas marcas podiam ser vistas, finas que se assemelhavam a cortes, marcas de patas, centenas delas.

Insetos, sem dúvidas, centenas de insetos com suas pernas finas foram os responsáveis pelo lugar onde caminhava. Talvez formigas? “Ele” nunca vira formigas tão grandes antes, porém essa era a única opção a passar por sua cabeça.

O monstro sentiu vibrações no solo, era elas se movendo a distância naquela mesma extensão de túnel. Não oferecia risco ainda, estavam longe e levariam muito tempo para o alcançar. Ainda mais caso seguissem ordenadamente em linha reta como suas contrapartes minúsculas.

Sem pressa, continuou a caminhar. Minutos se passaram, a corrente de ar mais forte. Esperava não preocupar sua amiga na superfície, considerando que não sabia onde iria sair, talvez só conseguisse a encontrar pela noite ou no dia seguinte.

Voltou sua atenção para as perseguidoras, elas estavam mais perto, muito mais. Apresentaram uma velocidade muito superior ao que “ele” esperou delas. 

Acelerou seu passo, ainda sem correr, o ar estava mais rápido e fresco, estava perto do fim daquela extensão subterrânea. Água? Ouvia água vindo do caminho que tomava, um rio subterrâneo? Possivelmente.

E as formigas estavam mais perto.

Caralho!” Disse um palavrão que ouviu várias vezes saindo da boca suja da Bruxa do Pantano.

Geralmente não falava palavrões, eram uma coisa vulgar e o monstro fazia todo o possível para se desviar de uma imagem vulgar, embora não se opusesse a soar um tanto sexual quando no devido momento.

No entanto, se permitiria a uma linguagem baixa como aquela. Estava frustrado, quem poderia o culpar? Elas estavam ainda mais perto, aquela era uma velocidade insana. Apenas alguns minutos a mais fariam o Hobgoblin ser alcançado.

Até que pararam.

Caralho” Repetiu com raiva.

Elas começaram a cavar diretamente para onde o monstro estava, ignorando quaisquer curvas no caminho e o faziam mais velozes do que “ele” jamais poderia ser realizando a mesma tarefa.

Correu, mas não por muito tempo, algumas dezenas de seus passos foram dados e “ele” pode ouvir o som da parede se quebrando atrás de si. Talvez não chegasse aquela situação caso corresse desde o início, com certeza não chegaria aquela situação se houvesse permanecido na superfície.

Olhou para trás, poeira levantada com a destruição das rochas. Era difícil enxergar mais que uma silhueta da coisa que iria tentar o matar em breve. Percebeu uma criatura sair do buraco, mas nenhuma iria sair após isso.

Caralho.” Falou pela terceira vez, nunca tinha dito tantos palavrões antes.

As marcas no chão o enganaram completamente, no entanto foi um erro que qualquer outro poderia ter cometido. Tantas pegadas lançariam qualquer um que as visse direto para conclusões precipitadas. Pelo menos aquilo explicava a velocidade do monstro perseguidor.

Utilizando da expressão popular quando se referindo a uma coisa ou forma de vida impressionante, você é uma baita de uma centopéia.

Curiosidade, péssimo instinto para sobrevivência. Definitivamente, aquela foi uma péssima escolha da qual já estava se arrependendo.

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Olá, eu sou MK Hungria!

Agora com esse capítulo e o anterior, da pra ver que vamos conhecer mais da fauna e flora da Floresta de Dante. Eu pretendo explorar mais desse mundo, tornar o ambiente mais rico agora que estamos saindo das camadas exteriores.

Não esqueci dos arcos em aberto da Chefe Macaca, do contrabando ou da Matinta Pereira. Tudo vai se conectar em breve, mas por enquanto, vamos aproveitar da riqueza desse mundo.

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