Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 67: Contorcionismo salva vidas

Não foi como o monstro maior esperava. Até mesmo uma criatura pouco inteligente como um inseto podia manter noção de como certos acontecimentos devem ser. No final de uma perseguição (às vezes nem chegava a precisar correr atrás de uma presa), ele prenderia o alimento entre suas presas, faria sangue jorrar com um corte e engoliria sua comida.

Não foi assim que aconteceu.

Era normal uma presa se mover mesmo depois de morta, algumas faziam isso, movimentos que logo parariam. O importante é que o corpo mesmo em movimento estava sem resquício de vida alguma.

Não era o caso do Hobgoblin.

As presas fechadas da Centopéia tinham um espaço vazio em seu centro, um vão minúsculo demais para que qualquer animal ou monstro comum sobrevivesse por sorte ao ser esmagado entre eles.

“Ele” não era um monstro comum.

Cada braço segurava em uma presa, o sustentando no ar. Seu corpo em uma posição arrepiante, seu tronco girado em uma posição que só criaturas nascidas sem coluna poderiam executar com facilidade. Estava dobrado de uma forma que encaixava perfeitamente naquele minúsculo espaço que ocupava.

Não supunha existir muita racionalidade naquela criatura gigantesca, mas a imobilidade dela fez o Hobgoblin imaginar que o inseto estava incrédulo em algum grau.

Qual é a motivação de tanta surpresa? Não me diga que em todas as suas caçadas, nenhuma de suas presas demonstrou tal propensão ao contorcionismo?” Perguntou debochando da criatura.

Era inexistente qualquer tipo de lógica em ser sarcástico com aquilo, mas “ele” o fez da mesma forma. Era uma sensação prazerosa, um regozijo existente no testemunho do fracasso de seu algoz. Mesmo que por alguns segundos, estendeu seu tempo de vida graças a seu pensamento rápido e chocou seu caçador.

A Centopéia se livrou de seu estupor primitivo e balançou sua cabeça com violência tentando derrubar o monstro menor. Abrir as presas não foi sua primeira opção, correr o risco da sua comida fugir era incômodo. Ainda assim, foi o que fez, deixando o invasor cair no chão e já se preparando para o ter em sua posse novamente.

Não havia tempo para se virar e correr, “ele” era conhecedor disso. Preferiu um método de locomoção incomum, no entanto efetivo para a situação em que se encontrava. Dobrou suas costas para trás até ter as palmas da mão no chão, sem hesitar por um segundo ao menos impulsionou as pernas com força para cima fazendo as perderem contato com a terra. Todo o peso de seu corpo caiu fazendo o Hobgoblin terminar uma cambalhota.

Ao fim de uma, deu começo a outra. Poucos centímetros foi o que separaram “ele” e as presas da centopéia quando estas se fecharam. O salto cumpriu seu propósito em ser mais efetivo que uma corrida normal naquele contexto. Novas cambalhotas foram dadas permitindo cobrir uma distância de terra em um tempo rápido o bastante para mantê-lo seguro.

Na penúltima, com suas costas arqueadas para baixo, viu a sua saída e salvação. No último salto usou seus braços para se lançar pela abertura, a última visão que teve do inseto sendo suas presas se fechando e perfurando a parede.

O Hobgoblin despencou, porém não por muito tempo. Distendeu as garras retraídas de sua mão direita e as prendeu na parede da nova caverna, ainda desceu por alguns metros devido ao peso deixando cinco marcas de risco na rocha. Felizmente, conseguiu se estabilizar e ter tempo para pensar.

Primeiro voltou seus olhos para o ambiente iluminado, sua primeira atitude sendo procurar quaisquer formas de vida que poderiam representar ameaça, qualquer predador com o qual teria que iniciar nova disputa.

Com os dedos praticamente enfiados no solo, sentiu novas vibrações. A Centopéia estava cavando um novo túnel, um que retornasse para onde estava antes deixando a presa perdida para sua própria sorte. Foi da forma que o Hobgoblin esperou, os animais e monstros da Floresta de Dante preferiam não deixar seus territórios sem razão mesmo que fosse para uma refeição fácil.

Ignorando o perigo que se afastava e contente ao não perceber nenhum novo, se permitiu olhar o ambiente com mais atenção.

A luz notada anteriormente não via de alguma abertura pela qual o sol invadia, vinha de cogumelos. Dezenas deles espalhados pelas paredes, brilhando em tons de verde e azul criando uma iluminação surreal, quase mágica.

A caverna era relativamente muito grande, “ele” poderia enxergar toda sua extensão de onde estava, mas levaria vários minutos se resolvesse dar a volta. Seu formato era circular, embora, é claro, imperfeito. O chão estava submerso, exceto por pontos específicos onde extensão de rocha sólida faziam pequenas ilhotas.

Toda a água descia de buracos nas paredes, aquela no chão corria uniformemente para a mesma direção em sua diagonal a nordeste de onde o Hobgoblin estava. Todo o vento fresco que sentia naquela área, vindo daquele ponto onde uma grande abertura chamava atenção devido a luz do sol que lhe atravessava.

Faltava apenas saber se era seguro descer mas águas, o que só descobriria após o fazer de qualquer forma. Não era uma queda longa, mas ainda machucaria se apenas pulasse, optando assim por descer com cautela.

Quando embaixo, ficou alegre ao descobrir que não precisava nadar ainda, o líquido só o cobrira até sua cintura felizmente e era possível andar naquele ponto. Isso o relaxou o bastante para que aproveitasse mais a paisagem em sua frente.

Era lindo.

A caverna ainda era escura, porém mesmo assim o breu era atravessado por esferas brilhantes multicoloridas que nasciam daquelas plantas fascinantes. Uma visão de encontros sobrenaturais entre os tons hipnotizantes de verde claro e os calmantes de azul escuro.

Não reclamaria se em sua própria caverna nascessem algumas daquelas plantas, embora acreditasse que a visão apenas era tão emocionante devido a novidade que significava. 

Com a paz que sentia, começou a andar em direção a saída. Sua paz sumiu quando não podia mais tocar o chão com seus dedos e a água cobriu os seus ombros. Ainda detestava nadar, porém não era momento para desespero.

Moveu seus braços na água e suavemente se impulsionou com suas pernas. As luzes o relaxavam como um aviso de que não havia perigo, aquelas tonalidades o faziam pensar em segurança. Verde sempre foi sua cor favorita, por motivos que não são um mistério para ninguém.

Retomou a calma anterior quando chegou a uma pequena extensão de pedra onde subiu para se sentar. Era grande o bastante para que três dele se deitassem em frente ao outro em linha reta. Ali resolveu deitar, ainda com os sentidos atentos, mas desejando um rápido descanso. Quem poderia o julgar? Depois da corrida desesperada que teve, sentiu que nunca mais iria recuperar o fôlego perdido.

Para seu azar, ouviu vários movimentos na água vindo de três pontos diferentes seguidos de risadinhas rápidas.

Suspirou infeliz, “ele” não teria um minuto de descanso

Picture of Olá, eu sou MK Hungria!

Olá, eu sou MK Hungria!

Agora, eu sei que cogumelos não são plantas. No entanto, esse capítulo é do ponto de vista do protagonista e ele não sabe disso.

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥