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Capítulo 68: As mulheres sob a água

Não viu os monstros responsáveis por aquelas risadas, se não estavam acima d’água, se escondiam abaixo dela. Começou a repensar sobre a suposta profundidade da caverna submersa, talvez fosse muito mais funda do que imaginou.

Para abrigar formas de vida aquática, necessitaria de espaço e um ambiente propício ao desenvolvimento com acesso a comida com uma relativa facilidade de ser obtida. Não cogitou em momento algum que os habitantes daquele lago subterrâneo podiam ser inofensivos, nada na Floresta de Dante era.

Deu passos calmos para o centro da rocha em que estava, se afastando o máximo possível das bordas da sua pequena ilhota. Virou seu corpo bruscamente ao ouvir novas risadas, duas, vinda de trás. Nada estava lá quando seus olhos vagaram pelo ambiente.

O que quer que fosse era inteligente o bastante para encontrar diversão em sua agonia ou estúpido o suficiente para se divertir com sua confusão. Não sabia o que poderia ser pior, alguma inteligência poderia significar mais ameaça, porém a falta dela poderia acarretar em um grau maior de descontrole. Sentiu um calafrio depois que o último pensamento o fez lembrar dos homens macacos.

Criaturas desagradáveis.

“Oi.” Uma voz falou em seu ponto cego.

O Hobgoblin se virou rapidamente, seu cabelo molhado acertando seu rosto e até suas costas devido ao tamanho. Com um resmungo  segurou o cabelo e começou a amarrá-lo enquanto encarava a água onde não tinha nada.

Capacidade de falar indicava alguma inteligência, uma informação que não respondia muita coisa. A parcela dos monstros da Floresta que poderia ser considerada esperta era pequena, quase insignificante comparada ao número total dos habitantes.

Aqueles realmente inteligentes, com capacidade de estabelecer comunicação verbal e de produzir diferentes tipos de ferramentas eram menos ainda. O normal mesmo era que entre as espécies comuns, surgisse um membro mais sábio que o restante e tomasse a posição de chefe.

Não sabia para qual hipótese a saudação recém ouvida apontava. 

O fato de sua audição aprimorada não perceber os movimentos feitos por qualquer monstro que fosse na água, lhe dava certeza que não poderia nadar até a saída ou lutar ali embaixo. Tamanha sutileza em se mover no ambiente submerso denunciava uma maestria que “ele” nunca viu em outra forma de vida aquática, nem mesmo na Bruxa do Pantano.

Não iria mais ser pego de surpresa, seus olhos vagaram por todos os lados, seu corpo girando sem parar. Estava desesperado, sedento por um vislumbre por menor que fosse dos monstros que o cercavam.

E conseguiu, quase rápido o bastante para que o corpo fosse apenas um vulto. Ainda assim, reconheceu o que viu, o longo membro escamoso terminando em uma longa barbatana fina que se dividia para os dois lados.

Uma cauda de peixe.

O tamanho não era o suficiente para pertencer a uma criatura muito maior que o próprio Hobgoblin, isso quase lhe dava alguma esperança de sair bem daquela situação.

Quase.

Três daquilo? Foi o máximo de vozes que ouviu, nada o garantindo de que não teria mais. Esperar era inútil e só estava o deixando progressivamente mais agoniado conforme o tempo passava.

Ao seu lado o som de algo se movendo na água foi ouvido. Baixo, tão fraco que poderia ter sido ocultado por qualquer outro barulho. “Ele” sabia que só ouviu por descuido do monstro, ou porque era de interesse da criatura ser ouvida.

Lentamente apontou seu pescoço na direção da origem do ruído. Ainda estava lá, um dos monstros se divertindo o aterrorizando naquele show de luzes sob a terra. Encarando seus sóis amarelos com as profundezas de seus olhos azuis escuros.

Ela era uma…

“Ele” não sabia, jamais viu algo como aquela em sua frente antes e nem mesmo vira seu corpo inteiro. Apenas aqueles olhos noturnos e os seus cabelos sombrios.

Os fios de cor púrpura eram longos e volumosos, se espalhavam pela superfície da água atrás dela. Sua cabeça só era visível dos olhos para cima, pupilas de um azul escuro que o fazia pensar nas camadas mais baixas de um lago. A área visível de sua pele era incomum, a tonalidade sendo a de um humano de cor clara. Parecia mesmo o couro humano, porém o Hobgoblin via as pequenas linhas espalhadas uniformemente quase ocultas. Eram escamas, disfarçadas de algo diferente.

Essa criatura era… Linda. Suas feições perfeitamente construídas.

“Oi.” A desconhecida falou em um tom sussurrante, mas não baixo o bastante para se comparar aos balbucios do monstro na rocha.

A estranha riu no mesmo tom rápido e alegre de antes, igual a uma daquelas primeiras risadas a soarem em seus ouvidos. Parecendo tímida, no entanto curiosa afundou na água desaparecendo. “Ele” não ficou sozinho por muito tempo, o som de algo saindo da água o assustou devido a proximidade. Ao seu lado, outra surgira mais ousada que a primeira com seus braços apoiados na borda da ilhota dele.

Seus cabelos molhados verdes possuíam o tom verde escuro do limo viscoso que crescia nas árvores do pantano de sua amiga pocionista réptil. Tinha a mesma pele aparentemente humana onde só um olho atento encontrava escamosidade.

Ela sorriu e o monstro notou os seus dentes afiados, pontiagudos em um quase perfeito formato triangular, tal qual um peixe piranha. Seu tronco visível era saudável e bem construído, no entanto magro. Os braços finos, mas não a ponto de parecerem desnutridos. Suas mãos não terminavam em dedos, porém em garras longas o bastante para perfurar bons centímetros da carne de alguém.

Não conseguiu evitar o olhar que deu em seus seios à mostra. Grandes, grandes demais a ponto de atrapalhar locomoção ou caçada, qualquer atividade física.

Não serviria para nada além de seduzir.

O que já não seria uma tarefa difícil devido a seu rosto hipnotizante.

A segunda desconhecida se afastou rindo, nadando de costas olhando diretamente para o Hobgoblin enquanto o fazia. “Ele” ainda não vida como elas eram da cintura para baixo. Ao lado dessa estranha misteriosa, emergiu uma terceira. O invasor não teve tempo para admirar a nova presença, uma vez que uma quarta se fez presente distante das duas por alguns metros.

Devido ao barulho, se virou para ver outras duas nadando, entre elas a primeira que se mostrou. Cinco, cinco dessas criaturas, lindas mulheres de beleza sobrenatural sobre as quais nunca ouviu falar. 

O monstro verde viu elas nadarem até umas às outras, nunca tirando os olhos dele, nunca mostrando como eram abaixo da cintura.

Um ataque? Uma caçada em grupo? Podia estar em desvantagem, mas não morreria sem apresentar a menor resistência. Elas teriam de lutar por sua carne.

No entanto, não foi o que fizeram, elas não o atacaram.

Elas começaram a cantar.

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