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Capítulo 69: Um doce canto, um belo perigo

Era um canto fascinante, sem palavras sendo ditas. Apenas o som de uma vogal, A, alongada e manipulada pelas gargantas daquelas estranhas. O tom era baixo, tímido e ainda assim impossível de ser ignorado. Quando paravam, imediatamente continuavam emendando os cantos em uma única música sem precisar de fôlego.

Era calmante, como uma canção de ninar, embora o Hobgoblin nunca tivesse tido o prazer de ser embalado em braços carinhosos e ouvir uma música que o fizesse dormir. Ele só podia supor que um canto para crianças dormirem era como aquilo.

Felizmente, “ele” não era uma criança. Aquela ação sem sentido não afetaria, estava desperto e sabia bem que devia planejar sua saída daquele lugar. No entanto, que risco sofreria por apenas ficar mais alguns poucos minutos ouvindo aquele som? As mulheres eram inofensivas? Só estavam cantando.

Poderia ouvir mais, o ajudava a relaxar e nada melhor para uma mente planejadora do que estar devidamente relaxada. Pensou em fechar os olhos, quase os fechou, evitou essa ação quando já estava com as pálpebras semicerradas. Não era seguro o bastante.

Mesmo que o lugar fosse um pouco seguro.

Ele era?

Luzes lindas dançando até onde sua visão alcançou, um show para seus olhos. Uma sublime música se espalhando pelo ar, embebedando suas sensações, doce mel para seus ouvidos. Já estava dando prazer aos seus sentidos, sentiu necessidade de também dar ao seu corpo. Cada segundo passado o deixava mais confortável, isso era um risco, precisava pensar em um plano antes que baixasse toda a sua guarda.

Mas era tão bom ouvi-las.

Sem sequer perceber, acabou se aproximando lentamente das bordas da rocha em que se manteve. Ao notar isso disse a si mesmo que apenas desejava observá-las melhor, criar uma estratégia mais detalhista com base no que descobrisse. Mentiras, de uma mente se recusando a admitir que queria as ouvir ainda mais, vê-las mais perto, senti-las.

“Ele” queria pular na água.

As mulheres eram inofensivas.

Uma se aproximou, lentamente de forma tímida. Seu corpo esguio serpenteando pela água, sua pele escamosa banhada pelo verde e o azul. Ela sorriu com seu sorriso de dentes mortais chegando cada vez mais perto e o monstro verde se manteve onde estava.

Devia se afastar?

É claro que devia.

Deveria mesmo?

Com raiva, quis acertar um cascudo na própria cabeça, era difícil pensar. Sua cabeça estava nublada, organizar suas ideias era difícil naquele momento, seus pensamentos todos abafados pelo som do canto daquelas mulheres. Possivelmente, era melhor deixar para usar sua cabeça apenas depois que elas parassem, seria mais fácil dessa forma e até poderia aproveitar melhor o momento.

Era melhor que parasse de pensar.

A mulher já estava encostada na pedra, sua metade superior apoiada na rocha enquanto a inferior se mantinha submersa. O Hobgoblin se agachou para ficar na altura dela, as palmas de suas mãos apoiadas no chão enquanto chegava mais perto de forma hesitante. Desejava tanto aquela mulher em seus braços.

Seus rostos se aproximaram, olhos amarelos rutílos encarando azuis profundos. Um mar calmo no qual precisava se jogar, lançar-se sem medo e foi o que fez. Os lábios das duas criaturas se encontraram em um beijo. 

Precisava do corpo dela.

Queria se afogar em seu abraço.

Não estava mais pensando, seria uma ação desnecessária o fazer. Apenas dificultaria que aproveitasse a música e mesmo se tentasse, seria difícil manter qualquer ideia com o quão fundo o canto delas penetrava em seu crânio. Simplesmente não pensou, porém a mulher tocou em seus braços e segurou seus pulsos com delicadeza.

O corpo dele reagiu.

As garras se revelaram ao mundo antes que qualquer um deles percebessem e suas mãos atacaram os braços da mulher deixando cortes superficiais nela. Ela gritou de ódio se afastando rapidamente, no ímpeto de fuga revelou sua metade inferior e bateu sua cauda de peixe na água para se distanciar o mais rápido que conseguisse.

Sua pele que antes parecia humana revelou sua real tonalidade de um cinza prateado. Todas as cinco o fizeram, rosnando para o monstro em tom gutural que era feroz, tão selvagem que sequer pareciam ter saído das mesmas gargantas que  estavam cantando aquela música minutos antes.

Iriam o atacar e “ele” sabia disso, seus pensamentos antes obscurecidos pelo prazer agora eram claros como as planícies iluminadas pela luz da manhã.  Elas se preparam para o matar, nadaram em sua direção em alta velocidade com uma habilidade que o fez temer internamente por sua vida. Se caísse na água, seria um monstro morto. Todas as cinco se prepararam para saltar e então…

Pararam.

Suas feições mostravam surpresa, mesmo que o outro não tivesse percebido nada acontecendo. As mulheres recuaram, não muito, somente o suficiente para que abrissem espaço.

Um espaço para ela ocupar.

Uma sexta mulher surgiu das águas, diferente de qualquer uma das outras, superior em todos os aspectos aparentes.

Ela era maior, até mesmo do que ele, transcendendo até mesmo a altura de um Troll grande. Possuía uma pele parda amarronzada como a casca de uma árvore jovem, lisa e saudável. Não eram escamas, era uma pele de verdade.

Seu corpo diferente do das outras, era o de uma guerreira, mostrando cicatrizes sobre seu abdômen duro. No entanto, ainda era lindo para “ele” com aquelas curvas onde poderia se perder. Os seios dela eram escondidos pelo longo cabelo verde escuro que caía como cascata sobre seu corpo e boiava na água.

Seu rosto era rígido, suas feições marcadas e evidentes na face. Sobre sua testa caia uma franja que encontrava limite na larga faixa de tinta vermelha que cobria os seus olhos castanhos. Os lábios escuros, carnudos e apaixonantes sorriam para o Hobgoblin sem mostrar dentes, um sorriso pequeno, de quem vê uma criança e a acha adorável.

Ela abriu um pouco de seus lábios, uma linha fina o suficiente apenas para que algum som saísse. A mulher cantou para “ele” e imediatamente o monstro relaxou, toda sua agressividade anterior desapareceu junto de suas garras retraindo.

Não pensou em mais nada.

Não havia razão para pensar nem motivo para resistir.

Estava tudo bem.

O ambiente era confortável.

Aquelas mulheres eram inofensivas.

A maior de todas se aproximou da rocha e o segurou em seus braços com afeto, de forma delicada segurou em seu queixo e o ergueu até ela. Ainda estava cantando e o monstro menor se sentindo mais sonolento a cada segundo passado.

Ela aproximou o rosto dos dois, mas não o beijou como o Hobgoblin quiz. Os lábios dela ficaram próximos aos longos ouvidos pontudos dele, o ar frio soprado em sua pele causando arrepios em seu corpo.

“Um dia poderá voltar a mim e conseguir o que sei que quer, não se preocupe com quando, você saberá o momento, quando for forte o suficiente.”

Foram as últimas palavras que ouviu antes de adormecer em seus braços amorosos.

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Olá, eu sou MK Hungria!

Foi pura coincidência o capitulo com sereias ter um numero sugestivo como 69.

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