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Capítulo 7: Os que andam nos galhos

Urros e risos preenchiam o ambiente fazendo do silêncio impossível, o barulho alto lentamente o despertava. O goblin não queria abrir os olhos, mas não poderia fingir dormir para sempre. Eles se cansavam fácil, jogavam fora tudo que conseguiram sem se importar. O monstro não queria saber o que seria feito dele quando não o quisessem mais.

Ao abandonar seu falso cochilo, se deparou com o que temia. Os humanos peludos, vários deles. Não eram realmente da raça que vive no além do norte, mas tampouco se assemelhavam a qualquer monstro, sendo muito mais parecidos com os intrusos da floresta. Muitos nomes existiam para eles, aqueles que andam nos galhos, os humanos peludos, aqueles que levam as coisas, os lançadores de bosta entre outros.

Essas criaturas estranhas eram cobertas de pelo em sua maioria, variavam em tamanho e também cor. Em vez de pés, tinham mãos com um dedo a menos em cada perna. Nunca eram vistos no chão de terra, apenas no topo dos galhos onde não podiam ser alcançados por qualquer um. Roubavam e destruíam a tudo apenas por terem vontade, entretanto o que não era destruído, era levado até aquela região, assim como “ele”.

O lar dos humanos peludos era estranho, uma coisa de pedra na base da montanha que não era natural da floresta. Haviam cavernas em cima de cavernas, o chão era plano e pedras longas para cima levantavam o lugar. Existiam corredores labirinticos e aberturas nas paredes onde desenhos coloridos eram vistos. Nada daquilo poderia ter sido construído pelos que andam nos galhos.

Do lado de fora grandes planícies de pedras

“Uhu uhu uhu.” Gritavam em sua maioria, excitados ao verem o goblin acordar.

A criatura encarou o ambiente e a eles. Alguns eram gordos e laranjas com longos membros, outros negros e fortes com braços grossos, haviam aqueles ainda menor que o goblin com suas costas curvadas e caldas empinadas, além dos risonhos de cara azul e bunda vermelha. Os que levam as coisas sempre foram muitos, assim como o povo do monstro verde.

Os outros habitantes daquela terra evitavam os humanos peludos. Não eram grande ameaça a vida, porem ainda eram perigosos, não podiam ser pegos uma vez que estavam sempre no alto onde poucas criaturas alcançavam, como “ele” por exemplo. Surgiam na noite tomavam tudo que pudessem das outras raças e voltavam para o seu lar.

O objetos tomados logo eram esquecidos, apenas os pegavam para se divertir e logo os largavam. Aqueles que andam nos galhos não mantinham interesse em nada, poderiam até passar horas caçando um animal, no entanto o cair de uma fruta ou o rolar de uma pedra seria o suficiente para os distrair e fazerem se esquecer do que pretendiam.

Evitar os humanos peludos era umas primeiras lições a serem apreendidas. Não coma onde eles se alimentam, não beba aonde pegam água, não vá aonde vão e jamais morra onde o fazem.

O goblin foi levado ao território proibido pela água que corre e agora era o novo interesse dos animais barulhentos, porém sem saber até quando. A infeliz criatura olhou o local tentando criar em sua mente formas de sair com vida. O lugar era grande e um pouco escuro, todo feito de pedra, haviam rochas longas que subiam do chão até o teto grandes buracos de formato esquisito no alto de onde entrava um pouco de luz.

Atrás dele tinha uma saída, uma grande entrada que dava para o exterior cheio de sol e fora de seu alcance. Muitos humanos peludos ficavam no caminho para a principal saída. Suas outras opções eram alguns buracos no chão e nas paredes, infelizmente também eram cercados pelos seus inimigos.

Em sua frente, o pior deles até então. De todos os outros, era quem mais se assemelhava a espécie humana. Exalava um presença forte e é quem “ele” teria achado ser líder daqueles que andam nos galhos, caso estes possuissem capacidade de seguir ordens, o que é claro, não possuíam.

Uma fêmea, maior que quase todos aqueles lá dentro. Ela era grande como um árvore normal, tinha os braços e pernas cobertos por pelo vermelho. Sua barriga era nua e pálida como era comum de seus iguais, mas estranhamente suas costas e virilha também eram. O rosto animalesco e ameaçador tinha algo de atrativo. Seus cabelos vermelhos caiam sobre todo o rosto permitindo apenas alguns vislumbres de sua face branca que parecia tanto humana quanto dos lançadores de bosta.

Ela tinha ao seu entorno muitos objetos, armas humanas de muitos tipos, peles falsas de animais e de ferro, ossos e várias frutas. Provavelmente a fêmea como mais forte tomava tudo que desejava dos outros. Sem nunca tirar os olhos do goblin, pegou com apenas uma mão, uma fruta grande e verde, maior só que a própria cabeça e lançou na direção do monstro capturado.

O alimento atingiu o piso e se partiu com a queda lançando pedaços de sua casca verde e interior vermelho.

“Ucha pacha!” Gritou ela, não eram palavras, parecia estar imitando o som que a fruta fez ao quebrar.

Os seus iguais começaram a pular e a urrar encontrando muita alegria com uma coisa tão simples quanto aquela. A fêmea de levantou e segurou mais daquela comida, uma em cada mão e novamente as jogou.

“Pachu! Uhu uhu uhu.” Ela ergueu os braços e franziu os lábios, ação copiada por todos os outros.

“Ele” não sabia como deveria reagir, poderia entender o que motivava outros monstros, entretanto era impossível fazer o mesmo com as ações daqueles que andam nos galhos.

A fêmea cansou daquele barulho incessante e gritou. O som saído de sua garganta foi tão alto e poderoso que o goblin viu poeira se levantar e o local levemente tremer. Os humanos peludos se encolheram com medo e não mostraram coragem para erguer o olhar.

A líder voltou sua atenção para “ele” e segurou outra da mesma fruta verde, dessa vez jogou diretamente nele. O corpo pequeno e fraco não conseguiu se manter de pé e assim caiu com a fruta se espatifando por cima dele e o cobrindo com sua água e pedaços vermelhos.

“Uhu uhu uhu uhu, fuuu, uha!” Ela pulou e bateu suas mãos juntas rindo mais do que fez em qualquer outro momento no dia. “Aaaaah, pa.” Ela se jogou para trás e caiu de costas imitando o monstro.

Estavam rindo dele, de sua fraqueza, de seu medo, de sua impotência. Revolta enchia o peito do goblin e não havia nada que pudesse fazer em relação a isso.

A fêmea andou em direção a “ele”, parou apenas quando estavam próximos do toque. Seu braço peludo foi estendido na direção da criatura caída, a mão aberta em sinal de ajuda. O monstro desconfiou, porém contrariar a vontade dela era perigoso e por isso aceitou sua ajuda.

Aquela que caminha nos galhos o levantou e assim que o viu em pé, empurrou ele fazendo com que caísse no chão.

“Uhu uhu uhu aha.” Riu e saltou circulando o corpo caído com animação.

Seu povo a imitava involuntariamente por se divertirem tanto quanto ela. Outra vez ela ofereceu a mão para “ele”, mas dessa vez o mesmo recusou. O grito de raiva dela foi o suficiente para acelerar o coração de todos e nesse momento o goblin aceitou com desespero a mão ainda estendida.

E o que o monstro esperava aconteceu, outra vez foi jogado ao chão para diversão dos humanos peludos. Alguns não aguentavam ficar em pé de tanto rir, outros estavam se derrubando e mais alguns imitando a infeliz criatura.

“Uhu hu.” A fêmea estendeu seu braço para o monstro ansiosa por derruba-lo. “Uhu huhu”

Sem opções, aceitou a falsa ajuda dela e dessa vez foi tratado de forma diferente. Foi tratado com maior agressividade, pegado pelas mãos fortes dela e jogado em direção aonde ela sentava antes.

O corpo dele atingiu com força a parede causando tanta dor que lágrimas surgiram em seus olhos. Sua coluna não mostrou ter força para o manter em pé, os pulmões sugando o ar cheio de pó e provocando tosse.

Quase se feriu quando caiu sobre as muitas armas, itens e lixo armazenado pelos lançadores de bosta. Enquanto tentava retornar o controle das próprias pernas, a grande fêmea caminhava em sua direção e quando chegou a “ele”, estendeu seu braço.

“Hu uhu.” Agachada, ela aproximou seu rosto do dele olhando em seus olhos.

Raiva crescia conforme a humilhação aumentava e o monstro já não era capaz de a controlar. Sua mão esquerda agarrou a primeira coisa que sentiu, um dos pedaços pequenos de ferro plano dos humanos. Em um único movimento na direção da face dela, “ele” fez uma ferida que iniciava no queixo e passava pelos lábios.

O silêncio voltou a ocupar o ambiente, todos esperando a reação daquela que era a mais forte. A fêmea franziu os lábios e rosnou se levantando, bateu no estômago com as suas mãos várias vezes e então urrou.

Qual a era o nome da sensação de não querer ter feito algo após o fazer? Existia um nome? O goblin queria muito que existisse e se não fosse assim, o próprio iria inventar.

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