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Capítulo 70: Sede

Sua boca estava seca e sua cabeça doendo. O Hobgoblin não queria abrir os olhos, o conforto da inconsciência seria melhor do ter que lidar com aquele sofrimento incômodo. Infelizmente tinha que acordar e descobrir onde estava. 

Não tinha como ainda estar na caverna, depois que desmaiou as mulheres o tiraram de lá. Sabia disso mesmo sem abrir seus olhos por sentir a luz quente do sol sobre as suas costas. 

Estava deitado de barriga pra baixo em água, boiando, porém ainda em contato com areia. Seus longos cabelos antes presos, se encontravam caídos nas suas costas, alguns fios jogados sobre a água. Apoiou seus dois braços na areia com suas palmas para baixo, apesar de não querer, teria que levantar.

De forma desequilibrada se sentou e respirando fundo abriu suas pálpebras firmemente fechadas. Seus cabelos molhados caiam em sua face e obstruiam parcialmente sua visão, ainda assim poderia enxergar.

Um infinito azul e deserto.

O mar.

Não era possível que se passem os dias ditos pelos pseudo-centauros para chegar até aquele corpo líquido. Possivelmente, existiam rotas mais curtas que aquela tomada pelo povo quadrúpede, provavelmente aquelas que atravessam as densas florestas pelas quais tinham muita dificuldade em explorar.

A visão não o deixou feliz, não lhe agradou finalmente alcançar aquilo que tanto quis quando viajou ao lado do irmão de Lauany. Não tinha tempo para apreciar a paisagem, precisava descobrir aonde acordou, se recuperar.

Finalmente observou o seu entorno, não estava em uma praia. O ambiente era uma pequena baía formada em um paredão de rochas enlameadas. Olhando a sua esquerda, até onde podia ver o paredão era coberto por raízes e plantas, a sua direita encontraria a mesma visão.

O monstro acabara deitado numa parte rasa daquela minúscula baía, um navio não caberia ali, no máximo alguns pequenos botes. Esse era um pensamento desnecessário naquele momento.

“Ele” levou uma das mãos a sua boca, ela estava seca. Uma sensação áspera se espalhava por sua língua, como uma lixa se esfregando em sua carne. Seus lábios eram secos, rachados e lamber não os umedecia uma vez que nem saliva tinha para isso. Uma mão foi colocada em sua barriga, balançou o seu estômago e o sentiu cheio. 

Bebeu água salgada enquanto desmaiado, a menor quantidade já seria prejudicial. Sequer desconhecia quais os riscos de ter ingerido tanto daquela forma.

Se levantou, mal se encontrou em pé curvado e sentiu suas pernas fraquejarem. Caiu de joelhos no mar, estava quente o bastante para incomodar, aquecido pelo sol. Abraçou seu próprio corpo e se curvou ainda mais encostando sua testa na água. Seu estômago doía como o inferno, as paredes de seu intestino guerreando umas contras as outras.

Respeitou fundo, aguentando a aflição em seu corpo até que se tornasse um pouco mais suportável. Ergueu-se pela segunda vez, lentamente e com cuidado ficou de pé. Virou seu corpo e observou com cuidado o caminho atrás de si. O paredão era inclinado, mas não o bastante para que andasse sobre ele, seria obrigado a escalar.

Um detalhe era curioso, uma área em que a pedra na parede era diferente do restante, obviamente colocada lá de modo não natural. Ali era um buraco, fechado de dentro para fora, já conseguia imaginar por quem. As desgraçadas simplesmente o jogaram para fora sem preocupação. Sorriu, o quer que fossem, não quiseram o comer. Foi melhor que simplesmente o expulsassem sem cuidado.

Imaginou estar esquecendo algo, não devia ser importante.

Deu apenas alguns passos antes de cambalear, seu corpo vacilando em direções incertas. Caiu sobre o paredão, se apoiando na rocha para continuar em pé. Estava tonto demais, sua mente girando e provocando fraqueza no resto de sua carne. Colocou o braço direito sobre a terra e apoiou sua testa nele dando rápidos respiros.

Inspira, aguarda alguns segundos.

Expira com cuidado.

Não estava ajudando a se sentir melhor de forma alguma. Deixou a palma esquerda sobre o peito, os batimentos de seu coração acelerados em uma corrida desesperada. Sentia pulsar até mesmo em seu pescoço, parecendo que iria pular pela sua boca a qualquer momento. Estava desidratado demais, as consequências de ingerir água do mar fortes demais para que suportasse com calma 

Água, límpida, clara e cristalina por todos os lados aonde quer que olhasse, nenhuma gota poderia ser bebida. Que grande piada de mal gosto, poderia rir se não fosse ele naquela situação infeliz.

Tendo descansado o que foi capaz, agarrou algumas das raízes saindo do paredão e as usou para escalar. Não tinha força nos dedos ou disposição para usar suas garras naquela tarefa. Felizmente a inclinação do caminho facilitava seu objetivo que teria sido impossível de outra forma.

Quando alcançou o topo caiu de quatro sobre a grama, respirando fundo tentando recuperar o fôlego perdido com uma tarefa que antes teria executado sem encontrar qualquer dificuldade. Sua cabeça voltara a doer com aquilo, não sabia nem se deveria abraçar ela ou seu estômago dolorido.

Um rio, um lago, qualquer lugar de onde pudesse encontrar o que beber. Se ajoelharia até a algum dos deuses estúpidos da Bruxa do Pantano para conseguir água. Se deitou em posição fetal, não deu atenção aos arredores por ser incapaz de o fazer. Para sua sorte era seguro por enquanto ao menos.

Descansou por vários minutos, em dado momento ficou de pé novamente para que pudesse urinar, se livrar de toda aquela água salgada. Lamentavelmente, não seria nem o bastante para começar a melhorar sua situação.

O Hobgoblin encarou o desafio à sua frente, uma mata fechada sem caminhos óbvios pelos quais seguir. Um território completamente inexplorado. Se encontrava pagando um preço caro por sua tão insaciável curiosidade. O pior era saber que essa lição sofrida não seria o suficiente para o impedir de ser curioso no futuro.

Com o braço esquerdo em formato horizontal sobre sua barriga, em uma tentativa de conseguir algum conforto. Andou curvado em passos lentos na direção da selva, seus cabelos negros como a noite escorrendo ainda estavam caídos sobre sua face.

“Ele” era uma representação muito boa da miséria naquele momento. Não à toa, era o sentimento perfeito pra descrever o que sentia.

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