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Capítulo 71: Fumaça e alturas

Se mover em meio a uma área desconhecida não era uma tarefa que poderia ser descrita como fácil ou qualquer outra palavra com a mesma conotação. Entretanto, não seria errado caso admitisse que possuía certas vantagens quando comparado a outras espécies, como os humanos por exemplo.

Mesmo que sua capacidade de se localizar sob a terra fosse inútil, o Hobgoblin ainda tinha seus sentidos avançados. Água é insípida, despossuída de cor, cheiro ou gosto. Não poderia rastrear com seu olfato, mas felizmente, rios são barulhentos.

E sua audição era seu guia indicando as direções corretas a se tomar em meio a mata virgem. Seu pior adversário nessa questão era o barulho, insetos fazendo sons por todos os lados e animais de diferentes tamanho provocando ruídos ao se esconder da presença do monstro.

Não fora fácil, no entanto foi dessa forma que após vários minutos de procura chegou a um pequeno riacho. Era raso, com várias pedras sobre ele, se encontrava cercada por árvores e alguns arbustos. Cambaleante, correu na direção da água tropeçando logo no final do percurso e caindo de joelhos.

Enfiou seu rosto avidamente bebendo em cada gole o máximo que sua garganta aguentava desesperado por saciar sua sede e parar com as dores em todo o seu interior. Bebeu até sentir o volume de sua barriga aumentar, ingeriu até sentir as paredes de seu estômago balançarem e só então ficou satisfeito.

Rastejando se afastou do riacho e se sentou com as costas apoiadas em uma árvores de tronco grosso. Visivelmente satisfeito respirou fundo, com as mãos tirou o cabelo molhado que cobria parte de seu rosto e o jogou para trás onde não atrapalharia sua visão. Parecia melhor, já se sentia um pouco melhor. Uma leve enxaqueca permanecia e o seu intestino ainda sofria com dores leves. Todavia, “ele” iria sobreviver.

Não devia, mas se permitiu relaxar por alguns minutos. Sua cabeça apoiada contra a madeira, olhos fechados e uma respiração ritmada. Sim, se sentia bem o suficiente. Ergueu seu corpo e ficou em pé com menos dificuldade, suas pernas apesar de ainda fracas tiveram os tremores cessados. Embora seu caminhar possuísse uma falta de firmeza, não era mais trôpego.

Saciado, assumiu duas novas missões. Primeiro e mais fácil, deveria encontrar algo que pudesse comer fosse planta ou carne. Segundo e mais difícil, se localizar em relação aos territórios que conhecia e retornar para as planícies onde deixou a Bruxa do Pantano.

Alongou seus membros tentando recuperar algum controle sobre a força em seu corpo. Um braço reto para um lado enquanto o forçava contra o corpo usando o segundo. As pernas completamente abertas no chão enquanto curvava suas costas. Uma série de alongamentos simples.

Imaginando estar pronto ficou de frente a uma árvore e a escalou. Chegando no topo dos galhos sentou para recuperar algum fôlego e se preparou novamente, aquela altura não era o suficiente. Encontrou próximo uma árvore maior saltou até ela e subiu decidindo ao final de que não era alto o bastante.

Alguns metros a distância notou uma que seria o bastante, o galho em que estava não era longo o suficiente, então teria que correr e saltar. Era incerto se teria força o bastante para aquilo, no entanto tentaria. Pegando impulso correu até o final onde saltou e usou suas garras para se prender no tronco.

Fora uma ideia questionável, seus braços fraquejaram com o peso de seu próprio corpo o puxando para uma queda mortal, escalar aquele corpo que parecia alcançar os oitenta metros era um pensamento aterrador. Resistindo à dor, trechos foram escalados até conseguir se sentar em um galho no meio da árvore. Embora ainda houvesse muitas se estendendo acima dele naquela floresta tropical, eram poucas as que seriam tão colossais.

Talvez o segundo objetivo não fosse assim tão difícil, desvanecendo no horizonte estava a montanha que nomeou como Morro do Morcego devido as criaturas aladas que ali viviam. Pela posição do sol, se encontrava a sudoeste da região em que se estabeleceu, seriam poucas horas de viagem até alcançar em seu estado enfraquecido. Em momentos melhores, talvez menos tempo se faria necessário.

Aproveitou para observar a geografia da região, sua suposição sobre o motivo dos Pseudo-centauros levarem tanto tempo para alcançar o mar se mostrava correta. A Floresta de Dante ficava em uma faixa litorânea até onde sua visão alcançava, um trecho de terra se estendia em direção ao mar como uma pequena península. Como não galopavam pela selva graças a dificuldade de locomoção que teriam, o povo de Lauany só conhecia aquele caminho para o oceano, um que levaria mais de um dia de viagem e era desnecessário para quaisquer outros monstros bípedes.

Resolvida essa questão que nem era urgente para “ele”, era momento de descobrir se algo visto dali de cima facilitaria a busca por alimentos. A visão de pássaros alçando vôo ao longe foi forte indicativo de qual área estava movimentada e o Hobgoblin decidiu que se manteria longe dela.  A fumaça em outra também seria um bom alerta.

Fumaça?

Quase deixou que isso passasse despercebido em meio a suas distrações, um volume cinzento de constituição inconfundível subia da terra e alcançava os céus a oeste de onde se encontrava. Não era do feitio da maioria dos monstros fazerem fogueiras e os que faziam, jamais o fariam tão cedo. Seria apenas uma denúncia perigosa de sua posição para predadores.

O responsável por aquilo ou tinha pouco costume com as regras que garantia sobrevivência ou detinha força o bastante para  confiar que nada representaria perigo. Instigante, no entanto seria tolice investigar em seu atual estado além de que estava a mais horas de viagem do que levaria para voltar a seu esconderijo. Não seria sensato gastar um dia inteiro daquela forma.

Uma única questão o incomodou enquanto descia cuidadosamente a árvore, conformado com o fato de ainda não saber onde encontrar comida.

Quem?

Duas possibilidades dançavam em seu cérebro, opções lançadas pelas informações descobertas no último mês que se passou. 

Os Contrabandistas?

Ou Matinta Pereira?

Esperava não ter que descobrir tão cedo.

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