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Capítulo 79: Um Reencontro?

A alcatéia era grande, poderia chamar de alcatéia? O termo para se referir a um coletivo de lobos podia ser usado da mesma forma quando em relação a Homens Lobos? Iria tomar a liberdade de o fazer dessa forma, não havia especialista em semântica algum para o corrigir caso estivesse errado.

A alcatéia possuía vinte e seis membros, seis eram os filhotes, baixos como um goblin com pelos ralos, mas ainda cobrindo toda a extensão de sua pele. Onze eram as fêmeas, fáceis de identificar pelos seios grandes e a falta do órgão masculino. Elas eram menos musculosas que seus iguais de gênero contrário, no entanto de mesmo tamanho.

Uma se destacava perante as outras, com colares de ossos em seu pescoço que nenhuma outra usava. Essa é a que se encontrava sentada em um tapete de folhas no ponto central da cabana cuidando das crianças do grupo. O ambiente era escuro, o que não deveria ser um problema para os lupinos, não seria também para o Hobgoblin.

“Ele” foi jogado em um canto do local junto ao corpo já frio de um porco do mato. Um dos dois seria comido naquela noite, o outro provavelmente encontraria o mesmo destino na manhã do dia seguinte. Era um daqueles dias em que o monstro verde se arrependia da sequência de escolhas que resultara em um momento específico de sua vida.

Não chegou a tanto arrependimento em sua fuga frenética após o encontro com a Centopéia gigante, tampouco com as mulheres metade peixe. Paciente, sempre foi um monstro paciente contrariando os instintos naturais de sua espécie anterior. Os Homens Lobos estavam perigosamente perto de matar sua paciência.

Refletir sobre o momento seria inútil, existiam maneiras melhores de gastar seu tempo de cativeiro. Uma delas era voltar a estudar a linguagem daqueles lupinos. Um meio de comunicação que o fascinava, tão único, uma série de rosnados que possuíam diferença apenas em entonação.

Um desafio para qualquer um que não nascesse envolvido naquele meio. Exigia não apenas uma audição bem desenvolvida, como uma capacidade de memória capaz de memorizar as diferenças de entonação de rosnados em relação também com a ordem em que eram organizados.

“Ele” tinha uma noção da estrutura, mas nenhuma dos significados. Teria sido impossível para qualquer outro. Aquela compreensão rápida de algo tão complexo era antinatural. Os efeitos do Ampliador de Desempenho Psicotrópico em seu cérebro mais uma vez apresentaram resultados fascinantes.

Era quase uma pena que o desenvolvedor de tal avanço científico não pudesse observar os resultados, mas era melhor assim para o Hobgoblin.

Enquanto ouvia silenciosamente, um novo indivíduo se juntou ao grupo, igual a todos os outros, mas assim como a fêmea especial, se destacou dos demais. Esse possuía não só colares de ossos únicos, como também um colete de couro marrom aberto na região do peito. Uma peça de roupa muito bem feita para ter sido confeccionada por qualquer um deles, provavelmente tirada de algum humano. 

Toda a tribo parou para ver sua chegada e ficaram em silêncio enquanto ele caminhava até o meio do local onde se sentou junto a fêmea distinta. Foi apenas nesse momento que todos voltaram a conversar. Sem dúvidas, o novo indivíduo era o líder.

A hierarquia então era pautada em força, presumiu o Hobgoblin visto que o chefe era maior que os outros e mesmo não tendo mais músculos, carregava mais cicatrizes, marcas de uma vasta experiência como lutador. Aquela forma de organização não o surpreendia, era a norma para as Tribos da Floresta de Dante, a sua inclusa.

Embora sua liderança frente a seus semelhantes se desse principalmente por sua inteligência. Existiam Hobgoblins que poderiam o superar em força, mas que não sabiam como a utilizar da melhor forma possível.

Os Homens Lobos não eram tão ineficientes, o superaram em força, agilidade e mesmo carecendo de técnica sofisticada, demonstravam uma capacidade de trabalho em equipe incomparável. O monstro verde estava desesperançoso, suas chances de escapar com vida pareciam minúsculas, elas eram ínfimas.

“Hum, o que chama tanto sua atenção?” Questionou quando viu um filhote sentado à sua frente. Visivelmente, curiosidade tola era compartilhada por crianças independente de espécie ou gênero.

Qualquer que fosse a vontade do pequeno, não poderia ser realizada. O líder rosnou quando notou a aproximação, o filhote correu para longe da presa. 

O Hobgoblin se viu sob a atenção do Homem Lobo principal pela primeira vez desde que ele chegou, o mesmo caminhou até seu cativo e se agachou em sua frente, os olhos negros do lupino encarando os seus amarelos. Rosnou algumas palavras para seus semelhantes, e embora não entendesse, o monstro verde desgostou do tom usado.

“Nós nos conhecemos por acaso?” Perguntou graças ao interesse com o qual era observado.

Sorrindo, “ele” rosnou repetindo o próprio som saído da garganta daquele em sua frente. Desconhecia a mensagem passada por aquela sentença, mas como sem muitos motivos válidos acreditou ser ofendido, quis devolver a ofensa.

Os Homens Lobos demonstraram surpresa, ou assim pareceram o fazer. Era difícil saber com certeza devido a sua falta de expressividade humanoide, “ele” não conhecia bem o suficiente os costumes lupinos para interpretar suas peculiaridades físicas e por consequência suas expressões.

Então, pareceram demonstrar surpresa.

Até que foi sua vez de ser consumido por tão emoção. Em frente a seus olhos o líder caiu de quatro, não em submissão, mas sim pela dor em seu corpo. Suas costas fizeram o inconfundível som de estalo enquanto as curvava até se tornaram retas. Seu focinho retraiu e ele gemeu de dor com a carne se compactando em seu rosto da mesma forma que urrou com os dedos da mão se quebrando para se realinharem.

Os pelos laranjas todos caíram revelando uma pele rosada, quase humana. Os únicos que se mantiveram foram os do topo da cabeça, imitando o que deveria ser cabelo.

Não era uma boa imitação de um ser humano, não enganaria a ninguém na Floresta de Dante, porém se visto fora dela poderia até ser aceita como uma pessoa simplesmente feia.

“Sim, nos conhecemos.” Disse o imitador com um sorriso de dor.

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