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Capítulo 9: A caverna dos desenhos.

A escuridão foi sua primeira companheira, a mais antiga e confiável. Quando nasceu, abandonou a falta de luz do corpo de sua mãe apenas para encontrar ainda mais escuro. Não existe modo de iluminar as cavernas dos goblins, não há pedras que brilham, sem nenhuma flor vermelha que queima, sem o grande sol. A escuridão trazia segurança, “ele” sempre acreditou nisso. 

Rastejou acolhido por ela, quando em risco de vida notou que em certo ponto a parede que sustentava a caverna de cima se rachou abrindo aquele túnel no qual estava agora. O aperto do túnel fazia com ele se movesse com os membros unidos, como se fosse um daqueles bichinhos sem braços que moram dentro da terra e da lama.

Onde o caminho iria acabar era desconhecido, o monstro apenas prosseguia cada vez mais baixo, indo mais fundo conforme persistia. Respirar era uma tarefa difícil para os que não estavam acostumados, no entanto os goblins sempre preferiram mais o pouco ar do subsolo em relação aos ventos presentes acima deste.

A descida foi interrompida quando sua cabeça se chocou contra algo duro. Ali acabava o túnel, o caminho não dava em lugar algum. Um obstáculo que não apresentava dificuldade alguma para um de sua espécie. O monstro moveu os braços, os esfregando contra a pedra dura tentando levar suas mãos até onde estava sua cabeça. Não havia espaço para o movimento e ainda assim ele continuou tentando, esfregando sua pele na rocha dura para forçar passagem de forma que até mesmo seu coro naturalmente resistente estava ganhando feridas pequenas.

Suas tentativas deram resultado quando conseguiu tocar a lisa rocha em seu caminho com suas palmas nuas. Seus dedos foram mantidos contra a pedra e ele iniciou sua escavação.

A raça dessa infeliz criatura nascia com poucas características que os tornassem especiais, entretanto algo que os fazia únicos naquela floresta eram suas garras. Seus dedos não cortavam, não rasgavam, incapazes de dividir carne ou atravessar peles duras. Todavia, cavavam através da terra de uma forma que nenhum monstro que “ele” já viu era capaz.

Cada garra era longa e curvada, com pontas duras que raspavam a superfície da pedra até perfurar e um corpo que lançava as pedrinhas para trás. Atravessando o obstáculo, seus ouvidos pontudos ouviram um som atravessando a rocha, lembrava a água que corre, causadora de seus problemas, porém o barulho lhe deixava mais calmo.

O som ficava mais alto à medida que descia e atingiu seu ápice (uma palavra que “ele” não conhecia, mas sabia bem explicar) quando o goblin despencou. Seu corpo caiu pelo que alguém com capacidade de contar teria dito serem trinta segundos. A dor foi menor do que o próprio esperou ao perceber o que estava acontecendo, foi protegido pela água. Líquido que se espalhava por todo esse novo lugar em que estava.

O lar daqueles que andam nos galhos, como já dito, eram na visão do monstro um amontoado de cavernas em cima de outras maiores. Estava em mais uma agora, uma muito bonita, uma que o fazia se sentir seguro.

Todo o chão estava coberto por água, “ele”  não sabia dizer da onde ela vinha, talvez brotasse da terra que sentia com seus pés ou surgisse de um buraco em algum canto das paredes. O líquido chegava até sua cintura, o que felizmente não ia testar suas capacidades de se mover submerso. Habilidade que a água que corre provou não existir.

Em alguns pontos, o piso era mais alto e foi na direção de um deles que andou. Quando atingiu uma dessas regiões descobertas, usou a pouca força de seus braços cansados para subir na área seca. Se sentando, ele suspirou cansado, finalmente livre de qualquer risco imediato a sua vida, permitiu-se analisar o ambiente com calma e um grande interesse.

A caverna era ampla, larga e caberiam muitos do seu povo ali, algumas dezenas na visão de um ser com a habilidade de contar.  Em pontos específicos, proporcionalmente afastados um dos outros haviam aquelas pedras grandes como troncos que seguravam o que devia ser a caverna de cima.

Pelo que podia ver, existiam três grandes entradas para túneis, os quais em sua maioria estavam obstruídos. O teto havia desabado em dois desses túneis, um ao sul da sala e outro a oeste.  Apenas aquele a leste parecia dar em algum lugar, o que no momento não interessava ao goblin.

Sua atenção estava toda no teto, pois nunca havia visto um como aquele. Desenhos eram presentes em toda a sua extensão, figuras que não poderiam ser feitas por nenhum monstro. Goblins tinham o costume de desenhar nas paredes, imagens simples e mal feitas, nada como aquilo que “ele” via agora.

Humanos estavam na pedra, usando peles falsas de couro, cobertos por penas de diferentes cores em pontos específicos de seus corpos. Eles portavam armas, algumas o monstro já havia visto e outras não. A cena era de luta, todos contra todos com o sangue vermelho traçando linhas pelo teto e descendo pelas paredes.

O mais importante era o enorme animal, tão grande que ocupava todo o centro da figura e tocava as paredes. Parecia o cipó que faz sssss, entretanto era coberto por penas e possuía asas.

No corpo da criatura, símbolos escuros estavam presentes. Juntos pareciam formar algo que ele não entendia.

Q U E A T Z A C O A L T

O que quer que esses símbolos significavam, não importavam para ele agora e independente do quão bonito fossem as imagens, devia seguir seu caminho e achar uma saída. 

O goblin voltou para água e caminhou por entre ela indo na direção da única entrada pela qual era possível passar. Pensaria ainda por muito tempo sobre aquilo que viu, fosse o grande cipó de penas ou os humanos que se matavam.

Aquele animal vivia na floresta? Ou viveu? Quem fez aqueles desenhos? Foram os mesmos que construíram as cavernas em cima de cavernas? E os humanos viveram naquela floresta algum dia? 

Se um dia habitaram aquela terra, deixaram algo para trás?

Algo perigoso?

 

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