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Capítulo 93: Caminhada noturna

Seus socos foram rápidos, cada um deles acompanhado de giros de quadril que aumentavam a velocidade dos movimentos. Seus chutes foram poderosos, altos a ponto de poderem acertar inimigos muito maiores.

Infelizmente, atacar uma parede no subsolo não estava ajudando a acalmar sua mente. Horas se passaram desde seu rito funerário improvisado e desde então, o que quer que sentisse antes foi substituído por raiva. “Ele” odiava a Líder daqueles que caminhavam nos galhos, sempre a odiou desde o primeiro momento e tinha motivos razoáveis para tal.

Mesmo os meses não acalmaram a chama em seu peito, o Hobgoblin podia ser surpreendentemente rancoroso. Ainda assim, apesar de tanta animosidade, nunca pareceu ansioso para enfrentar a primata. Planejou um dia se livrar dela, evidentemente, embora nunca tivesse tido pressa.

Pois ficaria feliz se ela simplesmente morresse, satisfeito se ela perdesse tudo, divertido caso um dia ela aparecesse aleijada e mesmo assim não teria agido para provocar qualquer uma dessas situações. Porque ela simplesmente não valia o seu tempo, nunca valeu antes.

E nem agora, por mais que desejasse rasgar os músculos dela e usar seus ossos como troféus. Metas mais importantes estavam em seu horizonte e os resolveria antes, porém sem esquecer seu ódio por ela.

A Grande Líder dos Macacos morreria na primeira oportunidade que lhe aparecesse de trazer fim a vida patética dela.

Acalmando sua mente, passou a caminhar em direção à saída de sua caverna, um lugar que estava disposto a abandonar, nada mais o prendia àqueles salões sem a necessidade de manter subordinados abrigados. 

Quando seus pés tocaram a terra cheia de mato, seus olhos se voltaram para cima e o Monstro Verde se permitiu admirar o pôr do sol laranja por alguns segundos. Deixando o sentimento pesado que sentia antes para trás junto da luz do dia, o monstro começou o que desejava fazer desde o início, mas sem a ajuda que teria em seu plano inicial. Com facilidade escalou uma árvore e retirou vários dos cipós que ela possuía, usando suas garras como ferramentas de corte.

Repetiu o processo após saltar até outra árvore e o fez mais uma vez depois, refazendo o processo por várias e várias vezes. Levou mais de uma hora reunindo os materiais e gastou ainda mais para formar o que necessitava. Um amarrado ao outro, se intercedendo em pontos variados como uma intrincada teia de aranha.

Sentado na terra sob a luz da lua, segurou uma rede de pesca em suas mãos, a primeira que já viu e talvez alguns buracos fossem muito grandes enquanto outros fossem pequenos, mas “ele” não era pescador e nem conhecia os parâmetros exigidos na criação de redes para pescaria.

O importante é que serviria ao seu propósito, aqueles lobos estavam passando fome? Então o Hobgoblin lhes alimentaria.

Peixe ainda era carne… certo? De qualquer forma, aqueles que não tem nada são desprovidos do direito de escolher. Que aceitassem o que era oferecido a eles.

Satisfeito, retomou o seu caminho habitual que o levava até as planícies que atravessaria para chegar no grande lago que era mais perto da alcateia, mas foi impedido por uma visão incomum. Se ocultou nos matos altos, sua pele verde ajudando a se camuflar daqueles que voavam pelos céus.

Como falara a Bruxa do Pantano tempos antes, nunca viu aquelas criaturas pela região em que vivia e mesmo assim lá estavam. Cerca de oito daqueles homens pardos com asas de morcego voaram pelos céus passando direto por onde “ele” se escondeu e sumindo de seu campo de visão.

Interessante.

Aparentemente, aqueles que vagavam nos céus e o monstro que vivia sob o solo iriam na mesma direção. Um lado tinha óbvia vantagem em sua velocidade e na falta de obstáculos e dessa forma nunca os alcançou. De qualquer forma, não era o melhor momento para procurar novos problemas com outras espécies depois de tantos que já tinha. 

Ao menos foi seu pensamento até os rever e ter sua curiosidade incitada, com agilidade escalou uma árvore para ter melhor panorama e se camuflou entre as folhas verdes tais quais o próprio. Os humanoides alados começaram o caminho contrário retornando por onde vieram, mas não todos, apenas dois deles.

Cada um tinha algo grande em suas mãos que “ele” era incapaz de reconhecer, mas que decididamente estavam vivos pela forma que se contorciam e tentavam se soltar. Apesar de que se conseguissem, a queda seria a última experiência de suas vidas curtas.

O que não aconteceu.

Os monstros com asas de morcego atravessaram a área onde o hobgoblin se escondia e se tornaram pontos pequenos no horizonte conforme a distância aumentava. Cada vez mais interessante, entretanto mantinha sua opinião de já ter questões o suficiente a resolver.

Com sua rede de pesca sobre seus ombros, trocou seu modo de locomoção por um mais ágil saltando pelas árvores e usando os cipós para se deslocar. Chegou ao início das planícies, dessa vez ignorando o território dos Orcs e o contornando. Seus passos o levavam em direção ao lago quando avistou um dos homens alados, foi pela terceira vez que cruzou com um deles em uma só noite apesar de ter passado anos sem ver nenhum.

Neste momento não houve onde se esconder, embora também não houvesse necessidade de o fazer. Se o humanoide com asas de morcego lhe viu, o ignorou e continuou sua viagem, igual aos outros de sua tribo, carregava algo pequeno em mãos que se contorcia e parecia estar vivo.

Interessante, mas esse pensamento já estava repetitivo.

Suas pernas o levaram cada vez mais longe até chegar ao local em que os Pseudo-centauros estavam da última vez que os viu, mas os nômades quadrúpedes já estavam em outra região. Felizmente, existiam muitas pegadas a serem seguidas e foi assim que os encontrou.

O primeiro a ser avistado foi Lauany, assim como ela também o viu. Os pares de olhos se encararam, a mulher segurando seu arco em mãos, a corda esticada pronta para enviar um tiro certeiro e fatal. Foram segundos que pareceram uma eternidade, os azuis honestos dela contra seus amarelos astutos.

Ela não atirou nele e quando passou a olhar para o céu, o Monstro Verde soltou o ar que não percebeu estar segurando, fechou o punho da mão direita assim que percebeu o tremor em seus dedos. De qualquer forma, não existia qualquer razão para ela o querer morto, em verdade parecia o ter em apreço.

Foi firme em seus passos até a alcancar, a Pseudo-centaura estava observando o céu, afastada dos outros de seu povo que descansavam à distância. “Ele” voltou a sua atenção para a mesma direção e vendo o céu escuro vazio, percebeu o que a mulher caçava com preocupação.

Então, você também os avistou, creio eu. — iniciou uma conversa com ela olhando os ares também, auxiliando em sua vigília.

— Os Kupen-Dyeps parecem agitados essa noite.

Cupendiepes? — um novo nome para as espécies daquela selva.

— Sim, não costumam se afastar muito do Morro do Morcego.

O Hobgoblin ergueu uma sobrancelha, desviando seu olhar para ela por alguns segundos antes de voltar ao céu.

Você já caminhou até aquela região antes? Pensei que não fosse apta a locomoção entre a mata fechada.

— Oh, não, nunca, mas os antigos Apinajé falaram sobre eles tempos atrás.

Antigos, tempos atrás. Essas palavras o fizeram pensar, Curupira supostamente recebera seu nome de um deus, ganhando poderes e um dever a realizar. Sabia que o homem de pés virados era uma existência anciã, quase uma relíquia de tão velho. Seria Lauany tão antiga assim? Uma pergunta que não era íntimo o suficiente ainda para fazer.

Caipora também? A garota parecia jovem e imatura, mas tinha uma aura ameaçadora apesar de suas atitudes brincalhonas. Pensar nela fez sua cabeça doer, sentiu uma névoa sobre sua mente ocultando algo. Estava esquecendo alguma coisa sobre a Pirralha do Mato?

— Você viu o que carregavam? — ela perguntou curiosa.

Se moviam como seres vivos.

— Oh, era um filhote de Homem Lobo. — disse tendo o visto com sua visão aguçada, foi depois de falar que assumiu uma expressão confusa quando percebeu o que foi dito — Se moviam? Mais de um?

Me deparei com pelo menos três deles transportando outros seres vivos.

— Outros filhotes de Lobo?

Não saberia informar, no entanto não pareceram ir longe o bastante para sequestrar mais um filhote de Lobo.

— Então o filhote de outro monstro? Mas por que fazem isso? — ela deixou a pergunta vagar no ar, como se tivesse falado apenas para si mesma.

O Monstro Verde pensou em sua visita ao Morro do Morcego acompanhado da réptil loira.

Eu não saberia lhe dizer — mentiu com a naturalidade de quem respira. — Alterando o foco do assunto, passarei a noite aqui, preciso da ajuda de seu irmão para algo pela manhã.

— Sinta-se como um de nós — ela ofereceu sem fazer sinal de que se moveria daquele local. 

Não deu atenção ao monstro se afastando, seus olhos voltados ao céu. Lauany não dormiria tão cedo e ficaria lá até a chegada da manhã, pois alguém precisava ficar de olho nos Kupen-Dyeps e a mulher sempre protegeria os seus.

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