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Capítulo 97: A entrega do pescado.

Essa foi uma viagem difícil, uma conclusão óbvia com a qual só se preocupou ao largar um último corpo morto ao chão. Carregar uma cesta tão cheia de comida por todo o trajeto da floresta era de certa forma um pedido para ser atacado por uma longa variedade de criaturas famintas, como aquela que matou já perto da clareira dos Homens Lobos.

Uma espécie de monstro baixo de formato humanoide que andava com as costas curvadas, quando abriu a boca para atacar, sua mandíbula se deslocou de forma tão desproporcional que poderia ter engolido o braço do Hobgoblin em um único golpe. 

Apenas um dos vários com os quais foi obrigado a entrar em conflito, infortunadamente visto que transportar aquela comida limitava os modos pelos quais podia se defender. Os braços não eram uma opção em combate e a maior parcela de todos os seus chutes era pouco recomendada.

Uma viagem tão lotada de empecilhos o atrasou em várias horas. Considerando o tempo que o irmão de Lauany precisou para cumprir uma tarefa simples e a demora causada por tanta interferência em um caminho que já era longo, estava feliz por ter decidido iniciar aquele dia o mais cedo possível. Uma vez que já era noite e a lua subia cada vez mais alto quando alcançou seu destino.

Do momento em que pisasse naquela clareira até ir embora, tudo deveria ocorrer estritamente como o planejado. Entregaria para aqueles animais peludos e cobertos de pulgas a comida que parecia faltar tanto. Receberia deles a gratidão e servidão que deviam ao Monstro Verde depois da batalha (não provocada “ele”) pela liderança e com sorte teria algumas mãos novas para substituir aquelas que a Líder dos Macacos lhe custou.

Existiu uma única vez que as coisas saíram exatamente como o Hobgoblin planejou?

Percebeu que algo estava notoriamente errado no momento que avistou a clareira da alcateia. O silêncio soou ensurdecedor… se é que essa frase fazia sentido. Claro, era natural que tribos ou agrupamentos de monstros fizessem silêncio em momentos noturnos a fim de evitar predadores maiores.

No entanto, aquela completa falta de ruídos em um grupo tão grande era tudo menos natural, principalmente para uma criatura com a audição tão apurada quanto a dele, que sempre teve orelhas melhores que outros monstros do tipo. Se concentrou para ouvir melhor e nem mesmo os pássaros noturnos estavam ao alcance. Seus olhos absorveram cada detalhe da casa feita de barro e madeira, nenhum movimento pode ser visto pela janela ou pela única entrada, parecia uma caixa vazia visto de fora,

Deu passos lentos, suas pisadas leves e suaves não causaram sons ao bater na terra dessa forma sem perturbar a atmosfera de mudez, isso até o momento que parou. Ainda tendo que concluir metade do caminho necessário para alcançar a entrada, seu nariz captou um odor distinto.

 Rançoso e tendo semelhança a um cheiro que aprendeu a associar com ferrugem depois de acumular todas as armas que tinha. Um aroma que em suas experiências de vida vinha acompanhado de saciação, dor ou uma exaltante e incomparável sensação absoluta de vitória recoberta por glória.

Era cheiro de sangue.

Algo morreu dentro daquela moradia, de forma violenta considerando quanto sangue ele conseguia sentir com seu olfato apurado, talvez até mais de uma morte. Foi nesse momento que o vento assobiou, uma mudança abrupta no clima de calmaria que o fez lembrar de continuar.

Os sinais eram mais que desanimadores e sua curiosidade como sempre era sua principal motivação. Com a cesta firme em mãos completou a metade que faltava e alcançou a entrada da cabana de barro, seus olhos primeiro avistaram as manchas vermelhas escuras espalhadas pelo chão e paredes do canto direito. Marcas de garras recobriam as paredes e três buracos no telhado permitiam que a claridade da lua iluminasse o interior.

 A luz descida dos céus iluminou os corpos no chão, todos vivos e olhando atentamente para o novo visitante. Homens Lobos, nesse caso mulheres seria uma definição melhor, era oito das fêmeas pelo que foi capaz de reconhecer e… apenas três dos filhotes.

Na última vez que os viu, eram cerca de vinte adultos e seis ou cinco filhotes pelo que era capaz de recordar. Estranhamente, ali estavam as oito fêmeas agachadas em posição de ataque formando um círculo ao redor de suas crianças, som nenhum era feito por elas e até sua respiração era pouco perceptível.

Os olhos dela pousaram sobre o Hobgoblin e não o deixaram, até mesmo piscar foi algo que se recusaram a realizar. Seus focinhos se inclinaram para cima e deram leves fungadas com algo desviando a atenção delas. “Ele” aproveitou o momento e largou a cesta sobre a terra garantido que seu impacto teria barulho e chamaria atenção.

A alimentação que prometi a todos vocês. — abriu os braços indicando que era um presente à tribo.

Uma das fêmeas se ergueu, seu pescoço tinha um colar de dentes e seus pulsos ostentavam braceletes de ossos junto de variados adornos de pedra espalhados por seu pelo. O Monstro Verde a reconheceu como a mulher do falecido líder, provavelmente cuidando dos membros ali presentes.

Ela chegou à cesta com passos dúbios, uma desconfiança em todo o modo que se movimentava. Suas mãos com hesitação pegaram um dos peixes no topo do recipiente e usaram seu olfato sobre-humano para avaliá-lo. Seus olhos nunca deixaram os do visitante noturno, insegura levou o animal à boca e deu uma mordida pequena, após mastigadas pequenas escolheu esperar.

Nada aconteceu, então enfiou o peixe inteiro na boca com uma preocupação quase inexistente em mastigar. Pegou a cesta com brusquidão e a levou até onde as outras fêmeas se reuniram e todas se jogaram ao mesmo tempo na comida, pegando com avidez suas próprias porções.

O Hobgoblin deixou que comessem em paz. Pensando no tempo em que provavelmente não conseguiam qualquer tipo de carne devido às presas fugindo de seus territórios naturais, aquela era uma refeição especial e seria educado de sua parte deixar que aproveitassem.

Se afastou delas e voltou seu foco para o teto, aqueles buracos tinham formatos curiosos, grandes demais para terem sido feitos por intempéries da natureza. Três buracos, três invasores então. O sangue já secara, mas seu cheiro ainda era intenso e sua pintura vasta. Nem todos saíram, talvez um ileso ou até dois feridos deixando um morto para três. Relembrou a noite anterior e sua conversa com a forte e poderosa Pseudo-centaura, sabia exatamente o que aconteceu naquela morada.

Saciada, a fêmea responsável pelas outras se levantou e saiu da cabana em passadas velozes chamando a atenção do Monstro Verde. No lado externo ela uivou, seu canto noturno rachando a força o silêncio da noite. Foi apenas questão de segundos até a resposta surgir na forma de um, dois, três sons semelhantes, todos vindo de direções diferentes e distâncias sortidas.

 Com paciência, “ele” andou até um ponto sem sangue, mas longe o bastante das lupinas para não ser invasivo e se sentou. Em alguns minutos teria uma nova perspectiva da situação e teria que outra vez mudar seus planos.

Nada nunca funcionava como queria.

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