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Capítulo 99: A caminhada.

Como planejado, algumas horas antes do sol se erguer, o Hobgoblin abriu seus olhos e se sentou. A escuridão os cercava pelo lado de fora e apenas o som dos insetos podia ser percebido, era o momento ideal para partirem. O Monstro Verde se ergueu e junto dele, dez dos Homens Lobos se levantaram prontos para partir. Não saberia dizer se eles tinham um sono leve com o seu ou se não dormiram pelo tamanho da ansiedade.

Era melhor que não carregassem cansaço com eles ou os deixaria à mercê da própria sorte frente a qualquer tipo de ameaça que se pusesse em seu caminho. “Ele”, diferente dos outros, transparecia calma e a ausência de qualquer forma de pressa. Tomou seu tempo para se alongar e contorcer causando um embrulho no estômago dos lupinos, levou vários minutos desembaraçando seus longos fios de cabelo até amarrá-los em um longo rabo de cavalo. Mesmo assim era grande o suficiente para chegar abaixo da linha da cintura, talvez fosse o momento de cortá-los.

Ignorou os olhares irritados e rosnados de revolta, os movimentos impacientes e aqueles que ficaram andando de um lado a outro. Teria sido sensato de sua parte fingir se importar e mostrar algum ânimo, mas o seu eu matinal não era capaz de ter força de vontade o suficiente para emular qualquer empatia ou interesse genuíno.

Sairemos agora enquanto o astro lunar ainda se põe em evidência no céu escuro, com velocidade adequada chegaremos à região deles com o sol no alto. Eu nunca vi os Cupendiepes de dia. — mentira, mas considerando que os encontrou apenas em duas ocasiões, pouca diferença faria — Então é correto presumir que durmam durante o dia para caçarem pela noite. Nós os surpreenderemos enquanto menos esperam.

Seus olhos vagaram pelos rostos peludos em busca de discordância ou desagrado, mas não foi recompensado com nada além de determinação. Como seria amar algo a esse ponto? Qual a recompensa em enxergar tanto valor em outro indivíduo de modo a se dispor a jornada exaustiva e uma batalha de risco desconhecido? 

“Ele” não tinha a capacidade de sequer supor as respostas adequadas a essas duas questões, o Hobgoblin nunca lutou por ninguém e nada além de si… talvez jamais o fizesse em sua vida.

Vamos embora

E essa ordem deu início ao dia da alcatéia, saiu sendo seguido pelos dez Homens Lobos voluntários, seu tradutor entre eles. Era mais eficiente para os caninos se corressem por terra, mas a velocidade das pernas plantigradas do Monstro Verde não era comparável aos membros digitígrados dos lupinos. Acabaria por atrasá-los se decidisse ir por chão, razão pela qual decidiu seguir pelas árvores.

Sob o olhar atento de seus futuros subordinados escalou uma árvore, no alto saltou até o galho de outra e dessa forma se locomover mimetizando o modo como aqueles que caminham nos galhos faziam. Onde aqueles macacos irritantes se moviam com naturalidade e instituto puro, “ele” compensava com técnica e acrobacias refinadas após treinos intensos.

Foi assim que igualou sua velocidade a deles e durante as primeiras horas o ritmo intenso de esforço colossal foi mantido por todos sem muitas dificuldades, porém todo ser vivo alcança seus limites em algum momento. Pararam à beira de uma regato recém-formado pelas chuvas onde todos saciaram porcamente a sede.

Verdadeiramente despreocupado com a situação, o Monstro Verde se fez de alheio à tensão e deu mais valor a sua aparência. Aproveitou que a água era clara e a luz o bastante observou seu próprio rosto, apesar de bonito, algo parecia faltar. O Hobgoblin puxou uma mecha de cabelo de cada lado da cabeça e deixou que caíssem emoldurando seu rosto, assim parecia melhor.

Tendo sua vaidade (algo muito mais importante que qualquer filhote raptado) saciada pelo menos naquele momento, retomou a liderança naquela busca por vingança. Já planejava como iriam agir quando chegassem ao destino, uma vez que se encontrariam em desvantagem. Recordava que o número de Cupendiepes era superior ao dos lobos o acompanhando, aquela raça noturna também era capaz de voar garantindo dessa forma vantagem aérea.

Seu amado e fiel arco fora perdido em algum momento e “ele” mal se recordava de quando ocorreu, nenhum dos Homens Lobos nutria a menor capacidade natural para o ataque a longa distância e o ambiente rochoso e íngreme do Morro do Morcego apenas se tornaria um obstáculo quando o momento chegasse.

Entretanto, tendo em mente o ambiente fechado em que viviam e como o elemento surpreso fazia parte do plano, havia algo com o que trabalhar. As coisas poderiam terminar bem se os lobos se comprometessem com sua liderança quando a hora de agir se fizesse lá.

Haveria de ter alguma tática de guerra útil a sua situação, leu tantas delas nos livros da Bruxa do Pantano, mas por mais que pensasse não conhecia alguma estratégia que servisse a inimigos dentro de cavernas.

Cavernas.

É claro, “ele” próprio vivera sua vida inteira se ocultando em tais espaços seguros, seu conhecimento empírico seria mais eficaz naquele momento do qualquer velha tática de ataque pensada para invasões em grande escala. Pensou e pensou, ideias e conceitos transitando em sua cabeça de forma aleatória, soltos para serem recolhidos quando um que fosse útil aparecesse.

Espaços apertados, luminosidade nula, ar abafado, sem saída alternativa. Amontoados, atordoados, sufocados, presos. O Hobgoblin sorriu quando sua mente chegou a uma conclusão. Só precisaria de folhas e galhos secos, algumas pedras de formato e textura específicos, todos objetos que poderiam ser encontrados nos arredores do Morro do Morcego.

Com confiança renovada chegou às planícies junto de sua alcateia (já podia chamá-la de sua?), naquele ponto o sol já nascera ao horizonte e um calor matinal começou a se espalhar pelo ar. O orvalho da noite que deslizava pela relva e molhava seus pés a cada passo secaria em breve quando a temperatura se tornasse mais exaustiva, seria quando descansariam pela segunda vez.

Ou foi o que esperou, mas quando seus olhos viram uma figura irreconhecível ao longe avançando em sua direção, compreendeu que nada iria ocorrer da forma que esperou. Estando tão distante, qualquer que fosse aquela criatura, não passava de uma mancha em seus olhos.

Claramente corria em direção a eles, os Homens Lobos só notaram o possível inimigo depois do Monstro Verde, mas não tardaram em suas reações. Em questão de poucos segundos, todos os dez estavam de quatro, preparados para qualquer luta que se fizesse necessária

Felizmente, nenhum iria ocorrer naquela planície, ao menos naquele dia. Quanto mais próxima à massa irreconhecível ficava, mais distintas suas formas se tornavam até que percebeu o que era. Forte e poderosa como sempre galopava em sua direção e “ele” não podia fazer muita coisa além de ficar impressionado, os passos dela levantavam uma nuvem de poeira deixando um rastro em seu caminho, sua velocidade era incomparável.

Nenhuma quantidade de treinamento o tornaria tão rápido quanto a Pseudo-centaura e foi o alerta que necessitava para recordar que apesar de quaisquer que fossem as fraquezas morais dela, seria tolice do Monstro Verde subestimar seu poder.

Acalmem-se. — ordenou com uma forma taciturna pouco comum a “ele”, seu braço erguido como sinal de que deveriam parar. — É uma… aliada minha.

Em menos de dois minutos desde o momento em que a viram, Lauany os alcançou sem externar um único sinal de cansaço ou apresentar qualquer falta de fôlego. Claro, se esses sinais existissem, jamais teria percebido, pois uma visão mais chamativa se apresentou. Aquela corrida e os ventos fizeram os longos cabelos de Lauany caírem para trás e pela primeira vez teve uma visão clara dos seios grandes e gordurosos da mulher.

O que infelizmente, ela não permitiu que admirasse por muito tempo.

— Hob! — foi a primeira vez que ouviu tanta autoridade na voz dirigida a ele e não nutriu o mínimo apreço pela sensação. — Eu não sei o que você fez, mas aqueles Orcs estão revirando a floresta atrás de você, então faça alguma coisa agora!

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Olá, eu sou MK Hungria!

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