Selecione o tipo de erro abaixo

Especial de Natal Parte 1: A Véspera

Era irônico e um tanto poético o modo como o clima gelado e triste que se espalhava por Alighieri contrastava com o calor confortável que emanava de cada casa. Era tempo de amor e união, era o momento de carinho, era natal.

Na verdade era a véspera, no entanto os dois momentos sempre se confundem e se tornam um só nas memórias das pessoas.

Em cada casa as famílias se reuniam para ceiar e dividir alegria acompanhando os pratos de comida. Os mais abastados se fartavam com perus recheados, os mais humildes com frangos assados e os dois igualmente contentes.

Uma solitária Mestra da Guilda naquele dia foi intimada a ceiar na grande mansão do Gran Duque ao mesmo tempo que foi convidada para jantar na casa de uma humilde funcionária. Sem nem pensar duas vezes, escolheu a segunda festa. As coisas teriam se desenrolado muito diferente se a escolha houvesse sido outra.

Os terrenos pertencentes ao nobre esnobado pela grande aventureira estavam quase vazios, a maioria dos funcionários se encontravam em suas próprias casas, compartilhando afeto com suas famílias. Não era o caso de todos, afinal, algumas funções específicas não podiam ser facilmente abandonadas.

A governanta continuaria na mansão junto do secretário do Gran Duque e alguns outros funcionários de menor importância, no entanto em funções vitais.

Tais como aqueles que Caxias chamava de Tios Folgados. Os dois estavam sentados na calçada de seu habitual ponto de trabalho, estavam cercados pela escuridão da noite, iluminados apenas pelas lamparinas penduradas em cima de suas cabeças e ao longo do muro que cercava a propriedade luxuosa.

Embora não pudessem comemorar as festividades com suas famílias, os dois amigos tinham um ao outro para fazer companhia naquela noite especial. Trocaram presentes e palavras de consideração, promessas sobre um novo ano muito mais divertido para os dois.

Infelizmente não haveria um próximo ano para aqueles amigos. Primeiro começaram a tossir, uma tosse cuja intensidade aumentou progressivamente se tornando cada vez mais terrível. Sangue voou de suas bocas escancaradas e se derramou pela calçada enquanto os dois homens agarravam os próprios peitos, desesperados pela súbita falta de ar. A cor já havia desaparecido quando seus corpos tombaram mortos sobre o piso frio.

Como um consolo, suas famílias não teriam o natal estragado, só saberiam do ocorrido no dia vinte e seis.

Da escuridão daquela cena fúnebre, dois seres surgiram, vindo das sombras e caminhando para o portão iluminado. Os sons de salto alto e botas ecoando conforme cada passo era dado. O hobgoblin parou por um momento observando os cadáveres no chão, as capacidades da Bruxa do Pantano sempre eram impressionantes.

“Então, não querendo ser de alguma forma repetitivo ou insistente nesse meu pessimismo, não vejo como isso pode acabar em um cenário benéfico a nós dois.”

“Relaxa, nós atraímos o velho, matamos ele, voltamos pra minha casa e ceiamos um peru que assei. É uma tarefa de no máximo quinze minutos.” A mulher falou tentando não perder a paciência com seu parceiro que já havia reiterado ser contra o plano mais vezes do que ela se importava contar.

“Certo, eu vou confiar em você. No entanto, esclareça-me a razão de ser eu quem usa, isso.” E com a última palavra abriu as mãos apontando para a vestimenta que cobria seu corpo.

Era um tanto quanto incomum, embora muito de acordo com o tema. O hobgoblin usava um vestido vermelho curto que mal chegava a cobrir suas coxas, com certeza ao seu curvar poderia ver sua sunga. Suas pernas estavam cobertas por longas meias pretas que terminavam em dois saltos negros. Sobre o vestido usava um casaco natalina vermelho também curto que não serviria muito para o proteger do frio. Tanto na barra do vestido quanto nas bordas do casaco havia um caminho fofo de algodão branco. Todo esse visual era completado por um gorro natalino no topo da cabeça verde.

“Eu só tinha duas fantasias de natal e eu não iria vestir essa roupa estúpida de Mamãe Noel sexy, é vergonhoso.” A mulher respondeu cruzando os braços.

“E quanto a mim, você não vê problema em ser eu quem usa, isso não é falta de empatia?”

“Você viveu a maior parte da vida pelado, você não sente vergonha.” 

O monstro pareceu ponderar sobre aquela afirmação, mas de fato, não parecia existir alguma roupa que ele jamais iria usar. Se vestir era algo estranho e desimportante para alguém que como ele viveu a maior parte da vida sem entender o conceito.

“Realmente, não vejo um cenário onde eu possa sentir isso.”

“Podemos ir agora? Mamãe Noel?” A última parte foi pela graça, um pouco de deboche para trazer humor a noite.

“Claro, Papai.” O hobgoblin revirou os olhos, achava até mais estranho a sua amiga estar vestida de Papai Noel do que se estivesse usando a roupa dele. “Mas antes, faça aquele penteado que você fez no meu cabelo, vai atrapalhar menos.”

“O rabo de cavalo? Você deve cortar logo essa coisa, já chega na sua bunda.” Falou enquanto caminhava para realizar a ação pedida.

Uma dupla natalina muito incomum e sem nenhum presente em mãos. Quem sabe que tipo de tramóia era pensada por suas mentes malignas? Que tipo de trama vil eles pretendiam estrelar naquela noite tão única? Talvez até quisessem roubar o natal!

Alheio à ameaça que recaia silenciosamente sobre a véspera, dentro da grande mansão, o jovem Caxias era guiado pela governanta do edifício até a sala especial de jantares comemorativos. A mente da senhora ainda não conseguia compreender como a nobre e elegante Lady Tundria havia convidado um ser de tão baixa estirpe para passar o natal ao lado dela. 

O garoto havia claramente feito o seu melhor para parecer apresentável e esse melhor não era impressionante. Uma calça nova, mas obviamente barata e uma camisa branca antiga que a mãe passou o dia inteiro engomando para ficar apresentável. Sapatos de couro que foram emprestados por um primo e um cachecol dado pelo pai. O menino não estava nem perto de ficar tão bonito quanto imaginou que monte estaria, nem mesmo era isso que o preocupava. A questão que martelava repetidas vezes em sua cabeça era apenas uma, ela gostaria do presente que ele estava levando em seu bolso?

Seus pensamentos se silenciaram quando chegou ao cômodo que era seu destino. Não foi a decoração rica que o impressionou ou a árvore que subia até o teto, tampouco as dezenas de caixas de brinquedos embrulhadas que se espalhavam debaixo desta. O que o deixou sem fôlego foi como sua amiga estava incrível.

 Era um vestido vermelho cheio de babados e com uma saia fofa recheada de faixas. Aquela roupa devia valer mais do que todas as casas do bairro em que o garoto morava. Os cachos dourados da garota caiam por sobre sua face corada e emolduravam seu sorriso brilhante.

“Você veio.” Saindo da mesa e correndo até o garoto, ela o deu um abraço.

Sua governanta quase disse algo sobre o quão impróprio era alguém de seu nível tocar numa criatura de tão baixa importância, mas se segurou, iria ignorar isso naquele dia, afinal era natal.

“É claro que eu viria, cê me chamou.” Ele disse retribuindo o abraço.

Logo a menina se separou dele abruptamente como se recordasse algo importante e falou quase gritando:

“Espera aqui que eu vou pegar seu presente!” 

Como podia ser tão esquecida e desatenta? O presente dele havia ficado em seu quarto no andar superior. Sem pensar em mais nada, ela correu pelo corredor indo em direção às escadas. Ignorou os protestos de sua governanta que falou uma besteira sobre educação e etiqueta. O presente era mais importante.

Aquela noite deveria ser perfeita. Aidê se sentia solitária. Mesmo sendo por um dentro uma mulher adulta, seu corpo infantil desejava os mesmos que as outras crianças e entre esses desejos estavam o afeto e companhia. A jovem não tinha crianças por perto, apenas empregados. Ainda não havia conhecido o próprio pai, que aparentemente estava em alguma missão importante.

Tudo que tinha era o seu amigo e garantiria que ele tivesse a melhor noite de natal de todas.

Era esse seu único pensamento quando chegou ao seu quarto e encontrou o presente em sua cama. Quando estava prestes a sair, foi parada por um som. Um pequeno clique de algo metálico pequeno se movendo. O som vinha da janela.

A garota olhou naquela direção, era difícil dizer que havia do lado de fora uma vez que o frio cobria a janela com neve. Com passos lentos a garota se aproximou do vidro e ao chegar perto notou algo errado, estava aberta.

Tinha certeza de que tudo na casa era trancado ao cair da noite. A Lady chegou a abrir ainda mais para olhar do lado de fora e não viu nada lá. Dando de ombros trancou a janela e se virou para retornar todo o caminho.

Nesse momento sentiu uma calda se enrolar em seu corpo e cobrir sua boca.

“Ho ho ho.” Disse uma estranha mamãe Noel de pele verde.

A última coisa que Aidê viu antes de cair na inconsciência.

Picture of Olá, eu sou MK Hungria!

Olá, eu sou MK Hungria!

A parte 2 vem amanha se tudo der certo, provavelmente vão ser três partes, mas o numero pode vir a mudar.

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥