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Especial de Natal Parte 2: O sequestro

Quando a criança chegou a um estado de semiconsciência, seu primeiro sentido a despertar foi o olfato. Os cheiros de morte e abandono invadiram suas narinas e a sensação se enraizou na sua mente.

Ela nunca havia chegado perto de um cadáver, mas pelas memórias da vida passada sabia reconhecer o odor de ossos e de carne podre além da poeira que se espalhava pelo ar. Mesmo sem abrir os olhos, sabia que o lugar em que estava era antigo e foi palco de muitas batalhas.

Quando plenamente consciente, se permitiu olhar esse ambiente desconhecido. Sua primeira visão foi uma grande entrada, um arco com inscrições em outro idioma, aberto, dando visão a uma floresta ao longe. Pela abertura a nobre era capaz de dizer que estava em algum lugar alto e cercado por selva.

A jovem estava deitada de barriga para o chão e ao olhar na direção deste sentiu enjôo. Não era uma especialista de qualquer tipo no assunto e não precisava ser para identificar aquelas manchas secas e sujas no piso de pedra antiga. Sangue foi derramado ali, talvez apenas algumas horas atrás, era impossível dizer e essa dúvida a fazia sentir frio na barriga. O clima não melhorava a situação e só produzia o efeito contrário.

Agora que estava fora das paredes quentes de sua residência, podia sentir os beijos gelados do vento que atravessavam sua carne e tocavam em seus ossos.

Aidê se ergueu abraçando a si mesma, tentando provocar em seu corpo uma sensação de aconchego que estava distante. As paredes ao seu redor eram cinzas e distantes, escondidas na escuridão. O único lugar onde poderia se apoiar era o pilar próximo, uma das muitas colunas de rocha que mantinham o lugar em pé.

Uma delas não estava muito distante e a jovem se arrastou até ela sujando todo o seu nobre vestido. Usando a pedra como apoio para as costas, se sentou tentando ignorar a dor que afligia sua cabeça agora completamente desperta.

A única iluminação do ambiente sinistro era aquela da lua, um brilho distante e chamativo oriundo de um firmamento impossível de alcançar. Pela primeira vez pensou na lua como um farol, era uma idéia estranha porque sabia que o astro não possuía luz própria. Todavia, agora que estava afundando em um mar de escuridão, se sentia um náufrago que era levado pelas ondas do oceano para distante do brilho em terra. 

Aquele globo no céu estava sendo muito mais brilhante do que ela lembrava. Ocorreu a Dália o pensamento que nos tempos antigos, antes do homem poluir a terra, a lua devia clarear mais a terra iluminando as trevas. Entretanto, o astro noturno daquele mundo só podia ser mais brilhante que o de sua antiga vida, talvez nem houvesse diferença entre eles e ela só estava imaginando.

 Aquela claridade noturna entrava no ambiente pela grande entrada, mas ao olhar para o outro lado notou que também vinha luz de um buraco no teto, um feixe claro que iluminava um ponto específico.

O lugar em que “ele” estava.

Um trono de pedra cercado por ossadas velhas e novas, além de diversas armas de diferentes tipos caídas ao chão. O primeiro pensamento ao vê-lo lá sentado de costas eretas e pernas cruzadas com o ar de um rei foi ‘monstro’.

Uma reação esperada, mas não foi pelos motivos mais óbvios. Não foi a pele verde e grossa que a fez pensar assim, nem os dentes afiados, tampouco as garras à mostra. Foram os olhos, aqueles brilhantes globos amarelos que encararam os azuis dela.

Incêndio e explosões, fúria e sangue é o que ela viu naquele olhar. Desejo, por mais, por tudo, cada centímetro de terra e lasca de ouro. Foi apenas por um momento que enxergou esses sentimentos e por causa deles o pensou como sendo um ‘monstro”. Toda essa intensidade então sumiu, foi enterrada abaixo de sobre uma camada de paciência e educação, curiosidade e diversão, mas a cativa nunca iria esquecer o que viu.

A criatura era estranha, sentava entre a morte e a guerra vestindo uma roupa natalina. Aidê poderia ter rido se não fosse a gravidade de toda aquela situação.

O monstro era até bonito, o que era estranho. A criança já havia visto cabeças de monstros empalhadas em um quarto assustador da mansão e nenhum era tão bonito. Todos eram assustadores ou grotescos, repulsivos em suas mais variadas formas. Ainda assim lá estava, um ser que era classificado da mesma forma que as outras criaturas que viu e ainda assim parecia completamente diferente.

Uma beleza que embora se portasse de forma elegante, exalava força no lugar de qualquer delicadeza. Um rosto e corpo no limite vago do que separava um homem de uma mulher. Dália não duvidava que aquilo pudesse ser os dois.

“Ho ho ho, feliz natal milady.” Foi uma risada lenta acompanhada de um pedido feito por um sorriso pequeno e arrogante.

O tom dele era baixo demais para que ela pudesse descrever, no entanto entendeu cada palavra graças ao silêncio mórbido que os cercava.

“Ele” mostrou duas garras e fez sinal de que a jovem Lady se aproximasse, o que ela obviamente não fez. O monstro mostrou um feição decepcionada como a de uma mãe que não consegue acreditar no que viu um filho fazer. Aidê podia facilmente perceber que era um ato dramático, porém só o podia fazer porque o ator permitia.

“Oh minha doce menina danadinha, eu só quero que venha aqui e diga a mim o que você quer ganhar neste natal. Caso se comporte, posso pedir a meu marido que realize seu inocente desejo.” O tom era carinhoso, amável, traiçoeiro como uma víbora. Quem sabe o que aconteceria caso ela se aproximasse?

“Você precisa ser sempre tão exageradamente dramático?” Uma nova voz disse de algum lugar na escuridão.

Aidê viu sair das sombras o mais estranho papai Noel que ela já teve o desprazer de encontrar. Era uma mulher loira quem usava as vestimentas, porém com uma pele escamosa verde. Olhos amarelos e dentes afiados como… A sua esposa? Aquilo estava sendo muito estranho.

A estranha se aproximou do outro e carregava ao seu lado um estranho cajado. Tudo no objeto gritava MAGIA BABY! Ah como a garota estava ansiosa para finalmente ver magia, diziam que a do seu pai era incrível.

O item nas mãos da desconhecida era um longo cajado de madeira com duas pontas distintas. O lado que agora estava para cima era um metal branco com linhas azuis que se dividia em quatro lâminas opostas, dele até a metade da arma desciam linhas azuis esculpidas.

O lado contrário, aquele que estava no chão, era uma pedra vermelha em formato piramidal que brilhava em meio a escuridão com uma luz infernal. Festa ponta saiam linhas vermelhas que também iam até o centro do item.

Havia um espaço sem nada sobre ele no meio do cajado, um ponto onde as linhas azuis e vermelhas não se encontravam e a estranha tinha o cuidado de segurar apenas nesse lugar.

 “Hum, a criança acordou.” Como uma única pessoa conseguia colocar tanto desprezo em uma única frase de só três palavras?

A mulher continuou andando até chegar ao lado do trono de pedra. Parada em pé, encarou o seu parceiro que respondeu a encarada com um rosto impassível. A loira permaneceu encarando, deixou o cajado apoiado na cadeira apenas para que pudesse cruzar os braços.

A Mamãe Noel apenas deu uns tapinhas leves no seu colo. A estranha olhou para “ele” com sobrancelhas levantadas até que o monstro suspirou e finalmente levantou cedendo o lugar para ela sentar.

Credo, que dois esquisitos.

Agora expulsa de seu lugar, a Mamãe Noel que não era nem mãe e nem Noel sentou no braço do trono para cochichar no ouvido de sua companheira… Ou era companheiro?

“Hu hu hu credo, não!!” O riso da loira ecoou pelo espaço vazio enquanto ela deu um tapa fraco no braço do monstro. “Eu quero deixar ela viva, Anhangá me livre de ter o Gran Duque vindo até essa floresta. As histórias sobre ele são terríveis.”

Aquela criatura de olhos assustadores queria matá-la? 

“O q-que vocês querem d-de mim?!”

“De você?” A ideia parecia o divertir. “De você nada meu anjo, você querida é apenas a isca.”

“Isca? Pro que? O meu pai!?” A única pessoa remotamente importante que passava lá cabeça dela.

“Não, não o seu.” A loira falou cruzando as pernas e colocando dois dedos no seu sorriso enigmático.

Aidê assumiu uma expressão confusa, afinal, quem eles queriam matar na noite de natal?

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Olá, eu sou MK Hungria!

Era pra esse capítulo ter saído ontem, mas eu fiquei sem internet aqui em casa. Não postei mais cedo porque eu estava trabalhando.

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