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Especial de Natal Parte 3: Krampus

O diálogo foi interrompido quando todos os três sentiram um tremor na estrutura. Poeira caiu do teto e com ela lascas de pedra. Algo ou alguém pesado havia caído em cima daquele lugar em que estavam.

A Bruxa olhou para cima como se as ranhuras na pedra velha pudessem contar alguma coisa contanto que permanecesse às olhando, desesperada por alguma informação do que estava lá. O monstro por sua vez inclinou a cabeça para o lado como se desejasse ouvir melhor, sua audição era a mais capacitada do lugar, na verdade todos os seus sentidos eram superiores aos dos que ali estavam.

Aidê se viu cada vez mais ansiosa conforme os segundos se passavam sem que nada acontecesse. A criança encarou a entrada clareada pela lua, certa de que aquilo que pousou no teto iria surgir em meio a noite estrelada. A coisa que aqueles dois queriam matar e que aparentemente só ela podia atrair.

A reptiliana aumentou a força do aperto com o qual segurava seu cajado. Seu sangue já não parecia tão frio como sempre foi (literalmente falando, afinal ela nasceu parte jacaré)  e corria fervendo, sua temperatura aumentando com cada batida de seu coração apreensivo. Era um medo racional, pelas lendas seu inimigo era possuidor de uma velocidade incomparável, provavelmente poderes de cunho temporal, força incomparável e a capacidade de liderar um exército. Seu olhar caiu para a porta daquela construção, assim como a criança à espera do novo personagem daquela história sinistra.

O único que não encarou aquela abertura foi “ele”, sua visão era direcionada ao chão e de pouca importância, todo seu foco estava nos sons que lhe alcançavam. Atento a eles, se levantou de onde estava criando uma pequena curiosidade na sua parceira. Ela o viu caminhar lentamente e olhar para um ponto no teto ao lado direito da sala, então seus olhos vagaram para mais abaixo seguindo um caminho invisível pelas paredes.

“Hob?” Ela o chamou quando tomada por sua curiosidade.

“Ele está descendo pelas escadas laterais, não pretende entrar pelo portal frontal.”

“O que? Por onde ele entraria?”

“Há muitas portas e entradas por aqui, nas escadarias laterais, na base do lugar, existem até redes de túneis submersos e soterrados que não tive a oportunidade de explorar.” O monstro deixou a feição séria e encarou sua companheira com expressão meio duvidosa. “Não faz muito tempo desde que o povo macaco abandonou esse lugar, mas de qualquer forma, o que crê que ele pretende realizar?”

“Eu não sei, ninguém poderia dizer, mentes comuns não conseguem o entender.” Já de pé ela caminhava de um lado ao outro mordendo uma de suas garras. “O que mais ouviu?”

“Apenas o som de cascos.”

“Das renas do trenó?” Seu incessante caminhar cessado para ouvir a resposta.

“Não, o som estava acompanhando os passos dele, sobrepostos, praticamente um só.”

“Não seria possível? Ou seria?” Disse mais para si mesma do que para qualquer um dos outros.

A Bruxa encarou a palma das próprias mãos e refletiu em silêncio. Dada a natureza de sua raça é possível que tenha atraído a criatura que  imaginava ter aparecido, mas ela já não era mais criança, como poderia ter sido colocada em seu rastro.

Sua atenção vagou para Lady Tundria ainda em silêncio em um canto sujo. Talvez o demônio pensasse naquela situação como oportuna para matar uma jovem humana. Era a única possibilidade a passar por sua mente.

“Não é o Noel.”

“Então? Quem mais seria?”

A reptiliana quase gaguejou ao soltar as palavras que entalaram em sua garganta. No entanto, foi com um tom firme e decidido que declarou em voz alta a afirmação que veio a ecoar pelas paredes seculares.

“É o demônio do natal, Krampus.”

O monstro segurou o nariz com dois dedos em pinça e suspirou. Esfregou os olhos e passou a não pelo cabelo angustiado. Em meio a um suspiro carregado de cansado pode-se ouvir ele falar:

“Uma tarefa de no máximo quinze minutos e depois estaríamos comendo um peru.”

“Eu não tinha como saber que ele apareceria!” Se defendeu com um tom alto.

“Quem, afinal, é este a quem chama de Krampus, o demônio do natal?”

Aidê por um momento abriu a boca para falar sobre um filme de terror muito bom que já havia feito sobre essa figura e outros dez absolutamente horrorosos, não no bom sentido. O raciocínio lógico da jovem foi rápido em fazer com que fechasse seus lábios antes de qualquer palavra sair.

Estava até curiosa, foi uma surpresa saber que comemoravam o natal naquele mundo, embora fosse bastante diferente daquele que conhecia. Não havia um Jesus para ter o nascimento celebrado, até mesmo a figura do Papai Noel era diferente. A data era mais um feriado pagão diferente, mas com algumas semelhanças com aquele que ela conhecia. Como seria o Krampus em toda essa situação?

“Durante a noite de hoje, ele invade cada casa das terras dos demônios deixando carvão para os jovens pirralhos.”

“Carvão? Não presentes?” Mesmo que prezasse pela mais alta educação, o hobgoblin não conseguiu se segurar e interrompeu a outra.

“Não, é carvão mesmo. Como forma de punição.” A Bruxa continuou sem se incomodar com a interrupção.

“Mas e as crianças bem comportadas? Ah!” Tundria levou suas mãos à boca quando notou que falou sem pensar.

Nojo foi visto no rosto da Bruxa, o patético filhote de humano havia falado com ela e diferente de seu amigo, a mulher não era tão tolerante ao diálogo com essas infelizes criaturas.

“O carvão é justamente para as bem comportadas.” Explicou de qualquer forma, pois era parte do que ia falar mesmo. “As malcriadas por sua vez, são queimada vivas.”

A nobre sequestrada perdeu toda a cor no rosto com aquela informação. O monstro apenas se mostrou confuso com o funcionamento daquela data.

“Então a tradição consiste no que?”

“Nós decoramos a casa com artefatos que possam afastar o demônio e nos banqueteamos enquanto o humilhamos por sua incapacidade de invadir o lar.” Explicou a Bruxa como se fosse bastante óbvio.

“Curioso, embora eu tenda a preferir por motivos mais materiais as festividades que envolvam o tal Papai Noel.” O assunto havia quase sido encerrado ali, no entanto “ele” de atentou a algo que chamou atenção no discurso da mulher. “Você disse ‘nós’, és um demônio?”

“Sim e não, é um pouco confuso na verdade. Eu não sou um demônio no sentido biológico, mesmo tendo um pouco de sangue demoníaco nas veias.” Ela pensou bem nas palavras a usar, não temia que seu amigo fosse incapaz de compreender, o monstro na verdade tinha uma mente mais capacitada que a dela. Seu problema é que um longo conhecimento pregresso era exigido para aquele tema. “Não dá pra explicar muito, mas da forma mais resumida possível, meu povo foi anexado às Zonas De Lucitaz cerca de uns duzentos anos atrás no governo do antepenúltimo Rei Demônio.”

“Hum, você crê que é a razão pela qual este carvoeiro natalino veio até nós na noite de hoje.” Mesmo sem contar ao monstro, ele já sabia o que ela pensava. “Mas você é uma mulher, não uma criança.”

“Não há nada que o impeça de caçar adultos, mas acredito que na verdade isso é na visão dele uma oportunidade para variar.”

Os dois viraram sua cabeça na direção da jovem assustada, seu rosto já sem cor ficou branco e sua pressão baixou.

“Pensei que mataríamos o Noel hoje.”

“E nós vamos.” Ela afirmou convicta. “Só teremos que adicionar um a nossa lista de natal.”

Aquilo tinha tudo pra dar certo.

Ou não.

Picture of Olá, eu sou MK Hungria!

Olá, eu sou MK Hungria!

Eu sei que os capítulos diários pararam, além de que esse especial já tomou muito tempo das postagens. Era pra ser algo simples e acabar no natal mesmo com três capítulos.

Mas ultimamente tô meio sem tempo, tô fazendo muito trabalho braçal e não me sobra tempo pra escrever, quando sobra eu tô cansado.

O especial acaba em no máximo dois capítulos, me desculpem por estar tomando tanto tempo com ele. Nem sei se vcs estão gostando.

E sobre as postagens diárias, não há previsão pra volta delas.

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